Você nem é tão feio

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Eu estava me arrumando. Teria que ir a caráter.

Vesti o meu vestido azul justo e calcei um salto de no mínimo uns dez centímetros. Pude até sentir cada veia se dilatando de tão desconfortável.

- Calma Manu... É para uma boa aparência. - digo para mim mesma.

A Rafa surge com um cabelo espetado e com um pote de brigadeiro na mão. 

- Tá bonita hein, minha filha? Vai pra balada?

- Não. Irei para um jantar de negócios. Finalmente o meu dia chegou. - digo sorrindo de orelha a orelha.

Rafa respira fundo.

- E eu pensando que era realmente uma balada... Daí lembrei que você é a Manoela Gavassi, a compromissada com o trabalho.

- Você sabe que eu não tenho tempo pra ficar engordando. Passei dessa idade. 

Ela gargalha.

- Manu, você tem quase a mesma idade que EU. E tem uma idade mental de uma velha de 80 anos. Precisa de uma balada, sério.

- Aquele tempo já passou... Eu já disse pra você.

- O tempo que você ficava bêbada e seminua nas festas? Acho que os homens sentem falta disso, hein? - disse rindo baixinho. - Mas mudando de assunto, quem vai te levar mesmo? Vai pegar um uber?

- Não. Uma pessoa vem me buscar.

E essa seria a pior parte: o sacrifício. 

Sim, o Prior iria ME BUSCAR. E eu implorei DIVERSAS vezes para ir sozinha de uber, mas parece que o bendito cavalheirismo ganhou.

Como um sinal do satan, eu ouço uma buzina. Sim, provavelmente seria ele.

- Acho que ele chegou. - deposito um beijo na sua bochecha. - Até mais e não vai ouvir Marília Mendonça. Cresce ainda mais o chifre.

Ela assentiu e eu fui para o carro. E até que me surpreendeu não ser um fusca.

O cara realmente tinha uma grana.

- Jurei que você era da zona norte, mas pelo visto é playboy da zona sul mesmo, hein? Ou ganhou isso com seu trabalho como gogoboy? - alfineto, ao entrar no carro.

- Boa noite, Manoela. - fala da forma mais educada possível, um verdadeiro gentleman. - Sim, acho que meu trabalho como gogoboy tem gerado bons frutos mesmo. Inclusive, um cargo superior ao seu. O que posso fazer, não é? As mulheres não resistem.

Reviro os olhos.

- Só assim, não é? Porque com seu talento você não ia ser contratado nem pras lojinhas da 25 de março.

- Não é isso que dizem. E se você está aqui é porque sabe o quanto nos destacamos na empresa.

- NOS? - recapitulo o que ele disse. - Você só dá umas ideias cafonas como sempre. Nem é isso tudo não, já pode diminuindo seu ego.

Ele já havia dado a partida do carro e até o restaurante teria uma longa discussão ainda...

[...]

O jantar estava sendo um FRACASSO.

Nem pelo Prior, que como SEMPRE era o centro das atenções, mas pela própria situação.

Fiquei lá parada como uma árvore de natal, enquanto o Prior falava livremente sobre a marca. O interesse deles pela minha coleção era praticamente 0, se é que me entendem.

Não culpo o Prior por isso, me culpo apenas. Ele é bom de comunicação, provavelmente o contrataram por isso. A alma da empresa estava morta e ele sei lá... É tipo a luz fora do túnel.

E eu posso estar sendo completamente tola por admitir isso, mas eu seria hipócrita a ponto de não admitir.

De repente, já havia se passado o jantar e eu estava novamente no carro com o Prior, que estava super feliz com o 'sucesso' do jantar.

- Você viu? O pai manja muito das coisas, deveria aprender comigo. - falava, enquanto manuseava o volante.

Eu não queria falar nada. Só fitava ele. Fitei ele por longos minutos.

- Você nem é tão feio... - disse alto. 

And....

Falei merda.


The Man [prinu]Onde histórias criam vida. Descubra agora