VIII- Armas ao Rei

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Kenzir, trabalhando mais um dia em sua forja, suava entre os estalos que o metal reluzente fazia a cada vez que era atingido pela marreta. O impacto do instrumento moldava o aço em armas poderosas e cada batida parecia ecoar até chegar ao deus ferreiro propositalmente. O trabalho era árduo, mas ele gostava muito do que fazia, aquele seria dia mais um dia comum trabalhando na forja quando, um homem de vestes militares de couro preto com detalhes em verde, acompanhado de soldados adentrou em sua forja.
- Um bom dia, ferreiro!- disse o que adentrava, com o brasão de um carneiro no centro do peito, cabelos pretos curtos e uma barba com três miçangas feitas de osso presas a pequenas tranças que despontavam de seu queixo.
- Bom dia, senhor- respondeu Kenzir interrompendo as batidas e enxugando o suor da testa enquanto observava o homem nos olhos. Ele já reconheceu os trajes assim que os olhou.
- Sou Alefh, capitão de tropa Corintho e ouvi dizer que você seria um dos melhores forjadores de armas do meio norte, estariam certas as línguas?
- Por que não dá uma olhada e constate o senhor mesmo? Venha, vamos tomar um pouco de vinho - falou Kenzir com um sorriso no rosto.
- Agradeço sua hospitalidade, mas não bebo. Pois bem! Vamos dar uma olhada!
Kenzir dirigiu-se até uma porta dentro de sua forja a direita da entrada e a abriu.
- Depois do senhor! - então o homem acenou com a cabeça e adentrou à sala, onde haviam uma série de espadas, machados martelos e arcos divinamente brilhantes em um aço reluzente. Pareciam ter sido forjadas no fogo divino. O homem pegou uma das espadas e a conferiu, minuciosamente, olhando o seu fio duplo e, a cada movimento que fazia com a espada, ela parecia cortar o ar fazendo o mesmo assobiar.
- Eu não mostraria armas normais a compradores... Diferenciados...- Kenzir cruzou os braços. - Em que posso, realmente, lhe servir?- disse Kenzir enquanto olhava para o homem admirado com a qualidade dos instrumentos mortais.
- Como já deve ter percebido, não seria uma encomenda simples, digamos que o clima está esquentando ainda mais com os Vanirianos. - disse Alefh recolocando a espada em seu lugar na parede. 
- E então? - Pediu Kenzir por mais palavras enquanto colocava um pouco de vinho em um copo e o bebia.
- Eu vim até aqui por ouvir relatos da qualidade de suas armas, mas vejo que elas são ainda melhores do que falam. - Alefh falou tirando o olhar das armas e voltando para Kenzir. - logo, mudarei o objetivo pelo qual vim, você meu bom homem, não fornecerá armas ao exército comum, fornecerá armas à guarda real, aos berserkirs e a vossa majestade. - disse o homem em um tom mais baixo.
Kenzir engasgou-se com a bebida e começou a tossir se apoiando na mesa próxima. Alefh soltou uma gargalhada feroz enquanto se aproximava de Kenzir e colocava a mão em seus ombros. Foi possivel notar um sorriso contido de um dos soldados próximo da conversa. - E então? Estamos arranjados? Vou levar já alguns destes itens e lhe encomendarei, por hora, mais 20 espadas, 20 machados e a obra prima de espada que deve ser a de nosso Rei. - dizia o homem enquanto saía a porta e acenava para um dos soldados que aguardava ao lado de fora.
- E... E para quando seria?- Kenzir disse ainda se recuperando.
-Ate o fim de 3 meses, que tal?- enquanto dizia isso, um soldado entra com um saco pequeno em mãos.
- Aqui! Pelas peças de agora e o adiantamento pelas próximas. - Kenzir pegou o saco e o abriu, observando muitas moedas de ouro, quase suficientes para comprar a vila toda a qual morava. Fechou rapidamente o saco e colocou acima da mesa.
- Os pedidos do rei são bem mais que "simples" pedidos do rei para mim.
Alefh olhou para Kenzir com um sorriso e estendeu os braços aguardando o homem retribuir.
- Claro que são, Kenzir! Ele disse que não poderia vir aqui pessoalmente, pois o alvoroço de fato, traria uma atenção ainda maior. - dizia o homem enquanto se desvencilhava de Kenzir se dirigindo até a porta de saída.
- bem, devo ir agora, ao prazo combinado virão aqui buscar as encomendas. Até mais! - Disse o comandante enquanto era seguido por seus guerreiros até os cavalos. Aleph deu um ultimo aceno a Kenzir e foi se afastando aos poucos guiando sua montaria.
Não tardando muito, os militares foram avistados por Iris, que adentrava a vila com uma cesta cheia de ervas e cogumelos. A menina ficou observando os soldados saírem a cavalo e acenou com a cabeça ao comandante, que assim a retribuiu. Assim que passou pelos homens ela correu até a forja segurando com força a cesta.
- E então? - perguntou a menina ofegante ao pai que estava encostado à porta da forja. - Kenzir fez um gesto com o rosto apontando para dentro do recinto, a garota observou o saco com moedas em cima de onde as espadas recém prontas esperavam por se esfriar em seus suportes planos de ferro. Iris empurrou a cesta na barriga do pai para que o mesmo a segurasse enquanto ela ia entrando, Kenzir contraiu o abdômen com a força do impacto.
- Pelos deuses antigos, isso é muito! Não vou precisar caçar por obrigação durante um bom tempo! Mas... pelo que tudo isso. - Perguntou a menina dos cabelos vermelhos e trançados em forma de coroa na cabeça.
- Armas, para o Rei! - Kenzir dizia enquanto fechava a porta da forja.
- Isso é incrível! Finalmente seu trabalho está tendo o reconhecimento que sempre mereceu!- Iris falou enquanto corria para abraçar o pai. Kenzir a abraçou com força e apoiou o queixo na cabeça de Iris, o homem encarava a mesa como se pudesse ver cada farpa de madeira que se eriçava, mais uma vez ele se pegava em pensamentos distantes, Kenzir sabia muito bem o que estava por vir. Coisas grandes que pudessem acabar até mesmo com a Era a qual conheciam. 
Distante dali, o trotar dos cavalos no caminho de pedras ia se tornando cada vez mais longe da vila, Alefh e seu grupo imponentes de soldados iam com certa velocidade em direção às terras do leste, onde fica a cidade de Corintho.
-Roh roh! - Disse Alefh, de forma baixa e calma, para que os cavalos diminuíssem o ritmo assim que avistou uma figura ao longe na estrada. Não pararam, mas se dirigiam mais devagar em direção a figura que ia de encontro a eles em passos lentos, e logo os soldados endireitaram suas posturas nos cavalos.

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