CAPÍTULO 1

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Boa tarde!!!

Vamos começar nossa história?

Isadora

Deixar uma vida inteira para trás não é nada fácil.

Abandonar uma casa que você viveu por anos, mesmo que não tenha sido um lar de verdade, está sendo mais difícil do que imaginei.

Quando aquela fatídica noite findou e o sol se levantou para anunciar que um novo dia estava chegando, eu estava mais convicta do que nunca, pronta para a mudança. Mas a convicção evaporou no exato instante em que me dei conta que a minha vida estava totalmente interligada com a de outra pessoa.

Eu não tinha dinheiro para recomeçar, para enfrentar o que estava por vir. Tanto tempo sem tomar uma única decisão por mim mesma me deixou ainda mais perdida, sem saber que direção seguir, e o medo do desconhecido tentou se instalar e me fazer recuar.

Não Isadora, isso não vai te impedir. Você disse nunca mais, lembra?

Respirei fundo e me levantei, dores se espalharam por todo o meu abdômen e braço direito. Agachei ao lado da cama e me abracei, tentando de alguma forma fazer com que a dor amenizasse.

Alguns segundos se passaram e eu consegui me erguer, peguei a maior mala que possuía e comecei a colocar minhas roupas dentro dela, e a cada peça de tecido que eu colocava ali dentro, a certeza de estar fazendo a coisa certa começava cada vez mais a fazer sentido. Aquelas não eram as roupas da Isa, eram de uma pessoa que nunca deveria ter existido, que eu jamais deveria ter me tornado.

Como eu deixei chegar a esse ponto?

Com isso em mente, tirei tudo de dentro da mala, decidida a deixar de vez essa vida para trás.

Procurei a mochila velha e gasta que um dia usei na faculdade, coloquei dentro dela somente uma ou duas peças de roupas de tempos antigos que eu já nem lembrava mais. Peças que nem mesmo comprei, e sim ganhei, mas nunca foram usadas porque não eram apropriadas para uma Albuquerque.

Deixei a mochila na cama e caminhando lentamente entrei no banheiro, tomei um banho demorado, tentando tirar toda a dor e apreensão do peito. Eu nem sentia mais as dores físicas, a dor do coração era tão grande que conseguia sobrepor a qualquer outra que eu pudesse vir a sentir.

Eu não podia esmorecer, eu não podia desistir.

Saí da ducha e encarei-me no espelho por um longo tempo, tentando achar a Isa ali, buscando traços daquela moça brilhante, risonha, alegre, extrovertida, mas o reflexo que eu podia ver apenas me mostrava que ela estava longe de ser encontrada. Na verdade nem a Isadora Albuquerque eu conseguia enxergar.

O que eu via era a sombra de um ser humano, uma mulher com olheiras profundas, pálida, sem vida, triste e apagada.

Isso acaba hoje.

Hoje é o meu renascer. O meu recomeço. É isso, ou será o meu fim.

Saio do quarto e desço as escadas delicadamente, evitando qualquer barulho como sempre me fora ensinado, vou caminhando com a mochila nas costas e olhando ao redor, para os quadros de artistas renomados pendurados por todos os lados, para o lustre extravagante de cristais, para os tapetes que custaram mais do que muitos ganham em um ano de trabalho duro, e finalmente para os porta-retratos que mostravam a mentira de uma família feliz, olho para o sorriso no meu rosto naquelas fotos e consigo finalmente enxergar o quanto aquilo foi errado, o quanto eu deixei que controlassem minha vida.

Busco cada canto do espaço, dando adeus aquele lugar que tanto me fez mal, mas que também me dava a falsa sensação de proteção.

Quando chego no hall e já posso ver a porta de entrada da mansão ouço. — Onde você pensa que vai Isadora?

RenascerOnde histórias criam vida. Descubra agora