Capítulo 10

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[...]

Austin arrastou-se vagarosamente em direção ao chuveiro. A apatia apoderara-se de si e a esperança de estimular o despertar pendia na água gelada matinal. 

Summer, por sua vez, amanheceu arrojada. Tomou um duche rápido e apressou-se nos preparados para o dia que a esperava.

- Até logo! - Berrou desde o hall de entrada, expectando uma resposta proveniente de uma Lilian sonolenta.

- Hum, tem um bom dia. - Uma figura loira com uma expressão enjoada surgiu das escadas, esfregando os olhos.

- Banho gelado cura ressaca. - Sorriu-lhe levemente, antes de bater a porta atrás de si.

Míseros minutos faltavam para as oito da manhã quando clicou no interruptor da campainha de Austin. Instantes depois, foi recebida por uma silhueta loira de ar fatigada.

- Bom dia. - Cumprimentou-a, sorrindo torto.

- Pronto para o teu primeiro dia de aulas? - Summer indagou, mais entusiasmada do que o próprio.

- Sim, acho que sim. Vamos? -  Deu de ombros, não dando muita importância ao assunto - Estou de rastos.

Saíram em direção ao exterior. O curto percurso a pé para a Faculdade foi marcado por conversas aleatórias matutinas.
Ao longe, junto ao portão principal, avistaram um pequeno grupo de jovens, a quem a loira acenou ofegante.

- Bom dia! - Exclamaram num uníssono quase mecânico. Makayla riu com a dupla, estando a par da relação da melhor amiga.

- Hey. Austin, prazer. - Apresentou-se, um pouco à toa com a quantidade de pessoas no grupo de amigos.

- Vou introduzir-te aos meus amigos: Esta é a Makayla, mas todos lhe chamam Mak. - A morena sorriu em correspondência - A ruiva a seu lado é a Daphne.

- O único rapaz, como podes ver, é o Daniel. Gostamos de lhe chamar Dany, apesar das divergências. - Riram - E por fim, a loira agarrada a ele estilo pastilha elástica é a Hannah. Sim, são namorados.

- Summer, ew. - Hannah acenou negativamente, em sinal de repreensão - Tive visões de pastilhas elásticas desnecessárias à tua custa, obrigada.

- Finalmente, testosterona neste grupo. - Daniel riu - Boa sorte.

- Com que então, és o famoso Austin de quem a Summer tanto fala. - Makayla interviu, animada - Um recado: Maltratas a minha melhor amiga e dou-te motivos instantâneos para voltares a San Francisco.

- Mak! - A loira bateu o pé, censurado-a - Calma.

- Ah!? - Os restantes pronunciaram, completamente à toa.

Summer corou no mesmo instante, esquecendo-se do pormenor de que namorava com Austin, e apenas Makayla tinha conhecimento disso.

- Ah, nós namoramos. - O loiro verbalizou-lhe os pensamentos, abraçando-a de lado. Ela anuiu.

- Desta não estava à espera. - Daphne arregalou os olhos, surpreendida com a notícia.

- Quem diria! - Daniel socou-a no braço, em tom de troça - Fico imensamente feliz por vocês.

- E, acima de tudo, paciência com ela. - Makayla murmurou ao ouvido de Austin, seriamente - Garanto que tudo irá compensar.

No mesmo segundo, soou o toque de entrada. O grupo seguiu para o interior das instalações.

- Sala? - Indagou Hannah, como habitualmente.

- D56 - Informou Summer, liderando o trajeto. Austin seguia-a pela mão.

Atravessaram todo o corredor até à respetiva sala, onde entraram. A maioria da turma já se encontrava espalhada pelo auditório.
O professor bateu a porta atrás de si momentos depois, imperando o silêncio a partir de então.

- Bom dia turma. - Um homem barbudo na casa dos cinquenta anos fez soar o seu timbre rígido pelas paredes - Como já outrora vos foi comunicado, temos um novo aluno, Austin Marin. Em nome de toda a comunidade docente e estudantil, sê bem-vindo.

- Muito obrigado. - Ele agradeceu, da última fila do auditório. Todos os olhares se voltaram para si.
Seria um dia extenso.

•••

- O que me dizem a um almoço na baixa? - propôs Daniel, à saída do auditório - Como uma espécie de "Bem-vindo a Seattle" para o Austin.

Todos riram, mas alinharam na ideia. Deslocaram-se a pé até o destino pretendido.

Comeram e passearam durante toda a tarde. Partilharam histórias com Austin, um pouco de si inclusive. A paisagem barulhenta e movimentada de Seattle parecia perder o sentido face à convivência que o grupo gerou em torno de histórias aparentemente banais, que os fizeram recordar momentos caídos no esquecimento e nos abismos da consciência.

(...)

Lilian regressava a casa, reclamando mentalmente pelas dores de cabeça que teimavam em latejar a sua existência.

"Devia ter sido mais prudente." - Resmungou para consigo, abrindo as portas que davam acesso à receção.
A distração fê-la esbarrar frontalmente com um corpo que caminhava a passo de correria.

- Outch. Desculpa. - A loira ergueu a cabeça e para sua surpresa, feliz ou infelizmente, era Zeke.

- A ressaca tem destas coisas, estou certo? - Riu em sinal de provocação - Défice de atenção, por exemplo.

- Quem diria, o sarcasmo voltou. - Revirou os olhos, sem paciência para discutir. A sua cabeça explodiria a qualquer momento.

- Quem te disse que ele foi embora sequer? - Piscou o olho, encarando a sua expressão amolada - És tão virtuosa que nem dás conta.

- Repete lá isso! - Numa tentativa frustrada de levantar o tom de voz, atirou - Hoje não, por favor.

- Enxaquecas? Hum, com a firmeza a que bebias ontem, julguei que tinhas noção dos efeitos colaterais do álcool.

- Tiras-me do sério. - Lilian ignorou o último comentário e voltou-lhe costas na direção oposta, rumo por fim a sua casa.

- Já agora. - Zeke despertou novamente a sua atenção, parado no núcleo da passagem - Estavas linda ontem.

E foi embora, deixando para trás um ser loiro desconexo e às avessas sem condição para contrapor.

(...)

Summer e Austin chegaram, enfim, a casa.

Porém, em mente detinham um destino diferente - o lugar ao qual se renderam na noite anterior, o átrio abandonado do último piso.
Por muito que não houvesse estrelas para contemplar, propagava-lhes uma sensação de calmaria. Relaxaram, finalmente, longe do mundo. A visão da cidade alterava derradeiramente à luz do dia: Seattle era maior, mas a magnitude da sua beleza continuava presente.

- O que achaste do pessoal? - Indagou Summer, brincando com os seus longos cabelos.

- São incríveis, de verdade. - Comentou Austin, genuinamente - Passamos uma tarde sensacional.

- Presumo que tenhas gostado do teu primeiro dia, sendo assim.

- Se gostei? Foi aquém das minhas expetativas. - Austin sorriu de orelha a orelha - Já agora, tens ali uma amiga para a vida.

- Referes-te à Makayla? - A loira interrogou, perante a sua confissão.

Ele anuiu.

- Não a percas, faz-te tão bem. - Passou-se a mão pelos cabelos.

- Tenho plena noção disso. A Makayla foi e tem sido das pessoas que mais me ajudou. Não sei o que faria sem ela por vezes, honestamente.

Fez-se silêncio.
Ambos se remeteram voluntariamente à mudez, ficando solitários nas próprias reflexões; aliados na presença, sós em espírito. Uma aragem fresca começava a fazer-se sentir, sinal de que a noite descia gradualmente. Quando calafrios sucessivos os atingiram, regressaram ao interior, cada um para o conforto do seu lar.

[...]

As Faces do amor [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora