O castelo, o gato e os pretzels

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A estrada parecia infinita depois da ponte. No horizonte, o castelo do Tempo, uma construção totalmente destoante de tudo que Finn já havia visto. Suas pernas doloridas do tempo sentado no avestruz e sua chaleira de viajem totalmente vazia não melhoravam o humor do príncipe. Alias, parecia que quanto mais sua montaria avançava, mais longe o castelo estava. Estava pensando em apelar para magia quando viu alguém vindo em sua direção.

Um avestruz de guerra passou por ele com duas pessoas na garupa. Foi rápido, mas ao mesmo tempo pareceu ser muito lento, com a voz super lerda de uma das pessoas berrando para ele.

- FINN, DEVAGAR É RAPIDO.

Quando o príncipe olhou para trás, tentando ver melhor, o outro avestruz já estava distante demais para que conseguisse distinguir seus avestruzeiros. Provavelmente era aquele gato esquisito do Mahoot. Esse cara sempre aparecia quando menos esperava e com as mais indecifráveis intenções. Porém o conselho fazia algum sentido, afinal, deveria ser algum tipo de defesa especial do castelo do Tempo para evitar invasores, forçando-os a gastarem suas forças correndo o máximo possível sem realmente conseguir chegar.

Batendo os calcanhares na barriga da ave, retomou o caminho, agora indo devagar, uma caminhada perfeita para admirar a paisagem distinta dos arredores do castelo do Tempo. Uma piscada de olhos e já se encontrava na entrada da imponente construção, onde não havia ninguém fazendo a guarda.

- Ei rapaz. – Um carrinho de venda de comida ambulante apareceu ao seu lado esquerdo, com um rapaz de cabelos verdes e olhar felino sorrindo diabolicamente. – Quer comprar um pretzel fresquinho da fazenda? Acabei de colher.

- Mahoot! – Finn quase caiu do avestruz com o susto da repentina aparição do menino-gato. O rapaz apenas manteve o sorriso sádico e ajeitou sem avental de vendedor.

- Finn, sou um felino ocupado. Vai querer meus pretzels recém-colhidos ou não? Tenho um compromisso daqui a pouco.

- Pretzel? Com açúcar colorido por cima? – Os olhos do príncipe chegaram a brilhar.

- E recheio de chocolate, nozes ou doce de leite.

- Um de cada, que eu tô nervoso em uma missão importante pra proteger a cronosfera.

- Cartão fidelidade Sorriso do Gato? – O menino-gato pegou três pretzels e colocou em um saquinho. – Aproveita que só ofereço pra gente que pode pagar.

- Um cartão de fidelidade para pretzels?

- Claro. Com o cartão, eu posso aparecer sempre que você desejar um pretzel, não importa onde esteja no mundo. E aproveita que de você, só vou cobrar um chapéu elegante e um titulo nobre quando você for rei. Talvez conde sorridente, ou lorde dos pretzels para todos serem obrigados a só comprar meus pretzels. – Uma gargalhada maligna no final para dar impacto. Finn apenas revirou os olhos.

- Vou aceitar o seu treco de fidelidade, mas vai rápido que preciso entrar no castelo. – Finn remexeu nos bolsos, pegando algumas moedas prateadas e entregando ao vendedor. – Pode depois procurar pelo chapeleiro e escolher o chapéu que quiser, mande pôr na minha conta.

- Vossa majestade é mesmo muito legal. – Mahoot entregou os pretzels. – Só por que você comprou três pretzels, vou te dar uma dica. Tem um elevador escondido ao lado da escada do castelo. Leva até o andar da cronosfera. E quando quiser um pretzel, é só dizer que está com vontade de pretzels.

Pegando o lanche, Finn assentiu. O felino piscou e desapareceu com seu carrinho, com seu enorme sorriso sendo a última coisa a sumir. Ainda era estranho para o príncipe ver o gato sendo legal com ele, já que tiveram alguns atritos no passado. E o negocio de pretzels não devia estar indo muito bem por ali, já que ninguém anda perto do castelo e o Tempo é meio máquina. Mais uma vez batendo os calcanhares no avestruz, avançou até a escadaria do castelo, bem na entrada.

Se Mahoot havia dito a verdade, deveria ter um elevador escondido ali em algum lugar. Para a sorte de Finn, realmente tinha um elevador do lado direito, com as portas abertas e um rapaz todo de preto apertando os botões.

- Segura a porta! – O príncipe saltou de cima de sua majestosa montaria, tropeçando e quase caindo de cara no chão. Estando tão perto assim, era inaceitável desistir. Se levantou, conferindo se os pretzels estavam inteiros, enquanto se aproximava do elevador. A pessoa dentro parecia ter mais ou menos a mesma idade que Finn, com cabelos escuros e os olhos de uma cor castanho-esverdeada muito bonita. Ele parecia ser algum tipo de caçador, ou soldado, com a roupa justa cheia de bolsos, o arco e aljava nas costas, duas adagas no cinto, botas grosseiras bem típicas de quem curte fazer umas trilhas. Um detalhe interessante era que tinha alguma coisa em cima do seu cabelo, uma mascara ou algum tipo de chapéu esquisito talvez.

Tão logo Finn entrou no elevador, a porta se fechou. Arfando da curta corrida, o príncipe olhou para o seu colega de subida enquanto tocava uma musiquinha sonolenta de elevador. O caçador, por que Finn decidiu que deveria ser algum caçador, estava olhando para a porta em silencio, tão imóvel que fazia o príncipe duvidar até que respirasse. Talvez fosse algum tipo de máquina ou golem.

- Então, você trabalha aqui?

- Não. – A voz era agradável, firme, porem não exageradamente grave. A camisa dava um detalhamento visível, porém sem exagero aos músculos do rapaz, e Finn inclinou levemente a cabeça de lado dado uma olhada melhor.

- Posso ajudar? – O caçador ergueu uma das sobrancelhas e Finn ajeitou a postura e desviou o olhar, tentando controlar as bochechas para não corar. Não era hora de ficar passando vergonha na frente de estranhos em elevadores.

- Er.... Sou Finn. Príncipe de Underland, mas acho que já sabe disso. Todo mundo basicamente sabe quem eu sou.

- Eu não sabia. – O rapaz falou com um tom neutro, voltando a encarar a porta. Ele era muito bom em assassinar conversas, para o desgosto do príncipe.

- E você vem sempre aqui? Digo, já veio no castelo do Tempo antes?

- Não. Só vim fazer um trabalho.

- Ah. Certo. Eu também estou em uma missão. Super importante, o destino do reino está em minhas mãos. Vou basicamente derrotar mais um monstro que minha tia arranjou para roubar a cronosfera. Sim, é perigoso e sim eu não tenho espadas. Mas tenho minha chaleira magica e isso vai ter que bastar.

O caçador permaneceu em silencio. Finn continuou olhando-o discretamente com o canto do olho. Pensando melhor, ele não parecia muito um caçador, afinal. Ele tinha mais o jeitão de um soldado de arquearia, com um olhar firme que parecia ser capaz de ver uma mosca voando a distancia e ainda conseguir atingi-la. Quase tentou puxar assunto sobre arquearia quando a porta do elevador finalmente se abriu, revelando o novo andar.

- Você primeiro, majestade. – O caçador fez uma gentil mesura, deixando o príncipe sair primeiro. Talvez ele não fosse assim tão inalcançável para uma conversa afinal. Finn saiu sem tirar os olhos do rosto daquele rapaz e também não notando até ser tarde demais e tropeçar em uma cordinha esticada no chão. Não sabia dizer o que era pior, ter caído de novo, ou ter caído na frente daquele cara. Seu rosto estava quente de vergonha, mas nem teve muita chance de pensar nisso, pois uma rede caiu sobre ele, piorando a situação.

O rapaz saiu do elevador olhando-o e ajeitando o que tinha acima da cabeça, uma máscara de raposa agora bem posicionada em seu rosto. Ele riu baixinho enquanto seguia em frente, deixando o príncipe lutando com a rede no chão.

- Antes que eu esqueça, príncipe Finn. Boa sorte para recuperar isso. – Ele mexeu em um dos bolsos e tirou uma esfera metálica com engrenagens, bem bonitinha. Finn nunca tinha visto pessoalmente, mas não tinha dúvidas do que era.

- A cronosfera! Como? Quando? Quem?

- Um ladrão fantasma nunca revela seus truques, meu amigo.

E assim ele saiu de vista, deixando Finn caído no chão, derrotado. Mas pelo menos tinha os pretzels ainda. Pretzels deliciosos para comer enquanto estava derrotado no chão. 

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