Capítulo 14 (flashback)

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[...]

- A bola, cuidado! - A voz de Lilian ecoou por todo o pátio, despertando a atenção da sua irmã mais velha, cujo foco se prendia a um livro de fantasia adquirido naquela manhã ensolarada.

- Parva. - Summer revidou as órbitas, permanecendo imóvel.

A loira bufou de frustração. Numa corrida monótona alcançou o objeto através do qual procurava manter entretenimento nas horas seguintes. Cessou entretanto o passo junto à porta principal, ocasionalmente entreaberta, de acesso ao hall de entrada, mirando o próprio reflexo pelo espelho suspenso na parede.

No auge dos seus dezasseis anos, possuía um físico conservado e perigosamente invejável - a puberdade fora, de facto, generosa para consigo.
Em plenas férias de Verão, seduzia igualmente pelo desejável moreno louro que nem os raios de sol intensos a inundar o quotidiano de San Diego, num contraste harmonioso com a sua íris cristalina azul-sideral.

- Ei. - Retornou à realidade com a voz da loira, parada atrás de si - O teu telemóvel não pára de vibrar.

- Ups. Desculpa Summer. - Correspondeu com um meio sorriso, observando o ícone do namorado surgir no luminoso ecrã.

- Hum, não. - Declinou a ligação do rapaz, guardando o aparelho no bolso traseiro.

- Está tudo bem entre ti e o James? - Indagou, observando a sua feição aborrecida pela tentativa de contacto do seu companheiro.

- Bom, discutimos. - Deu de ombros, não demonstrando surpresa pela atual zanga - Contudo, nada que não se resolva.

Conhecera James, um rapaz do último ano, durante o período letivo - francamente, jamais lhe passaria pela mente que alguém tão popular e adepto de luxúria colocasse sequer os olhos em si - contudo, juntos acabaram por formar o casal mais célebre e cobiçado de toda a escola.
Não obstante, o romance perfeito pelo qual aguardou insistentemente na adolescência fora finito a seu ver, pois no lapso temporal em que a relação de ambos alcançou a fase rotineira, sentiu o fascínio pelo moreno desvanecer - e vice-versa, refletindo que mal lhe prestava atenção nos recentes dias, ademais da súbita frieza e hostilidade no comportamento originadores de inúmeras inseguranças quanto ao destino de ambos.

(...)

O mês de Agosto convida a serões extraordinários afastados do dia-a-dia rotineiro. Fora essa essência aventureira que levara os pais de Lilian e Summer a viajar até Nova Iorque - para enorme excitação das irmãs, que viram o lar despovoado de adultos e limites racionais.

Ora, como uma boémia madrugada de Sexta-feira jamais corre despercebida, Summer saiu com as suas amigas.
Lilian, por sua vez, remeteu-se à calmaria de casa; apreciava a própria companhia, por mais estranho que tal soasse - afinal, quem não preza por um refúgio mental ocasional na paz de uma habitação vazia?

Adormecera apoiada firmemente numa obra de Maquiavel em cima do sofá, quando um ruído súbito a estimulou.

- Campainha? - Agarrou no telemóvel aos trambolhões, verificando o relógio digital no ecrã principal - Raios, são três da manhã.

Somente ao segundo toque se ergueu. Caminhou vagarosamente rumo à entrada e espreitou. Por entre o orifício da porta, a sua visão logo relevou o rosto de James num primeiro plano.

- O que fazes aqui? - Interrogou, no mesmo instante em que abriu o acesso ao interior.

Imediatamente constatou o óbvio: James estava ligeiramente bêbado. Cambaleou desajeitadamente para a frente, murmurando algo indecifrável; nas suas mãos gélidas segurava uma garrafa vazia, que ela reconheceu como champanhe.

As Faces do amor [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora