Capítulo Cinco

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Luther

Ele disparou floresta adentro outra vez, sem pensar em destino algum. Ele escutou mais flechas serem lançadas, mas não ousou olhar para trás para descobrir quem as atirava. Ele só olhou quando escutou o barulho de um corpo leve caindo bruscamente no chão. Uma menina pequena, loira, com as mãos sangrando estava caída no chão barrento da floresta. Luth pensou duas vezes antes de se aproximar, mas quando o fez, foi rápido e cauteloso o bastante para tirar o arco e a flecha da mão dela. Ela tentou se levantar, mas em vez disso grunhiu de dor, e desabou novamente no chão. Luth se apressou em ajudá-la, mesmo não tendo ideia de quem fosse. Quando a levantou, não sei se o que mais lhe chamou atenção foram seus olhos , de um azul intenso, ou o estranho corte perto de suas costelas. Ele a deitou na lama, e observou o ferimento enquanto a menina espumava de raiva. Parecia querer matá-lo com o que estivesse ao alcance, mesmo sem ter condições de se mover. Luth reparou na estrela de metal meio enfiada em seu ferimento, e retirou-a com cuidado ao som dos gritos agonizantes da menina. Seus olhos instantaneamente se acalmaram, e olharam surpresos para Luther. Sua respiração ofegante aos poucos se estabilizou. Ela parecia estranhamente assustada e agradecida, mas com certeza não sabia o que fazer.

- Não precisa agradecer. Acho que somos aliados agora.

Ela assentiu ligeiramente com a cabeça.

- Qual o seu nome, e sua idade? - continuou Luther.

- Hanna. Tenho 16 - a menina falou, assustada.

- Ótimo. Meu nome é Luther, 17. Meu distrito não importa, nem o seu - ele lhe devolveu o arco e a flecha, e lhe estendeu a mão para que se levantasse. - Estamos todos presos aqui e agora somos todos iguais. Vamos - disse, mesmo sabendo que ela vinha do distrito cinco.

Eles começaram a andar pela mata, sem destino. Eles procuravam algo, mesmo sem saber o que era. Tributos, comida, armadilhas. Seus olhos vasculhavam toda a região.

- Então... Tem comida? - perguntou Hanna.

Luth não respondeu. Não sabia se queria responder. No momento em que viu Hanna, Luth sentiu certa compaixão. Gostou dela desde o começo, e não pretendia prejudicá-la. Mas ele ainda não tinha certeza do que ela era capaz. E onde estavam, ele não podia subestimar ninguém.

- Não vai responder? - insistiu Hanna. Luth mateve-se quieto. - Ei, estou falando com você.

- Tenho - desembuchou ele, finalmente decidindo que ia considerar que ela nutria o mesmo pensamento que ele.

- Ah que bom... Estou morrendo de fome - disse a menina, que tropeçou e levou a mão à barriga, cobrindo o corte. Luth virou para auxiliá-la como pôde, segurando-a pelas costelas, impedindo uma queda. Ela gemeu, e se deixou erguer.

- Tudo bem com você? - disse Luther, com a intenção sincera de saber se ela estava com condições de continuar. Ele deixou sua preocupação transparecer pela sua expressão, e Hanna revirou os olhos.

- Estou bem. E cansada de ser vista como um bebê. - ela ajeitou a aljava, enquanto Luther levantava as mãos em sinal de trégua. Ele se virou e continuou sua caminhada, brandindo o facão - agora desembainhado - pelas plantas à sua frente, cortando-as. Isso de algum jeito ajudava-o a dissipar seu incomodo em relação à floresta.

Eles seguiram caminhando, e para o alívio de Luth, a floresta cessou depois de outros vinte minutos de dor sentida por eles ao andar, causada pelos seus ferimentos. As árvores de diferentes cores e tamanhos foram substituídas por uma planície verde, com um grande lago bem no meio.

63° Jogos Vorazes: SurvivalOnde histórias criam vida. Descubra agora