Capítulo 15

406 6 6
                                    

[...]

A angústia devolveu Lilian à realidade na manhã seguinte - num sobressalto quase inacreditável, apercebeu-se de que passara por outro pesadelo.

Sacudiu os lençóis - que outrora a confortaram - entre gestos alarmados e sentou-se. Minúsculas lágrimas escorriam pela sua face ensonada que não obtivera sequer azo de repouso - infelizmente, consciencializava-se de que estas insónias seriam recorrentes no futuro.
Subitamente, limpou a réstia de gotas abandonadas nas bochechas rosadas e percorreu a mesinha-de-cabeceira em busca do telemóvel.

- Bolas, são seis da manhã. - Bufou de frustração, permitindo o corpo embater novamente no colchão macio. Contudo, tornou-se impossível adormecer novamente, a adrenalina que acelerava os ritmos cardíacos não o permitia. Após dezenas de círculos e rodopios, deixou que a súbita fuga de sonolência vencesse e levantou-se definitivamente.

- Porque não descomplicamos e me deixas simplesmente dormir sossegada? - Resmungou com o subconsciente atordoado de pensamentos, ao passo que iniciava a rotina matinal coagida.

Rapidamente se desenrascou e desatou a correr escadaria abaixo, rumo à cozinha.
Após um rapidíssimo pequeno-almoço e para seu enorme alívio, recuperou uma energia exorbitante que lhe permitiu emoção suficiente para agarrar nos livros e estudar por algumas horas na bancada da cozinha.

E nesse estado subsistiu por duas horas a fio. Os minutos corriam vagarosamente, o tempo aparentava-se inerte ao futuro - tanto o relógio como a página quarenta do manual de biologia, que perdurava por mais de meia hora exposta no piso mármore.

Imprevistamente, escutou de rompante passadas apressadas em destino ao piso inferior. Conferiu novamente o relógio digital no telemóvel desabrigado junto ao lava-louça - oito em ponto. Ou seja, Summer preparava-se para abandonar a habitação rumo a uma fresca manhã na faculdade.

- Bom dia. - Cumprimentou a irmã mais velha, que pulou de susto com o ato.

- É possível que ainda esteja no intermédio de um sonho, ou estás realmente acordada tão cedo? - Apesar de resmungar interiormente pelo sobressalto anterior, não escondeu a surpresa ao ver Lilian ali.

- Bem, culpa das insónias. - Deu de ombros, apoiando os cotovelos no tampo gélido - De qualquer das formas, não fico minimamente feliz.

- Mas estás bem? - Summer andou até si e cautelosamente pegou no seu rosto pelo queixo, segurando-o com os dedos polegar e indicador- A tua face está tão abatida. Dormiste?

- Hum, nem por isso. - Admitiu-lhe, num pesado suspiro - Pesadelos constantes.

- Porque não ficas por casa? - A loira sugeriu. Afagou os seus cabelos e rapidamente se dirigiu aos armários, agarrando em snacks aleatórios que lhe serviriam para o restante dia.

- Fora de questão. - Ela observava atentamente os movimentos da irmã, sentada de pernas cruzadas no banco - Eu aguento, não te preocupes.

- Se tu o dizes. - Após inúmeras voltas à divisão, parou. Retirou as chaves do bolso e rodou o corpo para a saída - Vou andando, vejo-te logo.

Bateu a porta principal e correu até ao elevador. Ao final do corredor encontrou Austin, serenamente apoiado a um pilar, teclando no telemóvel.

- Por momentos pensei que não virias. - Puxou-a contra si para um leve selo nos lábios.

- Desculpa, desconcentrei-me na conversa com a Lilian. - A loira esclareceu-o - Ou melhor, numa tentiva de a intimar a ficar em casa.

- Aconteceu alguma coisa? - Ele indagou, confuso com o comentário.

As Faces do amor [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora