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PRO
FINALLLIRRUU
Boa leitura 🐍
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{Narrado por Camila}
A pior coisa das crises é que elas não podem ser ignoradas.
Não posso simplesmente voltar para a cama, me arrastar para debaixo das cobertas e dormir durante o próximo mês, porque às oito da manhã, apenas uma hora depois que Ami sai, Tia Maria me manda uma mensagem para que eu saiba que tenho que ir até o Camelia conversar com David sobre um trabalho de garçonete.
David é dez anos mais velho do que eu, mas tem um rosto de menino e um sorriso que ajuda a me distrair do impulso pulsante de arrancar todo o meu cabelo e cair chutando e gritando no chão. Já estive no Camelia centenas de vezes, mas observá-lo da perspectiva de uma funcionária é surreal. Ele me mostra meu uniforme, onde o horário está colado na parede da cozinha, como o fluxo de tráfego se move pela cozinha e onde a equipe se reúne para jantar antes do restaurante abrir todas as noites.
Tenho anos de experiência como garçonete – todos nós temos, muitos deles em um dos restaurantes do meu primo David – mas nunca em um lugar tão elegante. Vou ter que usar calça preta e uma camisa branca engomada, com o avental branco simples ao redor da minha cintura. Vou ter que memorizar o menu em constante mudança. Também vou precisar de um treinamento com o sommelier e o chef confeiteiro.
Admito que estou ansiosa por essas duas últimas coisas.
David me apresenta ao resto dos garçons – certificando-se de deixar de fora a parte que sou sua prima mais nova – assim como os chefs, sub-chefes e o barman, que estava fazendo inventário. Meu cérebro está nadando com todos os nomes e informações, por isso fico agradecida quando David se vira e me diz para estar aqui amanhã de noite para a reunião e treinamento da equipe, começando às quatro. Vou acompanhar um garçom chamado Peter, e quando David pisca como se Peter fosse fofo, meu estômago revira porque eu quero estar com meu homem fofo, aquele que me conquistou com sua inteligência e risada e – sim, seus bíceps e clavículas. Mas estou chateada com ele, e talvez ele esteja chateado comigo, e não importa o quanto eu tente, não faço ideia de como isso vai acabar.
David deve ver alguma reação no meu rosto porque ele beija o topo da minha cabeça e diz:
— Estou com você, querida. — e eu quase desmorono em seus braços porque quer seja sorte ou gerações de esforço e atenção construindo isso, eu tenho uma família incrível.
Ainda é meio-dia quando chego em casa, e é deprimente perceber que eu deveria estar no meio do meu segundo dia de trabalho no Hamilton, conhecendo novos colegas e organizando contas. Mas admito que há um pequeno vislumbre no fundo dos meus pensamentos – não é alívio, não exatamente, mas também não é totalmente diferente de alívio. É o fato de que aceitei o que aconteceu – eu errei, fui demitida por causa disso – e que estou realmente bem com isso. Que, graças à minha família, tenho um trabalho que pode me sustentar o tempo que for necessário e, pela primeira vez na minha vida, posso dedicar um tempo para descobrir o que quero fazer.
Assim que terminei minha pós-graduação, fiz um pequeno pós-doutorado e então entrei imediatamente na indústria farmacêutica, trabalhando como elo de ligação entre os cientistas de pesquisa e os médicos. Eu amava poder traduzir a ciência para uma linguagem mais clínica, mas também nunca tive um trabalho que remetesse à alegria. Conversar com Shawn sobre o que ele fazia me fez sentir como Dilbert em comparação, e por que eu deveria passar minha vida inteira fazendo algo que não me deixa em chamas daquela maneira?

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Fake Engagement
FanfictionUma viagem entre pessoas que se odeiam poderia dar certo?