Assumindo a culpa

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               Quando Martim retornou, foi bombardeado de perguntas. Respirou fundo, e, após se sentar numa poltrona, começou a contar parte da estória - sem mencionar os detalhes sórdidos. A turma ouviu em silencio.

             "Deixe-me entender, Martin. Vocês estavam nadando juntos. Você, como lula e Chris como um cachalote. Então você resolveu brincar com ele, fingindo ser uma lula gigante caçando um filhote de cachalote. No fim, você desativou o traje de Chris e o dominou com seus tentáculos. E Chris se debateu tanto que acabou desmaiando..." – recapitulou Aviva, se levantando de sua cadeira.

              "Exato! Quando ele desmaiou, eu desativei imediatamente e o larguei no chão. Então fui pegar o kit de primeiros socorros. Porém, antes que eu voltasse, atendi a sua ligação avisando que estavam voltando e que precisavam de ajuda para descarregar. Assim que voltei para junto dele, ele não estava mais lá! Ia procurar ele, mas vi que estava no banho... então fui receber vocês, esperando falar com ele depois, com calma, para me desculpar. Mas você disse que ele estava febril e era melhor deixar quieto. Porém, no dia seguinte, Chris não quis falar comigo. Tentei muitas vezes, mas ele me ignorou! Queria resolver isso logo, antes que acontecesse o que aconteceu..." – Martin tentou se justificar.

             SLAP! O som de um tapa ecoou na sala. Aviva esbofeteou Martin com raiva e gritou com ele: "Covarde! Isso é coisa que se faça, Martin? Essa sua "brincadeira" irresponsável traumatizou seu irmão! Como pôde ser tão estúpido? Agora entendo a febre de Chris – era de cunho emocional!"

              Martin levou a mão ao rosto e baixou a cabeça, envergonhado. "Tem razão, Aviva! Eu mereço!" – murmurou Martin. "Fui um covarde, estúpido e insensível! Eu mereço muito mais... a minha insensatez acabou por magoar a pessoa mais importante da minha vida."

               "Nunca pensei que você seria capaz de fazer uma coisa assim, Martin..." – exclamou Koki, saindo da sala com um olhar de desprezo no rosto.

              Jimmy não falou nada, simplesmente pegou uma pizza da geladeira e foi até a cabine de comando da Tortuga e se trancou lá, deixando Aviva sozinha com Martin.

              Após alguns minutos de silencio sepulcral, Aviva segurou no ombro de Martin e o obrigou a olhar para ela. "Preste atenção, Martin Kratt! Você vai pedir desculpas ao Chris, imediatamente! Nem que tenha que pedir perdão de joelhos... Mas você fará isso, o quanto antes!"

               "É o que mais quero, Aviva! Acredite ou não, é o que mais quero, nesse momento! Mas, Chris não quer falar comigo. Nem consigo chegar perto dele..."

                "Sem desculpas! Você vai fazer isso, assim que Chris voltar para a Tortuga... o mais tardar, amanhã de manhã!" – Aviva exigiu. Respirou fundo e continuou: "Tenho uma idéia! Amanhã, nós vamos sair novamente e passaremos o dia todo fora. Você terá o dia inteiro para se acertar com Chris... Vou falar com Koki e Jimmy e combinar os detalhes!" – falou Aviva, se retirando antes que Martin pudesse retrucar.

           "Mas... Aviva!" – balbuciou nervosamente. "Como farei isso?"

           "Nada de MAS... você terá o dia todo para resolver! Se vira!" – exclamou ela, espiando pela porta aberta.

              Martin ficou parado, boquiaberto com a situação. Ele teria um dia para encontrar, conversar e se desculpar com seu irmão. Do contrário, teria que enfrentar a fúria de Aviva novamente... Tocou a face um pouco dolorida por causa da bofetada. Sabia que merecera, porém, se soubessem de toda a verdade, provavelmente seria estrangulado.

            Suspirou e foi para seu quarto tentar dormir um pouco. Tinha um grande problema para resolver e precisava estar descansado para tanto. Se bem que duvidava que conseguisse dormir com os pensamentos a mil. Amanhã seria um longo dia, pensou ele ao se deitar.

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