Hora da verdade

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             Martin estava escondido, aguardando a sua oportunidade. Cedo ou tarde, Chris viria para o depósito. Principalmente, com a mensagem da tempestade, teria que verificar se estava tudo em ordem. Esperava que não demorasse muito, pois a equipe estava voltando e era sua última oportunidade para tentar falar com Chris.

            Não estava disposto a encarar a fúria da Aviva de novo, ou os olhares de censura dos outros. Sorriu ao lembrar-se da bofetada. Doeu, é verdade! Mas era impressionante como Aviva podia ter a mão pesada. Não era típico de ela agir assim, aliás, não se lembrava de vê-la tão furiosa – nem mesmo com Zach Varmitech! E aquele inventor pálido era de acabar com a paciência de qualquer santo!

              Afastando os pensamentos, antes que se distraísse demais, Martin se encolheu ao perceber que Chris entrara no depósito, provavelmente para uma checada rápida. Era a chance que aguardava. Felizmente, ele não percebera e quando passou perto de seu esconderijo, Martin esperou que se afastasse um pouco. Não queria machucar Chris, mas teria que ser um pouco firme se quisesse fazer com que o escutasse.

             Um movimento rápido, e Martin saltou sobre Chris, derrubando-o. Ambos se engalfinharam, rolando pelo chão do depósito. Por ser maior, Martin conseguiu dominar Chris, prendendo seus pulsos e sentando sobre sua barriga. Chris ainda se debatia, tentando se soltar. Seus olhos castanhos estavam nitidamente assustados e ele ofegava como se estivesse se afogando. O pânico o dominava, impedindo-o de raciocinar com calma.

                Martin não fez nenhum movimento, limitando a deixar de Chris se acalmasse. Ele sabia que, nesse momento, não adiantaria falar nada. Logo, as lagrimas começaram a brotar de seus olhos e Martin sentiu um aperto no coração. Seu irmãozinho estava chorando novamente e Martin era o causador disso.

             Sem aguentar a cena dolorosa, Martin puxou Chris contra seu peito, sem soltar seus pulsos e o abraçou com força. Chris chorou contra seu peito até que se acalmou. Com cuidado, Martin o fez deitar novamente e procurou ser o menos ameaçador possível. Chris fechou os olhos e virou o rosto com medo. Nem percebeu quando Martin soltou seus pulsos e saiu de cima dele.

             "Shhh... calma, Chris! Está tudo bem! Não tenha medo, não quero te machucar... shhh!" – sussurrou Martin, acariciando seu rosto com delicadeza.

            Passando os polegares pelas bochechas, ele enxugou as lágrimas que escorriam. Depois se inclinou e beijou os lábios de Chris com carinho. Foi um beijo casto e delicado. Como se Chris fosse feito de um cristal frágil que quebraria a qualquer momento.

             Em um momento, Chris sentiu um pavor incontrolável tomar conta de sua mente e no outro sentiu uma mão acariciando seu rosto e uma voz suave, tentando lhe acalmar. Logo sentiu que algo estava tocando seus lábios - era Martin lhe beijando com carinho. Sempre sonhara e fantasiara com um momento assim. Logo o beijo se tornou mais exigente e mais profundo e uma língua ousada penetrou em sua boca para explorá-la. 

               Chris abriu os olhos, quando o beijo terminou e viu que Martin o fitava com lágrimas nos olhos. Um sorriso triste em seu rosto e um rubor pintando sua face. Segurando as mãos de Chris, Martin sussurrou:

            "Perdoe-me, Chris... é só o que peço! Eu fui um monstro e te machuquei. Eu te amo, Chris! Amo-te mais que um irmão. Perdão por não ter sido gentil com você! Não queria te machucar, mas machuquei... sei que parti seu coração e pisei em seus sentimentos. Peço perdão até de joelhos, se precisar!"

              "Martin?" – balbuciou Chris, surpreso com a confissão.

             "Sei que precisa de um tempo... vou dar o tempo que precisar! Eu espero! Por enquanto, fique com isso..." – disse Martin, colocando algo em suas mãos antes de se levantar e sair, deixando Chris sozinho.

               Chris observou Martin sair, sem entender direito o que acontecera. Ao abrir os dedos, viu que era um disco de poder de lula gigante. Martin lhe dera o seu disco de lula como sinal de arrependimento ou de sinceridade. Tocando seus lábios, Chris estava confuso. Martin o beijara, mas será que não estava zangado com ele também? Precisava pensar sobre isso... Voltaria para seu quarto e pensaria a esse respeito. Amanhã, com os nervos mais tranquilos, talvez pudesse conversar novamente com Martin.

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