Um novo ritmo

184 24 14
                                    

CAPÍTULO III

Narrador Onisciente.

Um novo ritmo

Ao nascer do sol Hizashi se encontrava sendo despertado por um homem de cabelos negros e barba rala, mas apesar da contagiante personalidade do loiro seu sono era um dos mais profundos de todos. O homem tentava em vão acordá-lo da maneira mais sutil para não assusta-lo, estava com dó de Yamada e sentindo culpa por estar o despertando, mas teria que fazer este sacrifício para poder abrir a porta de sua pequena floricultura.

Logo Hizashi acordou surpreendido com a figura parada em sua frente. Talvez esperasse uma reação do tipo que estava acostumada saindo de todos os homens que já conheceu em sua vida, o xingando e lhe afugentando, principalmente daquela figura gótica que aparentava não dormir a muito tempo, de roupas, olhos e até mesmo cabelos negros, mas de certa forma, tinha um certo índole atrativo que chamou a atenção do compositor. Certamente era de se admirar a beleza do moreno que trazia uma expressão de desânimo aparente em sua face e seus cabelos longos com uma parte presa em um pequeno coque dava seus últimos acabamentos em seu charme.

— Moço, você poderia sair da porta da minha loja para eu poder abri-la — dialogou o moreno com uma voz desanimadora.

— Am. É. Claro, só me deixe pegar minhas coisas que...

O loiro começou a entrar em pânico quando olhou ao seu lado e não viu sua mala que levara consigo.

— Onde estão minhas coisas? — questionou o cantor assustado.

— Não faço a mínima ideia. Quando eu cheguei você estava apenas com este violão em seu colo.

Apenas faltava isto para piorar a situação de Hizashi, ser roubado. Pelo menos seu amado violão havia permanecido.

Yamada se levantou totalmente desnorteada pela tamanha raiva que agora sentia.

— Quer alguma ajuda? — perguntou o homem ainda com a expressão de desânimo.

Hizashi colocou seu violão nas costas um pouco triste por conta de sua situação. Não havia nada para se fazer, mesmo assim não deixava de se culpar por sua inutilidade. Sem casa, sem roupas, sem ninguém, apenas um violão, talvez a única alternativa seria vendê-lo para poder pagar a passagem de ônibus até a casa de seu pai e desistir da ideia de ser independente.

O loiro saiu de frente a porta e andou até perto da rua dando espaço para o moreno abri-la, porém o homem manteve-se com o olhar fixo ao compositor que estava totalmente perdido em seus pensamentos.

Hizashi estava pensativo e por alguns minutos o silêncio se manteve. Yamada coçou a cabeça e alisou uma pequena mecha de seus cabelos loiros, estava sem ideias, sem alternativa nem uma, apenas com aquele indivíduo parado em sua frente esperando tranquilamente uma resposta de si.

Por um momento o silêncio se foi e o barulho de sua barriga implorando por um café da manhã se propagou, algo que o moreno não deixou despercebido.

— Talvez eu poderia lhe oferecer algo para comer. Eu ainda não tomei café da manhã e estou sozinho, então seria interessante ter um acompanhante. Se não for incomoda-lo — argumentou o floricultor.

Foi isto mesmo que Hizashi acabara de escutar? De todos os homens que já conhecera, aquele era o primeiro em toda sua vida que ao em vez de enxota-lo estava lhe convidando para o café da manhã.

Como recusar tal oferta?

— Seria ótimo. Quer dizer, adoraria acompanhá-lo — respondeu Yamada um pouco desajeitado.

Era estranho o comportamento de Hizashi, ele poderia simplesmente aceitar e logo estariam conversando como velhos amigos, mas desta vez estava com algo de estranho dentro de si que estava o impedindo de agir como o de costume.

Logo o moreno estava abrindo a porta do local. Quando em fim estavam no interior da pequena loja, Yamada que nunca foi um homem que apreciava a fauna e flora estava pela primeira vez encantado com todas aquelas flores e tipos mais variados de plantas, a pequenina floricultura, era na verdade bem extensa. Apesar de ser aparentemente minúscula vista por fora, era um grande jardim. Cada vez que iam se aprofundando pela loja o compositor ficava mais perdido e deslumbrado com todas aquelas cores. O homem tinha talento com que fazia, ao contrário de si que sempre tentou levar a sua vida com a música.

Bem nos fundos da loja havia uma pequena bancada de madeira onde se encontrava um caderno de anotações, um estojo amarelo e por fim o caixa onde o moreno guardava todos os investimentos que conseguia com a loja e ao lado uma porta que provavelmente levava a mais um pequeno cômodo do lugar.

Hizashi nem se deu conta quando chegou ao final de seu espetáculo floral.

— Por favor só me de um minuto para eu poder encontrar a chave que abre a porta da cozinha — especulou o moreno enquanto se dirigiu até atrás da bancada se escondendo totalmente ao se abaixar a procura do objeto dourado.

— Okay... — respondeu Yamada ainda um pouco hipnotizado com todas as plantas.

Não demorou muito para o floricultor encontrar a chave e abrir a porta de madeira.

— Fique a vontade. Vou preparar o café.

O loiro estava perdido, então preferiu admirar por mais alguns instantes os belos girassóis.

A única coisa que Hizashi queria saber era o curioso motivo do porque aquele misterioso homem tê-lo convidado para tomar café da manhã, certamente era estranho alguém tomar tal decisão principalmente por não conhecê-lo, talvez poderia ser um momento de carência para um homem que aparentava não ter ninguém na vida, assim como si, mas nem ele mesmo convidaria alguém que encontrara dormindo na rua para entrar em seu estabelecimento, então poderia ser algo sobre um voto de confiança ou algo do tipo. Talvez sim.

Repentinamente o aroma de café se propagou no ar despertando Yamada de seus pensamentos e o atraindo até o interior da pequena cozinha que era tão simples, mas ainda assim tão bonita.

— Espero que goste de café forte, não sou muito fã do fraco — argumentou o floricultor dando uma caneca de porcelana de cor amarela nas mãos do loiro.

— Ah. Fique tranquilo eu sou do tipo que vai com qualquer coisa — declarou Hizashi soltando sua voz com o velho sorriso brilhante em sua face que a muito tempo não mostrava.

O homem o olhou surpreso, aquilo que ele havia dito soava um tanto estranho aos ouvidos do moreno. Demorou alguns instantes até o compositor perceber o que havia dito e logo sentiu seu rosto esquentar.

— Não, espere, não foi isso que quis dizer. Quer dizer, foi, mas no sentido literal, quer dizer.... Acho melhor eu não dizer mais nada — falou o loiro totalmente embaraçado com sua situação.

E por um instante inesperado Hizashi Yamada viu aquele homem que lhe parecia ser tão mal humorado sorrir e dar uma risada um pouco falhada, acho que era uma das primeiras risadas durante séculos do moreno por isso faltava-lhe prática, porém, mesmo assim, o loiro se deliciou totalmente ao ver que havia conseguido tirar-lhe um sorriso e assim como uma criança que acabará de ganhar um presente de natal Hizashi abriu seu sorriso novamente.

— Qual o seu nome? — perguntou o compositor.

— Shota. Shota Aizawa.

Yamada estava se convencendo de que aquele homem não era rabugento e sim um alguém um pouco mais introvertido do que estava acostumado.

— E você? Como se chama? — questionou o moreno um pouco tímida, logo após beber um gole de seu café.

— Hizashi Yamada, mas pode me chamar de Mic.

Mic foi um apelido dado pelos seus colegas do colégio quando mais novo e depois de grande os mesmo que o acompanhavam nas noites festeiras o chamavam do mesmo apelido, por conta de sua euforia e a personalidade contagiante e principalmente por ser um tanto escandaloso e então o loiro acabou aderindo o apelido consigo, mas já fazia muito tempo que não era chamado assim carinhosamente, para ser mais sincera, Hizashi nunca teve um alguém para chamar de amigo, nunca teve um namoro sério, sempre foi rodeado de pessoas mal pretenciosas e falsas, mas o mais triste é que ele sempre soube disso, porém fingia que não e deixava os outros acharem que estavam o enganando, sempre agindo como bobo tudo para deixar as pessoas ao seu redor felizes e agora que precisava de acolhimento precisava que um estranho o acolhesse, isto era tão humilhante de certa forma. 

Doces Melodias Onde histórias criam vida. Descubra agora