Capítulo Sete

406 19 11
                                    

Hanna

Hanna não acreditara no que Luther havia feito. Ela tentara matá-lo, e ele a salvara. Não tinha se precipitado em ajudá-la, tirando a estrela de seu ferimento. E ela continuara insensível. Sua única pergunta tinha sido se ele tinha comida. E ela estava se sentindo mal por isso. Ela ficara surpresa ao vê-lo, alto, cabelos e olhos castanhos, sobre ela, tentando mantê-la viva. E culpava a surpresa pela falta de emoções. E mesmo depois de tudo que ele fizera, Hanna ainda não conseguia confiar nele.

Ao ver o lago, sua reação foi imediata.

- Água - disseram Luth e Hanna ao mesmo tempo. Ambos correram até o lago, e enfiaram as mãos em forma de concha dentro d'água. Hanna limpou as mãos, ensanguentadas por tentar cobrir o ferimento, e o corte lateral. Luther bebeu da água e depois enchou sua garrafa. Hanna olhou para ele enquanto guardava suas coisas e mergulhava seus pés na água. Hanna sentiu-se enojada, mas não deixou transparecer, e em vez disso só olhou para a água com pena. Ela finalmente levantou-se, e olhou ao redor, contemplando a planície amarela banhada por raios de Sol, tentando enxergar além do horizonte. Foi quando os canhões começaram a explodir pelo céu. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes. Agora eles eram dezessete. Um deles foi culpa minha, pensou ela, com um certo mal-estar no peito. Foram menos mortos do que Hanna acreditava que seriam. Mas ela não ligava. Sairia daqui de um jeito ou de outro. Hanna grudou os olhos no horizonte, sem pensar em nada especial. Depois voltou a sentar-se, quando suas pernas cansaram de sustentar seu peso, e percebeu que o olhar de Luther estava focado nela. Com um certo incômodo, Hanna devolveu o olhar. Penetrou sua pupila, querendo ver dentro dele. Luther não suportou o olhar e desviou os olhos para a floresta que tinham acabado de sair, mas ela continuou observando-o. Ele refletia em silêncio, enquanto o Sol queimava-lhe o rosto, e Hanna queria poder entrar dentro de seu cérebro para pensar junto com ele. Até que ela sentiu o líquido quente escorrer, e olhou para as próprias costelas. Ela impediu que o sangue continuasse escorrendo, bloqueando sua passagem com a mão, e tentou limpar o corte com a água. Mas não importava quantas vezes tentasse, não adiantava fazer nada. Não curaria o ferimento com água.

- Calma. Você conseguiu apanhar alguma coisa, além do arco e da aljava? - perguntou Luther, sábio aos olhos de Hanna.

- Consegui uma mochila. Mas ela parece vazia. Ainda não pude verificar. Ah, e uma faca também - respondeu brandindo a faca que tirara da calça.

- Ótimo, deixa eu ver.

Hanna jogou a mochila laranja no colo de Luther e embainhou a faca. Ele forçou o zíper a abrir, e olhou seu interior. Parecia vazio, pela expressão em seu rosto. Ele checou a parte da frente, e folhas rolaram para fora. Ele revirou o bolso para achar mais folhas, terra, e lá no fundo, gaze.

- Toma. Enrola envolta do corpo, deve ajudar.

Hanna segurou o rolo branco, e olhou relutante. Depois de perceber que não havia jeito de melhorar, ela desenrolou a gaze e obedeceu Luther, dando uma volta completa em seu tórax. Ela fechou os olhos, e deixou seu corpo pesar, deitando-se na grama ao redor do lago; sentindo a brisa bater em seu rosto, mergulhou os pés no lago também. Ela cruzou o braço direito na frente dos olhos, cobrindo-os e impedindo a entrada de luz solar.

- Ainda não sei se devo confiar em você - disse Hanna, as palavras escapando pela sua boca.

- E por quê não confiaria? - retrucou Luther, olhando para ela, formando uma ruga entre seus olhos, demonstrando dúvida.

- Somos 17 idiotas presos dentro de uma Arena idiota onde só um sobrevive. Quer mais motivos para duvidar de você? - declarou se erguendo e tirando o braço do rosto para encará-lo, finalmente dizendo tudo que queria falar desde o princípio.

- Eu tirei você de lá - ele apontou para a floresta - enquanto você queria me matar. - isso atingiu Hanna como uma bomba. - Tirei aquela maldita estrela da sua barriga. Achei água. Te dei a gaze. Tem algum motivo pra não confiar? Se eu fosse matar você, já o teria feito.

Luther a destruiu. Ele a ajudara em tudo e ela fora indiferente. Estava sendo extremamente ingrata. E ela decidiu que confiaria nele. Nesse instante, ela teve uma sensação reconfortante de segurança. Mas ela tentou não sentir-se culpada, pois sabia, que se sobrassem apenas os dois na Arena, ele não manteria sua palavra.

63° Jogos Vorazes: SurvivalOnde histórias criam vida. Descubra agora