Anã de jardim

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Senti-me com uma cara de desgosto. Não acredito que a Latini virou uma bagunça.

Se entrou um homem, entra dois, três e assim vai.

E só pra vocês saberem: Eu não sou femista. Mesmo dando 200% de vontade de ser.

Uma parte de mim, porém, manda se acalmar... Talvez ele não seja tão tóxico como qualquer um (e sinceramente, ele deve me achar uma totally psycho pelo olhar mortal que estou dando há uns exatos dez minutos), mas esse nunca foi um dos objetivos da Latini. As nossas referências artísticas é a Madonna, não Michael Jackson.

- Manoela, acho que você tem um projeto pra nos apresentar. - diz Gizelly, a tal 'chefa' que citei há pouco.

- Claro... - dou um sorriso amarelo e me levanto. - O projeto é simples: voltar aos anos 50, moda à francesa. É típico para o inverno.

Comecei a mostrar o meu portfólio e não pude perceber um olhar meio sarcástico do único homem do local.

- Alguma pergunta, senhor? - pergunto e ele ergue o queixo.

Nesse exato minuto, todas as mulheres estavam babando por ele. E é nessas horas que ligam o fuck pro feminismo ou algo do tipo.

- Acho meio batido a sua ideia. - começou a falar merda, como qualquer homem possível. - É que já vimos a mesma ideia até em marcas chulas, é como o primeiro pensamento do dia ser tomar café. TODOS pensam nisso.

Eu estava explodindo de ódio.

- O que você faria pra mudar, Sr... - espero mesmo que ele não responda. Estava praticamente surtando.

- Felipe Antoniazzi Prior. - falou com um ar de prepotência. - Sei lá, faria outra. Quem liga pra clássico hoje em dia? Se eles fizeram e conseguiram entrar para história, mérito deles. Mas copiando ideia já batida para pagar de cult?

- Então, Felipe Antoniazzi Prior... É que as pessoas geralmente gostam desse estilo. Foi a que mais vendeu na temporada anterior.

- Achei que tinham me chamado para aumentar tal público. Vejo que querem continuar na mesmice. - ele percebe minha cara de ódio e solta um sorriso maldito. - Calma, é só uma crítica construtiva. Iremos trabalhar juntos e você vai evoluir.

VOCÊ? Eu sou a pessoa mais INFLUENTE dessa MERDA de marca e vem um cara que não sei da onde veio desmerecer tal ato? Esse moleque pensa que é quem?

- Meu caro Felipe, acho que você não entendeu... - tento recomeçar o meu raciocínio. - Somos a segunda marca mais bem requisitada do país e você sabe muito bem disso. Prova que a moda vintage FELIZMENTE lucra ainda.

As pessoas estavam em um silêncio e só observando tal situação embaraçosa. Foi aí que a Gizelly atrapalhou a discussão.

- Se acalmem... O Felipe não é acostumado com o estilo da nossa marca, inclusive o da Manu. Por isso o contratei. Precisamos de algo mais inovador, sair da mesmice.

Não podia ser verdade. É rir pra não chorar.

Sair da mesmice? Puta mérito com quem tá trabalhando com ela há anos!

Se não fosse meu orgulho eu estaria trabalhando fora do país, mas não... A burra preferiu uma marca aonde eu pudesse ter o meu espaço próprio. Agora vejo que nem isso tenho direito, terei que ceder às ideias de um homem.

Um homem que apareceu do nada!

Quanto foi que pagaram pra ele? Será que ele é um gogoboy?

[Horas depois da reunião...]

Estava reformulando o meu projeto que estava IMPECÁVEL.

E tudo isso por causa de uma espermatozoide mal fecundado.

Preciso ficar relaxada. Vou começar a minha meditação diária para esquecer de tudo isso e focar no que faço de melhor: trabalhar.

- Esse Felipe é um gatinho, não é? - fala a Bruna, me atrapalhando da minha meditação.

- Eu só posso ter uma cruz na testa... - murmuro para mim mesma.

- Por que você tá parecendo alguém evocando espírito? É um tipo de mantra para ter criatividade?

- Sim, sou o Chico Xavier. É o que dizem. - digo sarcástica. - Agora, se me permite, estou trabalhando e você também tem trabalho.

A Bruna, felizmente, me atendeu e saiu da minha vista.

Um sinal divino.

Ou não.

- Começou a reescrever o trabalho, anã de jardim?

Shit.

The Man [prinu]Onde histórias criam vida. Descubra agora