O sol fazia-se ao meio de sua jornada quando o estalar das batidas da marreta moldava as barras de ferros em lâminas, as faíscas deixavam clarões a cada batida, e fagulhas caíam sobre a pele de Chavleskenzir. Alto, forte, a barba chegando ao início do busto era perigosamente desafiada pelas fagulhas de chamas que a ameaçavam, os olhos azuis como um céu sem nuvens. O calor da forja contrastava com o frio de fora da cabana.
- Pai. - um grito ensurdecedor ecoou por dentro da pequena oficina improvisada nos fundos de um celeiro.
- Pelos deuses Iris, assim você com certeza me matará primeiro que a bebida. - disse o ferreiro com um olhar assustado mas ao mesmo tempo meigo ao ver a garota dos cabelos ruivos pela fresta da porta.
- O almoço já está pronto há séculos, estou para sair em caçada mais uma vez e o senhor ainda não foi comer, se eu tiver que esperar mais meia hora eu juro comer o seu fígado na próxima refeição-. A garota fazia uma expressão falsa de raiva enquanto o pai a observava com um misto de medo e ternura.
- Estou indo, íris. Ah! E eu não quero você se arriscando muito ao sul da floresta, aquele lugar guarda muitos perigos, é antigo e protegido, não se arrisque demais, não precisamos disso.- ela o observou estática por alguns instantes antes ir sumindo da fissura .
- Ande! Ou irá comer sozinho. - Disse a garota enquanto ia se afastando e sumindo pela fresta.
- Pelos antigos... Essa garota é tão zangada quanto a mãe.
A marreta foi jogada ao chão e o projeto de espada jogada dentro d'água, fazendo com que o vapor subisse pelo ar. O suor foi aos poucos esfriando, ainda mais com o ar frio que se formava lá fora, a vila de poucos moradores logo escureceu com as nuvens de chuva que se formavam acima, Chavleskenzir observou o movimento repentino das nuvens com os olhos semicerrados, seus pensamentos logo foram interrompidos quando veio a memória de sua brava filha o chamando para a refeição, indo logo em seguido até sua casa que era colada com a forja.
- Você está cada dia melhor nas caçadas, até que andar com aqueles bagunceiros está lhe rendendo algo-. Disse kenzir interrompendo a batida dos talheres para falar dirigindo os olhos azuis á sua filha que possuía um olho azul da mesma cor do pai mas o outro era verdade, como os da mãe.
-Aqueles baderneiros que são ensinados por mim, sempre que subo o rio os faço me perder de vista, muita gente junta atrapalha nas caçadas, eles deveriam saber disso.-Disse a garota segurando firme um dos talheres como se fosse uma adaga.
- aqueles dois não tem muito com o que se preocupar com o que vão comer, um é filho do açougueiro, a outra, do conde. -Disse kenzir apontando a faca suja de carne para Iris.
- Aquele velho maldito e mão de vaca que Baltazar chama de pai mal quis me dar o que foi realmente justo por aquela caça que levei mais cedo.- Falou íris apontando a faca para seu pai também.
-Bom, meus trabalhos por hoje já foram terminados, você está afim de... - kenzir foi interrompido no mesmo segundo.
-TREINAR? Pensei que nunca mais iria me convidar, seu velho!
*
Passos eram dados por cima das pedras que quase afundavam por completo no rio de água cristalina, estalos de varas de madeira iam rompendo os sons normais da floresta cada vez que se chocavam entre o som dos esforços de íris e as gargalhadas de kenzir.
-Vamos garota! Essas caçadas não estão te fazendo nada bem, está totalmente cansada hoje.- Disse kenzir com um meio sorriso no rosto.
- Cale a boca seu velho!.- disse íris antes de posicionar com velocidade em uma pedra diante do seu pai, jogando o graveto em sua direção como uma flecha, seu pai rapidamente o fez a posição de bloqueio com o graveto empunhado e enquanto focava no graveto indo em sua direção não percebeu íris que rápida como um raio, pulou na direção de sua cintura em um abraço mortal jogando os dois dentro da água do rio.
-Droga!
- Um velho caindo em truques novos...- disse a garota analisando o pai que cuspia um punhado de água.
- Injusto!
- A vida é assim.
- Era só o que faltava, minha filha me ensinando sobre a vida...- disse enquanto tirava o seu olhar da garota e o levava em direção ao céu.
- você está pensativo desde mais cedo. As nuvens dizem alguma coisa?- questionou a garota já sabendo que a resposta era sim.
- o céu assim me lembra a sua mãe... Os cabelos vermelhos dela se contrastavam muito com o céu.- Mas kenzir sabia que não era só isso, a água calma do rio deixava ele deitado nos pensamentos tanto quanto saber que sua filha o estava encarando enquanto pensava.
- Eu lembro dela todos os dias, aquela maldita doença...- Íris contemplou o céu junto do pai por alguns instantes antes de interromper o silêncio mais uma vez.
- As nuvens te falam sobre a profecia não é? Eu também as sinto. - Ela falou com um tom meio melancólico por entender parte do que viria pela frente.
- Obrigado, pai. Eu sei que o senhor sempre deu o melhor de si para nós duas, mesmo sendo um completo idiota.- o contemplar silencioso do céu de kenzir foi interrompido por sua risada cheia de amor.
- Pare de me julgar garot...- a frase foi interrompida com um olhar extremamente sério para sua filha como se estivesse em perigo iminente.
- Pai? O que houve?- disse íris já assustada olhando a expressão de terror de seu pai.
- Os trovões, eles estão chegando, não
ouviu?- logo em seguida uma bolha enorme e fedorenta agitou a agua ao estourar na superfície, e uma gargalhada estridente de kenzir ao ver sua filha com uma cara irada
e sem acreditar no que ele havia acabado de fazer ecoou pelo vale.
- Eu sim-ples-men-te não acredito que você fez isso seu velho!! – gritou íris cheia de ira pela ação de seu pai. E debaixo daquelas risadas e chacoalhes na água a chuva começou a cair naquele
final de tarde.
- Viu só? Valeu a pena não ter ido caçar hoje. -disse kenzir olhando para ela enquanto passava a mão na barba.
- É... valeu sim... mas preciso caçar
amanhã! Não pense que esqueci que
estará completando mais um ciclo daqui uns dias, quero lhe dar um mega presente. -íris agora falava com um certo animo.
-já disse que não precisa disso, sua mãe já me deu o maior de todos. Ande, vamos antes que essa chuva vire uma tempestade.
Os dois saiam da agua enquanto a chuva se precipitava, os trovoes iam se tornando fortes e o vento gelado soprava como se trouxesse o próprio inverno. As plantas balançavam
para lá e para cá tendo em suas folhagens o abrigo para os animais pequenos. Uma rã
observa os dois guerreiros saírem da agua enquanto se guardava sob um tronco a margem do rio, e assim aquela tarde ia embora aos poucos.
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A morte dos deuses
AdventureO mundo um dia esquecido pelo deuses antigos tem de volta seus olhos direcionados aos céus. A profecia se aproxima, mas seria capaz o mundo de resistir a tamanha catástrofe? Os novos e os antigos deuses despertam, a humanidade encontra-se no meio de...