As Faces do amor [Livro 1]

Capítulo 8

[...]

Austin regressara a casa. Rodou a maçaneta da porta de entrada e entrou, deparando-se logo com Zeke, que corria os canais na televisão aleatoriamente.

- Ouvi dizer que adormeceste. - Troçou, mal deu de caras com o irmão.

- Estávamos cansados. Como sabes? - Ergueu uma sobrancelha, admirado pela perspicácia.

- Fui à tua procura. Ao invés de ti, encontrei a loirinha, que me tirou a dúvida.

- Zeke. - Austin juntou-se ao irmão no sofá, roubando-lhe o controlo remoto - Não te excedas demasiado com a Lilian. Tu por vezes consegues exagerar nas abordagens e eu não me parece que ela alinhe nos teus jogos.

- Não te preocupes, sei estabelecer limites. - O moreno tranquilizou-o - Olha lá, o que fizeram em casa das miúdas? Para acabares a dormir...

- Nada demais, o cansaço venceu-nos. - O loiro riu, atirando o corpo para trás.

- O cansaço venceu? Porquê, o serão foi assim tão duro? - Atirou, explicitando o duplo sentido do comentário.

- Parvo. - No mesmo segundo, atirou-lhe uma almofada.

- Se eu recebesse uma recompensa por cada vez que fui intitulado de forma semelhante hoje... - Zeke revirou os olhos, animado - Adiante, já jantaste?

- Não, mas estou esfomeado. E tu?

- Estava à tua espera. Queres ir comer algo?

- Claro, porque não? - Austin entusiasmou-se logo com a ideia. Levantou-se no mesmo instante e agarrou no casaco que outrora arremessou contra a poltrona alta da sala-de-estar. O irmão juntou-se e saíram em direção ao exterior do condomínio.

(...)

Ravenswood prendia as atenções de Lilian no momento em que a irmã se adentrou pelo quarto. Quando a viu, colocou o episódio em pausa.

- Então Bela Adormecida? Onde está o teu príncipe? - A mais nova comentou, rindo.

- Oh, tu viste-nos. - Summer corou com a indireta. Caminhou até à cama onde a loira se deitara e juntou-se a si, cobrindo o corpo com os cobertores amontoados nesta.

- Eu vivo aqui. - Constatou o óbvio - Se queriam privacidade, iam para o teu quarto. Já agora, o que andaram a fazer?

- Hum, nada de relevante. Coisas de amigos! - Enquanto falava, um pequeno sorriso escapou-se-lhe, ao relembrar os momentos que havia passado a sós com Austin.

- "Coisas de amigos", claramente. - Lilian ironizou.

- Qual é o problema? - Summer indagou, fingindo-se despercebida com o rumo da conversa.

- Adoro quando disfarças o assunto.

- Não digas asneiras. - Empurrou-a levemente - O que dizes a um filme? Vou a cozinha atacar o que resta da embalagem de cereais e logo regresso ao quarto.

A irmã anuiu ao plano. Ela abandonou a divisão e dirigiu-se ao andar inferior. Ficara pensativa quanto aos episódios com Austin, de forma a atingir uma conclusão.

"Sinceramente, neste momento nem eu sei ao certo o que somos." Suspirou. Nenhum dos dois tocara nesse ponto, mas algo estava claro: aqueles beijos tiveram significado para ambos, e foram obviamente correspondidos. Além disso, dois amigos não são apenas amigos quando se beijam desta forma e se declaram em seguida. Summer não tinha, nem por sombras, coragem para abordar o loiro sobre isto. Talvez fosse muito cedo, não queria arriscar, afinal só o conhecia há poucos dias. Daria tempo ao tempo, sem criar expectativas.

Acabou por devorar uma sandes e dirigiu-se novamente ao quarto da irmã. Caminhou até à sua mesinha-de-cabeceira e, ao ligar o telemóvel, reparou em duas mensagens a iluminar o ecrã, de Makayla e Austin.

Sorriu abertamente perante o conteúdo destas.

- Alô, Terra chama Summer. - Lilian cutucou-a com o pé, ante o seu hipnotismo com o aparelho.

- Eu estou a ouvir. - Summer fulminou-a com o olhar - De que precisas?

- Talvez, do filme? - Indagou em tom sarcástico, atirando-se para a cama. A mais velha bufou de frustração com o ato.

- Queres escolher tu?

- Não, deixo essa tarefa para ti.

Sem hipótese de resposta, a loira agarrou de imediato no computador e percorreu todo o cardápio de comédias do Netflix em busca de algo que a agradasse suficientemente. Rendeu-se a Top Five, cuja sinopse captou a sua atenção no segundo em que pousou o olhar na mesma.

•••

Um ruído ensurdecedor acordara Summer. Abriu os olhos vagarosamente e apercebeu-se de que ambas tinham adormecido perante o filme que continuava em exibição no computador.

- Amanhã continuamos o serão. - Murmurou para consigo, desligando-o. Regressou à cama e verificou as horas, visto que não colocara despertador. Mal o ecrã iluminou a divisão enegrecida pela noite, um nome saltou-lhe à vista na caixa de mensagens.
Adam?

- Não pode ser. - Sentiu uma aceleração brusca nas batidas do seu coração, perante os milhões de cenários que aquele texto traria.

"Hey, saudades minhas?"

Não foi capaz de transmitir uma reação perante o conteúdo, foi como se uma flecha a tivesse trespassado naquele segundo. Como é que ele tinha sequer coragem? Por muito que a Summer lhe custasse admitir, Adam ainda detinha um poder de mexer consigo, fosse por gesto ou meros, e tal não lhe agradava. Queria esquecê-lo a todo o custo, sentia um ódio tremendo.

Pensou seriamente, por momentos, se haveria de responder ou simplesmente ignorar. Ponderando a situação e tendo em conta que não voltara a falar com ele desde o incidente no bar, a sua raiva acumulada levou-a a contestar.

"É preciso ter lata, otário."

Deu por si a tremer enquanto teclava furiosamente. Havia guardado demasiado rancor durante estes meses, que agora lhe saía disparado pelas lágrimas que escorriam pelo seu rosto, sem que pudesse impedi-las. Levantou-se de rompante e saiu do quarto da irmã.

Sentiu a necessidade de apanhar ar, estava tensa e nervosa. Agarrou no primeiro casaco que pendia no bengaleiro do corredor, guardou as chaves no bolso do mesmo e saiu do apartamento.
Caminhou lentamente pelo gélido e despovoado corredor, até encontrar um pequeno sofá junto à saída de emergência. Encostou-se e deixou derramar as gotas que aguentara dentro de casa.

[...]