- Você não tinha esse direito! - minha mãe berrou para Dylan.
- Com todo respeito dona Beth, a senhora subestima a Vênus demais. - meu amigo respondeu e mesmo com a voz abafada no telefone pude notar o seu tom firme.
As vozes preocupadas dos meus pais, de Ana, João e Dylan em ligação eram apenas um zumbido nos meus ouvidos.
Eu estava apoiada no balcão da cozinha, olhando para o nada e tentando entender o motivo de todo alvoroço enquanto eles certamente discutiam por onde deveriam começar.
Não sei ao certo quanto tempo se passou até eu ligar para meus pais e pedir para que eles voltassem para a casa porque precisávamos conversar. Ana chegou um pouco antes deles, acompanhada de João e os dois me encaravam como se eu fosse um ET.
Assim que meus pais chegaram pedi para que ligassem para Dylan e saí da sala com a desculpa que precisava tomar água.
Fiquei ali por algum tempo até meu pai vir falar comigo.
- Está tudo bem? - Meu pai perguntou para mim e eu dei de ombros. - Acho que sua mãe vai matar o Dylan.
Tentei sorrir, mas acho que o máximo que consegui foi fazer uma careta.
- É tão ruim assim?
Ele não respondeu, só pediu para que eu voltasse para a sala.
Ana estava sentada no sofá ao lado de João e tinha manchas vermelhas no pescoço, o que indicava que ela estava nervosa e minha mãe estava inquieta na poltrona do meu pai. Ela parecia estar a um triz de surtar.
-Estão todos aqui, acho que já podem começar a me contar a verdade e por que ninguém me contou que eu era noiva. – tentei soar firme, mas acho que soou mais como uma súplica.
- Foi você quem pediu. – meu pai falou enquanto se sentava perto da minha mãe.
- Foi tudo para o seu bem, ninguém aguentava te ver daquele jeito ...- minha mãe falou.
- Foi realmente uma época muito difícil ...- meu pai completou.
- Acho que devemos entregar a carta. – Ana o cortou.
- Carta? Que carta? – perguntei aflita.
- Você acha mesmo que não deixaria uma carta? Você ama cartas explicativas. – Ana me respondeu.
- Não acho que seja uma boa ideia, vamos com calma. - minha mãe falou.
- Eu quero ler a carta, mãe. - falei.
Minha mãe relutou por alguns segundos, mas saiu em direção ao seu quarto e instantes depois voltou com um envelope na mão, ela me entregou e eu não demorei muito para abrir.
Me lembrei do dia do recebi uma carta parecida quando ainda estava no hospital. Uma longa carta com a mesma caligrafia resumindo minha vida e pedindo para confiar nas pessoas que estavam nessa sala, fiquei tranquila, mas agora parecia que toda a tranquilidade tinha ido embora.
Olá eu do futuro!
O que vou te contar nessa carta foi o que tentei esconder de nós e não queria que descobríssemos, mas no fundo, acho que sabia que aconteceria em algum momento.
A verdade é que estou curiosa para saber como aconteceu...
Não vou pedir desculpas porque estou fazendo o que acho melhor para nós e para ele. Não foi fácil decidir e pedir para que as pessoas não contassem quem ele é quando perdêssemos a memória.
VOCÊ ESTÁ LENDO
About time || Shawn Mendes
Fiksi PenggemarViver é descobrir e redescobrir várias coisas. Vênus tinha perdido a memória, entendia muito bem essa frase e tudo que ela sabia de sua vida até os seus 29 anos foi o que a contaram. Déjà-vus, sonhos e fragmentos de memória também entram para a lis...