Companheiros de cela

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Ryan observou o príncipe inconsciente enquanto o ajeitava na única cama da cela. Em situações normais, teria sido bem tranquilo enfrentar aqueles soldados e escapar, mas Finn não parecia ter muita experiencia em socar as pessoas. Na verdade, ele não parecia ter lutado alguma vez na vida e, tirando aquele truque incrível com a chaleira, dificilmente ele seria de muita ajuda.

A pouca iluminação da cela vinha exclusivamente de tochas na parede do corredor externo, sem nenhuma janela. Batendo os nós dos dedos contra a parede, Ryan conseguia deduzir que aquela masmorra era excepcionalmente reforçada. Com seus equipamentos, poderia até escapar com algum esforço, porém o coelho branco havia lhe confiscado o arco, aljava, besta portátil de punho, lamina oculta da luva, as adagas, o saco de bolinhas de gude, o canivete multiuso, a mascara de raposa, os dardos envenenados, a zarabatana, a corda com gancho, o anel de choque e o cinto de utilidades, cuja utilidade mais importante no momento era não deixar suas calças caírem. Pelo lado positivo, havia sido capaz de convencer a rainha cabeçuda a fazer da execução um verdadeiro espetáculo, "a primeira execução oficial do reinado", logo ela lhes garantiu mais três dias de vida enquanto montava o palco, convidava os nobres e planejava toda a execução como um evento.

A cama da cela parecia até bem confortável, a julgar pelo sono pesado do príncipe enrolado na própria capa. Ele parecia tão fofo e inocente, agarrado na capa, com a boca entreaberta e babando em cima do travesseiro. Ryan estava se sentindo um babaca por ter ajudado a estragar a vida daquele garoto pálido. Tinha uma divida imensa para pagar com aquele príncipe deposto.

- Eu sei que sou bonito, mas se importaria de sair de cima de mim? Se não for muito incomodo. – Finn murmurou bem baixinho, porém em um tom audível. Ryan levantou em um pulo, no susto. De algum modo, sem sequer mover as pálpebras, o príncipe o havia percebido. – Talvez quando formos amigos.

- Ainda quer ser meu amigo?

Fin abriu um dos olhos, encarando Ryan com aquele castanho claro que parecia brilhar.

- Você tentou me defender. Não é qualquer um que ficaria se arriscando assim. – Ele sorriu, então ficou bem sério. – Mas você também causou essa confusão, me prendeu em uma rede, não me deixou aproveitar meus pretzels.... Cadê meus pretzels? – Ele se sentou bruscamente, olhando em volta.

- Confiscado, junto das minhas coisas.

- Eu nem pude experimentar. – Ele fez um beicinho. – Você roubou meus pretzels, não bastasse todo o resto que roubou, seu ladrão. Mas é reconfortante ver que está preso agora.

- Você também está preso.

- Detalhes. Mas como tenho uma alma gentil e benevolente, vou te perdoar assim que sairmos daqui.

Justo. Ryan assentiu com a cabeça, voltando a se sentar sobre a cama enquanto Finn se espreguiçava. Até que a situação não estava tão ruim, afinal. O príncipe parecia de bom humor e Ryan ainda tinha as botas nos pés. Bateu os calcanhares entre si e duas lâminas curtinhas saíram de um pequeno vão na sola. Finn assoviou, olhando aquilo.

- Impressionado?

- Não. Apenas estou pensando que você não é nada confiável. Eu nem sei o seu nome, agora descubro que podia me assassinar enquanto dormia e suspeito que você comeu meus pretzels. – Até o olhar assassino com olhos cerrados do Finn era fofo.

- Eu não comi seus pretzels. Mas já que é tão importante pra você, meu nome é Ryan Hood.

- Tá vendo, Ryan? Você me disse seu nome, agora não somos mais estranhos um ao outro. É a base da confiança que faz a amizade funcionar.

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