Chá em família

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Finn suspirou, observando o pôr-do-sol a partir da varanda do quarto. Ao longe era possível ver a população revoltada com tochas e forcados fazendo uma passeata em direção ao castelo, sendo contidos pela guarda Xadrez. Uma cena lindíssima de se ver, realmente.

- Príncipe Finn! Príncipe Finn! – Uma voz parecia chamar nos corredores de modo apressado e a porta do quarto foi aberta com força, batendo contra a parede. O Jovem herdeiro albino do reino olhou para trás, encarando o grande coelho branco de quase um metro de altura entrar correndo com um relógio de bolso nas mãos.

- Senhor White? Veio observar os camponeses com tochas e garfos gigantes também?

- Perdão, meu príncipe. Mas do que está falando?

Finn apontou casualmente para o grupo revoltado em proximidade aos portões do palácio, como se fosse algo totalmente normal da decoração exterior.

- Aquilo não são garfos gigantes, são forcados agrícolas. Estão celebrando do dia de carregar tochas e forcados agressivamente.

- Espera. É dia de carregar tochas garfões e ficar revoltado com nada e ninguém me avisou? Que absurdo, é meu feriado favorito desde que eu descobri que ele existe a dois minutos.

- Com todo respeito, majestade, eu não vim para falar de um feriado. Temos um problema grande com a sua mãe ausente, olhe. – O coelho branco se aproximou pulando e mostrou o relógio de bolso para Finn. Parecia apenas um relógio de bolso comum e sem graça, mas, quando o rapaz olhou melhor, notou que o ponteiro de segundos ficava tremendo, pulando pra frente e pra trás.

- Já sei o problema. Você não colocou geleia uva suficiente.

- NÃO SE COLOCA GELEIA DE UVA NO RELOGIO! – O coelho estava com o rosto avermelhado de raiva, só faltava sair fumaça pelas orelhas. Finn recuou, encostando as mãos na sacada da varanda.

- Eu não sou médico de relógios, então se veio me mostrar um relógio que precisa de conserto, não podia se enganar mais.

- Majestade. – O coelho estava bufando. – Meu relógio é o mais preciso do reino. Ele só está assim por que alguém está usando a cronosfera.

- Cronosfera? – Finn coçou o queixo casualmente, observando o coelho. Ele estava até batendo uma das patas no chão. Muito fofinho. – Sei. A cromosfera. Aquele negocio que fica super bem protegido pelo Tempo e que não tem como ser roubado por que você mesmo disse que, abre aspas, tem a melhor segurança de toda Underland? Que você garantiu a minha mãe que estava mais segura do que tudo?

Se o coelho branco pudesse, ele teria cavado um túnel ali mesmo no chão para fugir do príncipe. Apesar de não parecer, o garoto era perspicaz como a mãe e sempre guardava qualquer informação que pudesse usar contra alguém depois.

- Perdão majestade. Vou preparar vossa montaria de imediato para irmos pessoalmente ver o que aconteceu.

- E devemos voltar para as comemorações com tochas e garfos gigantes.

- Dentro do possível, sim. – O coelho saiu saltando do quarto e fim se afastou da varanda. Não deveria ser uma viagem muito longa, apesar do príncipe não fazer ideia de onde exatamente fica a fortaleza do Tempo.

Menos de vinte minutos depois, Finn estava no pátio, montando um avestruz de guerra e seguindo o coelho branco. Mesmo carregando a bagagem, o coelho estava conseguindo correr tanto quanto o avestruz. A cada quarenta segundos o coelho pegava o relógio no bolso do paletó e consultava, como se isso o acalmasse. Finn por sua vez preferia aproveitar a viagem bebendo uma doce xicara de chá. A paisagem mudava como um piscar de olhos, de vales para escuras florestas e destas para montanhas. Finn já estava terminando sua quinta xicara de chá quando o coelho parou subitamente perante uma mulher que estava sentada no meio da estrada.

Aqueles cabelos vermelhos e a enorme cabeça não deixavam duvidas da identidade da deposta rainha vermelha. Finn puxou as rédeas do avestruz para que parasse e desmontou, se aproximando da mulher sentada na estrada.

-Tia Iracebeth.

- Principe Finn. – A mulher o fuzilou com o olhar. O príncipe ignorou e começou a montar seu kit de festa do chá de viagens junto do coelho branco. – Sr White, uma cadeira para minha tia exilada, sim? Certamente ela não recusará um pouco de chá.

A ex-rainha se aproximou da mesa com cautela, olhando o príncipe com toda a desconfiança do mundo. Finn sorriu gentilmente enquanto despejava o chá em uma xicara de porcelana.

- Aceita uma xicara?

- Meia. – A mulher se sentou na cadeira dobrável, ficando no extremo oposto da mesa em relação ao sobrinho. O rapaz pegou uma faca afiada sobre a mesa e partiu a xicara cheia ao meio, entregando metade a tia.

- Açúcar e leite?

- Dois cubos, por gentileza e um pouquinho de leite, apenas.

- Pão doce? Eu sempre gosto de comer algo quando bebo esses chás exóticos importados. Dá um ar tão especial a coisa. Sr White, chá?

- Aceito, meu príncipe. – O coelho ofereceu a xicara, que Finn prontamente encheu.

O trio tomava o chá em uma conversa até bem animada sobre o clima, com Finn insistindo para que sua tia tomasse mais algumas xicaras e comesse a vontade.

- Então, o que faz nessa estrada isolada, minha tia banida?

- Descansando de minha caminhada sem lugar para ir. Meus pés estão tão doloridos ultimamente.

- Andando muito? Beba mais chá, faz bem pros pés.

- Minha vida tem sido uma peregrinação eterna desde que fui banida, deserdada, expulsa do meu próprio castelo e colocada para viver sob o ódio de nosso povo. E vou aceitar mais chá, querido, você é muito gentil. E pálido, céus, sua mãe te pintou com tinta branca?

- Não, sou naturalmente assim. Então, o que vai fazer para melhorar sua situação, titia? Recrutar o clamor do povo para ser reintegrada ao trono?

- Não, trabalho demais. Quando eu conseguir, Mirana já terá netos. Prefiro métodos mais ágeis, se eu puder escolher.

- Tipo roubar a tempo-bola mágica? – Finn bebericou o chá casualmente.

- Eu não sei do que está falando. Mas se for a cromosfera, eu não me arriscaria tanto de novo. Tenho quem faça o serviço sujo pra mim. Totalmente inadequado alguém da realeza fazer esses trabalhos braçais.

- Entendo. Sr White, que horas são?

- Príncipe Finn, sabe que nenhum relógio está marcando tempo por que alguém está mexendo...

- EXATAMENTE. Eu descobri tudo – Finn se levantou da cadeira. – Foi uma ótima hora do chá, titia, mas agora preciso correr para impedir seus capangas de roubarem a cromosfera. Não acredito que me contou seu plano todo.

A ex-rainha sorriu, bebericando o chá.

- Então se apresse. Eu não acho que você tenha realmente muito tempo agora.

Finn se virou para o coelho.

- Volte para Marmoreal e reúna alguns soldados. Vou tentar ganhar tempo indo até a cromosfera. É só eu seguir a estrada, né?

- Siga a trilha até a ponte, então desvie para o caminho da direita. É bem perto daqui agora, então não há como errar.

- Então decidido. O coelho vai buscar soldadinhos para me prender e o príncipe vai enfrentar o monstro que arranjei. Perfeito. Nos vemos quando a coroa estiver na minha cabeça então. E sobrinho, não pense que será fácil, posso dizer que dessa vez você vai encarar um verdadeiro monstro. – A mulher voltou a comer os pães doces como se estivesse tudo bem. Finn montou no avestruz voltando a seguir a estrada e o coelho branco correu o caminho de volta para Marmoreal.

Enquanto avestruzava pela estrada, o príncipe só podia imaginar que tipo de monstro encararia. Fosse o que fosse a criatura, ele precisava vencer, pois certamente a rainha de copas jamais entraria nessa se não soubesse que poderia vencer. Só esperava que se não pudesse deter a criatura, pelo menos pudesse ganhar tempo para o coelho branco trazer reforços.

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