A sensação de liberdade era inebriante.
Em quinze dias de seu nome, aquela era a primeira vez que Afonso sentia-se completamente livre das amarras de ser o príncipe herdeiro de uma potência bélica, por mais aterrorizado que pudesse estar naquele momento. Abriu os olhos devagar, deparando-se com a imensidão azulada do céu à sua frente, roubando o ar de seus pulmões.
Era magnífico.
Desviou o olhar por um instante, deparando-se com olhos vermelho sangue do enorme dragão negro que montava, a fera soltando um urro estrondoso de evidente contentamento, balançando a gigantesca cabeça.
Meu nome é Syrax, humano.
Apesar do medo que corria em suas veias ao ouvi-lo em sua mente, o jovem príncipe sorriu para o animal, que voltou a prestar atenção no caminho que, fazia rasgando os céus, as asas completamente esticadas fazendo com que uma sombra negra cobrisse a extensão de terra por onde passava.
Era libertador.
Afonso segurou-se o melhor que pôde quando o dragão fez um movimento brusco, descendo a toda velocidade em direção ao chão. Fechou os olhos com força, encostando a testa nas escamas grossas do animal, sentindo um baque em seguida. O jovem forçou-se a abri-los, endireitando-se ao perceber que já se encontravam em terra firme, a fera olhando-o como se estivesse se divertindo com o que via.
O príncipe bufou, descendo o mais dignamente que conseguiu por uma das asas, virando-se na direção do animal que deitou a cabeça no chão, ainda o observando. Com calma, o moreno esticou a mão e a pousou entre as narinas, tomando o cuidado para não se arranhar em seus dentes pontiagudos.
O dragão soltou um grunhido, como se estivesse satisfeito.
Porém, um barulho de um galho partido chamou a atenção de ambos, que voltaram seu olhar para a direção do som. Afonso ofegou ao passo que o dragão rosnou com ferocidade, levantando-se e abrindo a boca, os dentes à mostra de modo ameaçador.
O coração do príncipe gelou e, em um suspiro, pôs-se a correr, parando entre a criatura e o menino parado ao lado de uma árvore, sem esboçar outra reação senão pânico, as duas mãos estendidas diante da fera que o olhava intensamente.
― Daor! Não o machuque! Kostilus!
Afonso gritou, descartando de sua mente o fato de que havia acabado de gritar frases em uma língua que não conhecia ou que tivesse ouvido em qualquer outra ocasião. O dragão o observou, rugindo enfurecido quando viu que o intruso se moveu, dando dois passos para trás.
Afonso olhou por cima do ombro, murmurando entre dentes.
― Fique onde está, seu idiota! Qualquer movimento seu e nós dois seremos comidos vivos! Apenas fique quieto, Rodolfo!
O menino engoliu com força enquanto assentia, o que fez com que o irmão voltasse sua atenção para a criatura que encarava a ambos desconfiadamente, as asas abertas como se estivesse se preparando para ir embora.
― Vá embora. Fique seguro, por favor. Vai ficar tudo bem.
Sem mais uma palavra, o dragão negro bateu as asas e voou para longe. Ao ver sua figura se perder no horizonte, Afonso permitiu-se relaxar, os ombros caindo com a respiração pesada. Engoliu o gosto amargo que surgiu em sua boca, virando-se para encarar seu irmão mais novo, que o observava com os olhos e a boca escancarados.
O mais velho aproximou-se, fazendo com que o mais jovem saísse de sua inércia e o encarasse com raiva e uma centelha crescente de traição. O coração do príncipe herdeiro apertou com a visão.
― Rodolfo, eu posso explicar...
O rapaz ergueu a mão, impedindo-o de continuar.
― Não gaste saliva, irmão. Eu o vi nas costas daquela besta. Eu o vi e ouvi falando uma língua estranha, que não pertence a essas terras, que não pertence a nossa família – sua voz soou firme, embora estremecida por seus sentimentos conturbados. ― Não é a mim que terá que dar explicações, Afonso. É ao nosso pai.
Quando Rodolfo deu as costas, o príncipe herdeiro sentiu seus joelhos cederem, indo de encontro ao chão. Usou as mãos para se apoiar, a respiração ofegante enquanto pensava em tudo o que havia acontecido no decorrer daquele dia, que havia começado tão comum quanto todos os outros.
O que eu acabei de fazer?
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The Dragon's Call - Em Revisão.
FanfictionOh, olhos enevoados da montanha abaixo. Tome cuidado, cuide das almas dos meus irmãos. E o céu deveria estar repleto de fogo e de fumaça. Continue vigiando os filhos de Durin. Agora eu vejo o fogo, Dentro das montanhas. Eu vejo o fogo, Queimando as...