Parte III

112 21 14
                                    

Você se preocupa muito.

A voz soou em sua mente e Afonso não precisou abrir os olhos ao ter a luz do sol bloqueada por uma das asas do dragão para saber que Syrax o estava provocando. Permaneceu em sua posição, os braços servindo como apoio para sua cabeça e as pernas despreocupadamente esticadas na grama baixa e macia, um carvalho antigo oferecendo uma sombra perfeita para um descanso merecido após longas horas de voo em busca de alimento.

Pretendia ignorá-lo até que ele se desse por vencido e acabasse por desistir e ir fazer companhia a sua irmã, na cachoeira há poucos metros dali, o som da queda d'água alcançando os ouvidos do jovem e proporcionando uma sensação de calmaria que o fazia se sentir sonolento.

Arregalou os olhos ao sentir o impacto da água fria em seu corpo, levantando-se em um salto e correndo o olhar pelos arredores em busca do autor do ataque. Virou o rosto para a copa das árvores quando o dragão negro que o observava soltou um ruído que muito se parecia com uma gargalhada, agitando as asas molhadas.

Afonso estreitou os olhos, saindo da sombra do carvalho e sentando-se onde os raios de sol brilhavam em abundância.

Dragões são tão egocêntricos.

O moreno murmurou, rindo quando Syrax soltou um rugido ofendido, alçando voo para o topo da cachoeira para ocupar um lugar sobre as pedras, sem olhar para trás.

Desculpe, Syrax.

O animal não se moveu ao bater as asas em protesto, recusando-se a olhar para seu azantys.

Dramático.

O jovem soltou sob a respiração, sentindo um sopro de calor em seus cabelos úmidos, voltando o olhar para a dragão branca sentada sob as patas traseiras e com o pescoço longo curvado, possibilitando que seus olhos azuis safira o encarasse com uma pontada de diversão, a boca levemente arreganhada e baforando calor para secar suas roupas com rapidez.

Kirimvose, Saera.

Ele está com ciúmes, você sabe.

A voz suave da criatura albina ecoou em sua mente, o que fez com que Afonso franzisse o cenho.

Ciúmes? O que?

Saera deitou sua grande cabeça espinhosa sobre as patas dianteiras, os olhos nunca deixando o moreno.

Seu homem.

Afonso piscou como uma coruja com as palavras do dragão, que soltou um ruído frustrado e exasperado, perguntando-se se seu azantys era alguma espécie rara de mittys.

A mulher para quem você escreve.

Entendimento passou por sua mente, arrancando uma risada baixa, balançando a cabeça negativamente. Recostou-se no pescoço do animal, olhando para o céu claro.

Catherine, ela não é meu homem. Ela é uma amiga. Não se preocupe, não vou abandoná-los. Nunca.

Ficaram em silêncio por um momento, o único ruído sendo a respiração de Saera. Afonso permitiu-se fechar novamente os olhos, permanecendo assim até que a dragão enviou o pensamento.

Você também vai querer filhotes.

Um sorriso triste surgiu em seus lábios com aquelas palavras. Mesmo antes de ser expulso de sua casa, o moreno nutria o desejo de ser pai. De ter alguém de seu próprio sangue para passar o legado que construiria, alguém para compartilhar seus ensinamentos e para preparar o melhor que conseguisse para a jornada mais desafiadora de todas, a vida.

The Dragon's Call - Em Revisão.Onde histórias criam vida. Descubra agora