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Eu não me lembro de já ter tido outro momento tão agitado na minha vida quanto este. Eu me sentia tão cansado, não só mental e emocionalmente, mas até mesmo o meu corpo estava abatido. O fardo sobre os meus ombros parecia se tornar cada vez mais pesado. Para mim, a sensação era como se eu estivesse vivendo umas cinco vidas ao mesmo tempo, no mesmo corpo. Não tenho a memória de já ter estado tão sobrecarregado. Por muito tempo, eu estive isolado no meu próprio mundo, mas de repente, era como se eu tivesse sido atirado para fora da redoma, totalmente desamparado. Era assim que eu me sentia.

Eu acordei tarde no dia seguinte. Era mais um daqueles dias em que eu permanecia encarando o teto por minutos antes de me levantar. Mas por incrível que pareça, minha mente estava quieta. Eu não estava ansioso ou preocupado. Àquele ponto, eu acho que já nem me importava mais. Quando finalmente desci até a cozinha para beber um copo d'água, Sun estava lá, sorridente, comendo seu cereal matinal. Decidi me sentar com ela e comer também. Ela estava tagarela como sempre, como se nada tivesse acontecido, e isso me deixava um pouco menos pior.

— Ei... — ela disse e eu ergui meus olhos até ela — Você está bem?

Eu assenti com a cabeça, mas pelo olhar no seu rosto, ela não tinha se convencido. Ela me lembrava a mamãe às vezes.

— Você está estranho há semanas. — falou com um olhar sério, parecendo uma adulta.

Eu escorei minhas costas na cadeira e suspirei.

— Só estou cansado, Sunny. — falei — Tenho muita coisa para estudar até o vestibular.

Ela apertou os olhos e nós ficamos em silêncio por um tempo. Eu voltei a comer e ela também.

— Sabe que não foi culpa sua, não sabe? — ela perguntou e de repente me lembrei de que meu coração ainda estava ali quando ele se apertou.

Eu respirei fundo e abaixei meus olhos pra tigela de cereal.

— Sabe que você é muito mais a minha família do que o papai, não é?

— Sun, não diga isso...

— Mas é verdade. — ela insistiu — Você me mandou ir pro quarto, mas fiquei ouvindo as coisas que ele disse pra você e nada daquilo é verdade. Você sempre está aqui comigo, sempre cuida de mim, mesmo que eu já tenha treze anos e saiba muito bem me virar sozinha. — ela fez uma careta e eu ri baixinho — E enquanto isso, ele passa o dia inteiro fora e quando chega em casa está sempre bêbado... Não é justo que ele trate você assim. Não acredite nas coisas que ele fala, ok?

Eu cocei minha nuca e olhei pra ela. Honestamente, eu a amava mais do que qualquer coisa no mundo. Pra mim, Sun era como a lembrança das melhores características da minha mãe. O relacionamento ruim que eu tinha com o meu pai não era nada, porque eu tinha uma irmã como ela. Ela fazia tudo aquilo ser suportável.

— Ok. — sorri, sentindo uma pequena vontade de chorar depois de me lembrar da mamãe — Obrigado.

— Vai sair para estudar na biblioteca hoje? — ela perguntou, voltando a comer.

— Acho que sim. Por que?

— Preciso de uma carona até a casa da MiYeon. — ela disse, juntando as mãos e piscando os olhos — Por favor.

Eu semicerrei os olhos. Ela me explicou que elas estavam planejando assistir um filme que tinha sido lançado recentemente estrelando um ator de quem gostavam. Contou que estavam animadas porque a mãe da MiYeon nunca economizava em termos de comida e guloseimas quando se reuniam na sua casa. Eu concordei em levá-la, antes de ir para a biblioteca.

Depois de tomarmos o café, nos arrumamos e eu deixei Sun na casa da amiga, pedindo que me avisasse quando fosse para buscá-la.

Fui para a biblioteca e me sentei novamente em uma das cabines individuais. Naquele dia, o meu foco eram as ciências humanas. Comecei abrindo o livro de história, lendo e anotando as partes mais importantes da matéria. Assim, eu passei boa parte do dia.

dad issues; kth + pjm shortficOnde histórias criam vida. Descubra agora