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— Você está bem? — John D perguntou quando saí do telefone

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— Você está bem? — John D perguntou quando saí do telefone. Eu fechei os olhos por um momento antes de responder.

— Sim. — Eu falei no meio de um suspiro. Abri os olhos e continuei olhando para o teto, sem querer olhar para ele.

E de fato eu estava. Eu me sentia bem, mas tinha muita coisa para pensar. Minha cabeça estava com um turbilhão de pensamentos de uma vez só. A faculdade iria começar em breve e a ansiedade começava a me consumir. Isso era normal em minha vida, afinal sempre que vou começar algo novo me sinto assim – não era saudável, porém era normal. Eu não sei como fazer isso, eu não sei como entrar, como estudar, como fazer os trabalhos. O desespero começou a aparecer em minha vida.

— Charles está bem? — John D sentou ao meu lado, fazendo uma pequena sombra.

— Sim. — Eu respondi desviando o olhar dele para a árvore que tinha nos fundos.

Essa casa não é o tipo que eu quero ter pra minha vida. Não faço questão de um quintal grande, de uma piscina e de uma casa enorme. Eu vim ter isso recentemente, quando meu pai e minha mãe foram promovidos em seus trabalhos. Eu sempre quis isso quando era criança e dou valor hoje, mas definitivamente não é minha prioridade. Eu só quero algo para mim, que não me deixe sufocada, que seja meu. Essa casa em que estamos é um total exagero

Essa casa aqui não é o tipo de casa que eu quero para morar para a vida. Eu não faço questão de um quintal grande, de uma piscina e de uma casa enorme. Eu meio que nunca tive muito disso, apesar de querer quando eu era criança. Eu gosto de algo um pouco menor, mas que não me deixe sentir sufocada. De qualquer forma, essa casa teve de ser exagerada pela quantidade de gente que virá no natal.

— Eu gosto de Charles. — Ele falou de repente e olhei para ele. — Ele é bom para você, é uma boa pessoa. Fico feliz que achou ele. — Confirmou com a cabeça olhando para seus dedos.

— Obrigada, John D. — Agradeci com um sorriso no rosto. — Sua opinião importa demais para mim, você é importante demais para mim. — Peguei na mão dele.

Estávamos apenas nós dois nessa casa gigante. Nós meio que criamos uma rotina. Nós acordamos, treinamos, tomamos café e passamos o dia no sofá, conversando ou jogando. Foi algo que eu aprendi a gostar, a aproveitar. Durante os anos fomos notando nossas divergências, mas hoje isso é parte da nossa amizade e, se não as existisse, nossa amizade não estaria viva durante todo esse tempo.

John D saiu sorrindo e meu celular tocou. Um número de celular estranho, que eu nunca tinha visto na vida, mas atendi mesmo assim, poderia ser algo importante.

— Boa tarde, Kiara? — Era uma voz estranha do outro lado da linha, estava falando em inglês e eu comecei a estranhar mais ainda.

— Sim. — Respondi cruzando meus braços.

— Me desculpe lhe ligar assim, mas nós mandamos um e-mail e a senhorita não respondeu, então conseguimos seu número. — A mulher disse do outro lado. — Eu estou falando em nome da equipe Playground França, queremos você em nossa equipe para ensinar a modalidade de dança latina. — Falaram do outro lado e eu paralisei.

Eu não sabia o que falar. Eu conheço a academia de dança, conheço todos os professores que tiveram – e têm – uma carreira incrível por lá. Eu não sei nem como reagir, será se é uma pegadinha, se é alguém confundindo? Mas ela disse meu nome. Será que se eu pedisse para repetir, ela repetiria? Ou me acharia burra demais e desistiria da proposta?

— Eu... Eu... Estou confusa. Eu não tenho nem licenciatura para isso. — Eu coloquei a mão esquerda na minha testa.

— Senhorita Kiara, eu devo lhe dizer que foi a Senhorita Mary quem pediu para que eu fizesse essa ligação. Ela é a fundadora da nossa academia. — Ele começou a explicar, mas eu sabia disso, a academia era reconhecida no mundo inteiro. — Tenho completa certeza de que ela sabia disso e eu não questiono nada que ela faz ou pede para eu fazer. Nós não ligamos para uma pessoa para pedir para que trabalhe conosco. Se a pessoa não responde o nosso e-mail, consideramos um não, mas com você foi diferente, ela vê algo em você e esse algo é especial. — Ele continuou a falar e parou de repente.

Eu deveria falar algo agora? Eu não tinha o que falar, era impossível sair algo da minha boca nesse momento. Eu respirei fundo pensando na possibilidade, se eu conseguiria deixar tudo para ir para a França. Isso é loucura, loucura total. Eu não conseguiria fazer isso, eu não tenho dinheiro, não tenho estrutura... É uma ideia arriscada largar a faculdade, largar tudo aqui para ir embora para a França, para o outro lado do mundo.

— Eu fico lisonjeada, mas eu não posso tomar essa decisão assim. Eu sei quem vocês são, sei o reconhecimento que vocês tem e não dispenso isso, mas a França fica do outro lado do oceano, eu, infelizmente, não posso dar a resposta sobre isso agora. — Eu falei me encolhendo, pensando se eu tinha o direito de recusar essa proposta. Eu não me sentia no direito de fazer isso. Eles são uma empresa, com várias filiais ao redor do mundo, com reconhecimento. Eu sou apenas uma pessoa tentando crescer e descobrir a minha vida.

— Nós entendemos. Senhorita, você tem até o começo de Janeiro para nos dar uma resposta. — Ele era sério e tinha um sotaque forte, mais forte que o de Charles. — Estamos aguardando sua resposta. — E desligou a ligação.

Eu continuei na mesma posição que estava. O celular ainda estava encostado e meu ouvido, com esperança de que eu conseguisse tomar uma decisão repentina. Esse é o meu sonho, afinal, e na hora que eu tenho uma oportunidade eu não agarro? O que deu em mim? É a França! É um trabalho, é a minha esperança para entrar em um mundo do qual eu sonho participar há anos. Eu preciso começar a pensar sobre isso pelo lado bom, pelo meu lado.

— O que aconteceu? — John D perguntou me olhando confuso. Eu olhei para ele ainda em choque, tentando entender o que havia acabado de acontecer.

Eu larguei o celular na grama e finalmente caí na real. Dei um sorriso enorme e me levantei, enquanto tentava descobrir por onde começar. Com as mãos em meu rosto, eu comecei a tagarelar sobre a situação.

— Eu recebi uma ligação estranha e eu atendi sem entender nada. Aí um homem começou a falar para mim sobre como o Playground França quer que eu trabalhe lá, com eles. Na França, ensinando dança. — Eu gritei e ele me pegou nos braços. Eu encolhi minhas pernas enquanto aceitei o abraço e ele me girou no ar. Esse momento é nosso.

— Nossos sonhos estão se realizando, Kiara! — Ele me deixou no chão, com um sorriso enorme estampado no rosto.

— Estão! Eles estão se realizando! — Eu estava muito feliz, por nós dois, não só por mim. Nós batalhamos por isso.

Eu logo me deitei na grama novamente e, depois de falar com meus familiares e receber várias celebrações e palavras de afirmações – além de lágrimas de alegria dos meus pais –, eu liguei para Charles. Estava mais calma, tentando encaixar o cenário na minha realidade, quando comecei a falar para ele o que tinha acontecido. Expliquei tudo com calma.

É engraçado quando esse momento chega, o seu momento, o momento pelo qual você esperou durante toda a sua vida. Ao contrário do que muitos falam, passa sim um filme pela cabeça, quando eu estava contando tudo para Charles eu me vi na sala de aula, prestando atenção em todo detalhe, eu me vi nos momentos em que eu duvidei de mim mesma. Eu estava chorando ao final de nossa conversa.

— Paris, huh? — Ele perguntou após ouvir tudo o que eu tinha para dizer.

— Sim. — Falei jogando meu cabelo pra trás.

— Quatro horas de Mônaco. — Ri quando ele falou.

— Podemos nos ver mais. — Confirmei sua sugestão.

— Muito mais. — Ele falou e eu fiquei boba.

Eram apenas boas partes.

Polaroid | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora