Seis anos depois.
Catarina suspirou pelo que pareceu ser a milésima vez naquele dia, atraindo o olhar divertido de seu pai que a observava enquanto ela olhava pela janela da carruagem e admirava sem interesse a paisagem do lado de fora.
― Qual a razão para tais suspiros, minha filha? Posso assumir que são graças aos galanteios do futuro rei de Montemor para com você?
Augusto teve que controlar a gargalhada diante do ultraje no rosto da jovem, o horror pintado em seus olhos negros quando os voltou em sua direção.
― Não ouse brincar com esse assunto, pai. Não suporto mais ler as tolices ousadas que ele me escreve. Minhas recusas e declinações parecem surtir o efeito contrário, fazendo-o ganhar ainda mais confiança.
Catarina revirou os olhos, bufando com a risada de seu pai. Após um momento, a princesa estreitou os olhos, analisando atentamente o rosto do mais velho.
― Diga-me que não estamos indo até lá para que possamos firmar um acordo por meio de um casamento.
O rei de Artena suspirou antes de balançar a cabeça negativamente. No entanto, o simples gesto não foi o suficiente para aplacar a desconfiança de sua filha.
Por mais que desejasse, não podia realmente culpá-la. O relacionamento dos dois havia melhorado significativamente em muitos pontos, mas a mancha do passado sempre estaria lá para lembrá-lo de que não deveria tomar uma decisão sem saber de todos os detalhes ou que considerasse todos os cenários possíveis a serem desenvolvidos e suas consequências.
Para dizer o mínimo, toda a situação havia sido desastrosa.
Além disso, havia também a cicatriz no antebraço de Catarina, que partia do pulso até o cotovelo, servindo como um lembrete permanente de seu erro. Sempre que seus olhos iam para o relevo de pele cicatrizado, a raiva e a culpa enchiam seu peito, duelando para assumir o controle e fazer com que seu exército marchasse até Sonciera para ter a cabeça do príncipe Janos em uma bandeja de ouro e suas mãos para que seus cães pudessem se alimentar.
Ninguém mexe com mein Mädchen.
― Não, meine prinzessin. Eu prometo que não é essa a razão para nossa viagem até Montemor.
Seus olhos ainda eram desconfiados, embora a morena acenasse com a cabeça. Sua postura voltou a ser relaxada ao brincar com a fita de seda de sua capa de viagem entre seus dedos.
― Então qual é a razão para irmos até lá?
Augusto suspirou, esfregando o rosto com uma das mãos em uma tentativa de espantar o cansaço. Como poderia explicar para a filha sem que ela achasse que ele havia enlouquecido?
― Por mais que eu deteste deixar a segurança de nossa casa para me aventurar em um reino não aliado, eu possuo informações que são do interesse do rei Arthur. No momento, acredito ser o único detentor de pistas sobre o paradeiro de seu filho mais velho.
Catarina franziu o cenho, genuinamente confusa, optando por ignorar a culpa que comprimia seu peito.
― E por que ele iria querer pistas sobre o paradeiro do príncipe Afonso? Não foi ele mesmo que o expulsou? O rei Arthur é famoso por não voltar atrás em sua palavra.
Por maior que fosse a sua vontade de transmitir tranquilidade para a jovem que o observava, Augusto não podia negar que aquilo também o intrigava. Há seis anos, quando a notícia de que o príncipe herdeiro fora expulso da família Monferrato alcançou os demais reinos da Cália, o rei de Artena temeu as consequências que aquela decisão poderia acarretar no futuro e o precedente que ela abriria.
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The Dragon's Call - Em Revisão.
FanficOh, olhos enevoados da montanha abaixo. Tome cuidado, cuide das almas dos meus irmãos. E o céu deveria estar repleto de fogo e de fumaça. Continue vigiando os filhos de Durin. Agora eu vejo o fogo, Dentro das montanhas. Eu vejo o fogo, Queimando as...