O fim

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Já havia começado a tocar. Estava no momento exato de começar a cantarolar, de fato.

- Assoviando uma canção
Sentindo nossos corações mais distantes... - começo. - Do que realmente estão.

Vejo algumas luzes do celular se acenderem pelo reflexo que eu via pelo piano.

- As luzes lá fora chamam pra sair
A noite sempre me encantou
Mais agora você não está aqui... - continuo, e pela primeira vez começo a fitar a Rafa, que estava sorrindo estridente. - E, é engraçado como tudo aconteceu... do seu lado eu te olhei você percebeu!

Até que sou surpreendida com alguém cumprimentando a Rafa.

Era ele.

- Como agora tudo está perfeito assim
Como a vida tinha um plano depois do fim... - volto a focar no piano. - O fim, foi só pra sentir saudade... então volta pra mim... não quero sentir sua falta, me leva com você...

Como imã, meus olhos fixaram nos dele outra vez.

- e canta aquele refrão que me faz perceber... talvez não possa ficar um dia sem você! - meus olhos já estavam lacrimejando.

Recebi aplausos de todo o canto.

E pela primeira vez, eu soube: era a minha arte e eles estavam aplaudindo isso!

Desci do palco e abracei a Rafa fortemente.

- Vai me matar agora, cadela?

- Não hoje...

Cessamos o abraço demorado e eu tirei o Prior logo após e ela, como uma cupida fatal, deu uma justificativa grotesca pra sair do local.

- A Rafa planejou tudo, hein? - digo sem jeito.

- Aquela música foi pra mim? - ele muda de assunto.

- Pra você? - gargalho. - Claro que não! É uma música clichê! Mais fácil de comover o público!

- Então porque você chorou lá no palco? Te comoveu também?

Fiquei calada por alguns segundos e ele percebeu a real: era pra ele.

Na realidade, todas as minhas canções eram pra ele... off: as que eu fiz com 10 anos como "Planos impossíveis" e "Garoto errado", mas sinceramente? Nem música aquilo é!

- Não sei porque você insiste nisso... Você tá com a Gizelly e eu segui a minha vida, simples! Pequenas escolhas e grandes negócios, não é?

- Eu não estou mais com a Gizelly. - se apressou a dizer.

Meu coração palpitou.

Mesmo eu sabendo de tudo o que ele fez e que ele era um TREMENDO babaca!

- Como assim? Você não havia conseguido o cargo que tanto queria? - perguntei sem entender praticamente nada.

- Vai ver se você tivesse respondido as minhas mensagens saberia...

Ah, eu havia bloqueado ele. Esqueci de falar esse mínimo detalhe e compreensível.

Ele já era 'página virada', se é que me entendem.

- Saberia de quê?

De repente, o celular do Prior toca e ele fica sem reação nenhuma.

- Atende. - ordeno. - Amanhã podemos tomar um café juntos... Como bons ex-colegas de trabalho!

Ele sorriu torto e eu fui até a minha casa sozinha, já que a Rafa deu um sumiço.

Ao chegar eu só pensava em uma coisa: preciso viver disso.

Da música.

The Man [prinu]Onde histórias criam vida. Descubra agora