O coelho sem camisa versus o humano sem camisa

1 0 0
                                    


Finn se estava orgulhoso em achar que seu plano era perfeito. Convencer o ladrão, Ryan, a ser seu aliado havia sido a parte fácil. O garoto era mesmo um monstro, parecia movido por puro ódio a cada guarda que encontravam nos corredores. Apesar de ficar segurando a calça com as mãos, Ryan se mostrou muito habilidoso em usar os pés para lutar. Ao príncipe coube o papel de ser o navegador, decifrando os caminhos sinuosos e labirínticos da masmorra. A parte ruim é que tinham mudado o depósito de pertences dos prisioneiros desde a ultima vez que Finn percorreu aquele lugar. Achou a sala de crocodilos, o armário das armadilhas mortais, e até a estufa interior de cultivo de encolhegumelos deliciosamente aromáticos. Não deu nem pra evitar pegar alguns e por nos bolsos antes de voltar a busca pela sala certa.

Ryan por sua vez não pareceu demonstrar aborrecimento pelas salas erradas. Ele só continuou com chutes na cabeça dos soldados de baralho, talvez com um pouco mais de ódio do que Finn achava necessário. Quer dizer, precisava mesmo acertar doze vezes aquela lâmina da ponta da bota no ultimo guarda? Tudo bem que eles não sentem dor e basicamente se regeneram depois de algumas horas, mas ainda assim, exagerado.

- Ryan, quer fazer uma pausa? A gente pode desacelerar um pouco, se esconder em um armário, recuperar o folego, talvez achar algo pra segurar suas calças.

- Não. Logo vão saber que fugimos, quero estar o mais longe possível quando isso acontecer.

- É. Pode ser. – Finn abriu uma porta, que dava em um deposito de vassouras, pegou uma e golpeou com força um soldado de baralho que subia as escadas, perseguindo-os. – Só que ficar se estressando assim não vai ajudar.

- Finn. – Ele parecia ter finalmente desistido de ficar chamando-o de Finny. – Se algo acontecer com você, a culpa será minha. Eu não quero esse peso nos meus ombros.

- Uau. Somos amigos a, sei lá, umas catorze horas, e você já tá preocupado comigo? – Ryan chutou uma porta, acertando o guarda que estava atrás. Finn só não sabia como ele descobriu que tinha alguém atrás daquela porta. – Mas vai ter que fazer melhor se quer que eu te perdoe pela rede.

- Não é como se eu estivesse me esforçando pelo seu perdão. Você poderia ter me escutado e não devolvido a cronosfera. – Som de cascos indicava que agora a guarda xadrez sabia da fuga. Cavalos antropomórficos estavam vindo por algum corredor próximo.

- Então você não quer que eu te perdoe? – Finn suspirou. Aquilo estava decepcionante e a porta que abria agora dava para uma parede de tijolos.

- Não é isso. – Ryan pegou a lança de um soldado de baralho caído e arremessou pra frente, pegando em cheio um guarda-cavalo branco que estava virando a curva do corredor no mesmo momento.

- Então se esforce. Não é tão difícil. - Outro soldado no caminho, dessa vez com Ryan saltando sobre o mesmo e lhe girando a cabeça para quebrar. - Pode começar, sei lá, me ensinando esse truque que você vira a cabeça desses soldados pro lado contrário. Ou fazer qualquer coisa legal. Considerando que você magoou meus sentimentos e fica me ignorando.

- Eu não fico te ignorando. Eu até te salvei de ser morto lá naquele castelo quando nos capturaram.

- E isso é outro problema que temos. Se quer que eu confie em você, tem que confiar mais em mim. Tá tudo na comunicação. Dialogo, cara.

Ryan derrubou outro guarda e puxou as calças para cima. Inacreditável que o príncipe estava lhe dando uma bronca enquanto deveriam se concentrar em fugir.

- O próximo adversário que encontrarmos, você vai derrubar, ok?

- Estou pronto.

Assim que viraram o corredor, Ryan fez um sinal para que parassem de avançar. Uma das portas abriu, com um soldado de baralho da carta 3 de ouros saindo pela mesma. Sem fazer som, ele sinalizou para que Finn se aproximasse, pulasse no guarda e lhe torcesse a cabeça metálica. Finn prestou uma continência e avançou correndo, pulando em cima da carta gigante para derruba-la. Uma vez ambos caídos, segurou a cabeça com as duas mãos e a girou. Os olhos do soldado brilharam em vermelho mais intenso como faróis, agora com a cabeça virada pra trás.

Wonderland DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora