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 Hoje foi sexta-feira. Almocei com os garotos, como de costume, tive aula até as 16h30, como de costume, mas ao invés de voltar para casa, fui estudar um pouco na biblioteca. Jimin voltou sozinho para casa, mas não se importou. Desde a metade do ano escolar, eu criei o hábito de ir para biblioteca após a aula nas quartas e sextas.

Estudei biologia, matemática, física e literatura. Sentia meu olhos cansados e os bocejos começavam a invadir a cabine onde eu estava, então soube que era hora de ir. Já era por volta de 20h quando finalmente cheguei em casa. Entrando pela porta dos fundos, encontrei Sun na cozinha mexendo uma panela. Sorri automaticamente.

— O que está fazendo aí, Sunny? — perguntei me aproximando dela e lhe dando um beijo no topo da cabeça.

— Tteokbokki. — ela disse, fazendo uma careta pelo beijo.

— Hum...o cheiro é bom.. — falei, sentindo meu estômago roncar.

— Se colocar os pratos na mesa eu te deixo comer. — brincou.

Rolei os olhos e ri. Subi até o quarto, deixando minha mochila sobre a cama e voltei para colocar os pratos e talheres na mesa. Logo mais, eu e minha irmã estávamos comendo Tteokbokki, que honestamente, estava muito melhor do que o meu. Ela contou que tinha ganhado uma medalha por ter se mantido entre os três melhores alunos do colégio por todo o semestre. Ela sempre falava dessas conquistas como se não fosse nada demais.

Eu não tinha muito o que lhe contar sobre o meu dia, que tinha sido como qualquer outro, então apenas a ouvi contar histórias e falar sobre as novas bandas que tinha descoberto.

Por volta das 21h30, eu já tinha tomado banho e nós estávamos assistindo televisão, era um daqueles programas de auditório engraçados, em que levam celebridades. Então a porta da frente se abriu e aquela sensação veio à tona. Meu pai entrou pela porta, trazendo sacolas de plástico em uma mão e sua maleta na outra, abrindo um rascunho de sorriso para nós. Na verdade, eu acho que era mais para a Sun do que pra mim.

— Boa noite, papai. — disse ela.

— Boa noite, querida. — ele se aproximou de nós no sofá e lhe beijou na testa, voltando-se para mim em seguida. Por um segundo, ele me olhou nos olhos e eu podia imaginar o que se passava em sua mente. Por fim, ele me deu um tapinha no ombro e eu esbocei um sorriso pacífico — O que comeram hoje?

— Fiz tteokbokki. — ela disse, enquanto eu permanecia encarando a televisão.

— Uau, parece bom. — ele disse, abrindo as panelas sobre o fogão.

Meu pai se serviu e trouxe o prato para sala, juntamente a uma garrafa pequena de cerveja, que ele bebia direto do gargalo. Se sentou na poltrona e comeu enquanto assistia ao programa junto a mim e Sun. Havia uma tensão ali. Sempre havia quando ele estava no mesmo cômodo. Eu me sentia sufocado, como se a presença dele exercesse uma pressão que ia aumentando até ficar insuportável. Eu sabia que eu nunca poderia ser eu mesmo com o meu pai, e sabia também que ele provavelmente nunca conheceria nada sobre mim, porque simplesmente foram assim que as coisas aconteceram conosco. Depois que minha mãe morreu, ele começou a beber e acabava descontando suas frustrações todas em mim. Eu me esforcei para que Sun não passasse por isso, e deixei que todo o peso caísse sobre mim, porque ela merecia ter uma boa relação com o pai e uma vida melhor. Então eu aguentava tudo, por ela. No fim das contas eles tinham uma relação melhor do que eu tinha com ele. E eu ficava feliz por isso.

Ele conversou com minha irmã sobre a escola e tentou ser engraçado contando uma história do trabalho. Depois que mergulhamos num silêncio desconfortável e eu nem sequer conseguia mais prestar atenção no programa de TV, ele se voltou para mim, já tendo terminado de comer.

dad issues; kth + pjm shortficOnde histórias criam vida. Descubra agora