Parte VII

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Catarina suspirou ao se recostar no assento da carruagem, alívio enchendo seu peito ao assistir os muros negros do castelo de Montemor ficando cada vez mais distantes. Pela primeira vez em dias, a princesa permitiu-se relaxar, o cansaço caindo sobre seu corpo como um tsunami.

Olhou para seu pai, que contemplava a paisagem do lado de fora da carruagem. Embora não soubesse exatamente o que ele pensava, a morena poderia dizer que o rei estava profundamente submerso em seus pensamentos. A princesa inclinou-se em sua direção, a mão delicada pousando em seu antebraço, o que acabou por chamar a atenção do mais velho, que ofereceu um sorriso cansado como resposta, em uma tentativa de garantir que tudo ficaria bem.

― O que o preocupa, meu pai?

Augusto suspirou pousando a mão livre sobre a de Catarina.

― Suas palavras ainda rondam minha mente, minha filha. Não acho que Arthur seja tolo para atacar Artena diretamente. Minha preocupação é que ele volte as retaliações diretamente para nós dois, especificamente para mim, assim o caminho estaria livre para que ele possa chegar até você. Porém, não acredito que ele possa fazer algo nesse momento. Estamos indo para casa e, honestamente, sinto-me bastante aliviado por isso.

Apesar da preocupação evidente no rosto da jovem, ela ofereceu um sorriso condescendente.

― Compartilho o sentimento. Aquele castelo não me pareceu acolhedor e é uma escolha estranha para se morar, ainda mais com uma família. A atmosfera do lugar é tão pesada, sombria. Não me senti confortável em nossa estadia, nem mesmo com a rainha Sabine me fazendo companhia.

Augusto balançou a cabeça em concordância e ambos permitiram que um silêncio confortável se instalasse no interior do veículo. Catarina retornou a sua posição, fechando os olhos para permitir que o sono a embalasse.

(...)

Foi acordada com certa brusquidão, o que a fez abrir os olhos repentinamente para se deparar com o rosto apreensivo de Augusto pairando acima do seu quando sentiram o solavanco da carruagem, que parou sem aviso.

O rei se desequilibrou por um momento, apertando levemente os ombros da filha em busca de apoio para se firmar. Catarina chegou a abrir a boca para perguntar a razão por trás de seu comportamento estranho, contudo, suas palavras morreram em sua garganta ao notar o olhar preocupado e ansioso do mais velho

― Algo não está certo.

O rei murmurou ao se afastar, colocando a cabeça para fora pela janela. Ao voltar para sua posição, o homem olhou para a filha.

― Não precisa se aliviar? Sugiro que aproveite a chance que temos, já que há um tronco que bloqueia a estrada. Não tenha pressa minha querida, ficaremos parados por um tempo.

A princesa assentiu com relutância, franzindo o cenho enquanto descia a escada e atravessou a vegetação após dispensar um guarda que fez menção de segui-la, afastando-se o máximo que pôde da comitiva. Mordeu a parte interna da bochecha, perguntando-se qual seria a real intenção de seu pai.

Montemor não fica distante de Artena, não ao ponto de eu precisar me aliviar atrás de uma moita.

Pensou olhando ao redor, percebendo que havia percorrido uma distância que julgava segura. Porém, gritos distantes romperam o silêncio do bosque, o que fez com que um arrepio de medo subisse por sua espinha, fazendo seu corpo estremecer.

Sua respiração tornou-se pesada quando correu de volta à comitiva, parando abruptamente, a mente trabalhando com rapidez enquanto a realização piscou diante de seus olhos, um sentimento há muito não experimentado crescendo em seu peito.

The Dragon's Call - Em Revisão.Onde histórias criam vida. Descubra agora