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O avião já estava na pista do aeroporto de Paris, que estava coberta de neve

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O avião já estava na pista do aeroporto de Paris, que estava coberta de neve. Era a minha primeira vez vendo o mundo assim e eu estava maravilhada por como aquilo era ainda mais bonito do que nas fotos ou nos filmes. Ao mesmo tempo em que me sentia ansiosa e animada, o medo batia na minha porta. É um ambiente totalmente novo e diferente para mim, além do idioma que eu não conhecia. Eu tinha começado a fazer um curso de francês, sabia e desenrolava algumas coisas, mas ainda bem que Charles veio comigo.

O clima estava mais frio que o de New York, então não enrolamos para pedir o táxi para o hotel. Iríamos nos acomodar e logo depois ir para o playground resolver tudo com Mary. Ela queria saber a minha resposta o mais rápido possível.

— A França é realmente linda. — Eu falei olhando a cidade de Paris pela janela.

— Vai ser mais linda ainda quando não estiver nevando. — Charles falou rindo, não era muito fã do frio. — Está pronta para ir ver onde você vai trabalhar? — Ele perguntou me abraçando por trás.

— Eu acho que sim. — Eu falei respirei fundo.

Eu imaginei esse momento desde de que Mary havia me ligado e, agora, eu já não tinha mais certeza disso tudo. Em minha cabeça, eu questionava cada segundo e cada passo, me questionava se aquilo era certo, se eu merecia aquilo. Nada mudou quando o carro parou em frente e eu vi o prédio. Parecia muito intimidador, grande demais para mim.

— Vamos. — Ele falou me puxando depois de termos ficado apenas olhando a vista.

Entramos no prédio e a recepção e os corredores estavam cheios. Muitas pessoas jovens com figurinos e com roupas da aula, todos animados e ansiosos. Provavelmente, alguma competição estava chegando. Eu sempre quis viver um desses momentos de expectativa para uma grande apresentação. Olhei para tudo, analisando o lugar.

— Kiara! — Alguém me chamou e olhei para trás. — Sou Mary! — Estendeu a mão.

— Olá, prazer em conhecer. — Apertei a mão dela.

— Sou Charles. — Charles apertou logo em seguida.

— Está muito agitado aqui. Vamos para minha sala. — Ela falou e foi pra frente de nós dois. — Hoje as audições começaram para os novatos. Ficam muito empolgados com isso. Que tal se fizermos um tour primeiro? — Ela se virou pra gente de repente.

— Parece incrível. — Falei sorrindo, estava ainda empolgada.

— Como foi sua viagem? Gostou de ver Paris coberta por neve? — Perguntou e eu sorri, respondendo educadamente que sim.

Ela foi nos mostrando os corredores com as grandes salas de dança onde meninas e meninos faziam audições. De ballet, passando pelo hip-hop, contemporâneo, até a urban dance. Aquilo era incrível. Nos mostrou onde os dançarinos podiam descansar, seu auditório para palestras. Parecia que nunca iria acabar, já passamos pelo segundo andar.

— Agora entramos na área administrativa. — Ela era bem educada. — Nossos figurinos para festivais, uniformes são feitos aqui, sala dos professores, fotos, reuniões e minha sala também fica aqui. — Ela abriu uma porta e saímos em uma sala grande, mas simples. Vários troféus eram exibidos em uma prateleira preta.

— Aposto que você tem mais que potencial para ter vários desses. — Ela falou se sentando em sua cadeira e eu sentei em uma que estava do outro lado da mesa. — Até mais que seu namorado. — Ela falou em brincadeira, aliviando a tensão.

— Bem, eu amei a academia. É linda, grande, agitada, uma das coisas mais importantes pra mim. — Eu falei e ela pareceu ter gostado. — Eu só quero saber de o que você gostaria que eu fizesse aqui. Parece ter gente mais que o suficiente. — Falei e ela riu.

— Existem alguns professores que não se adaptaram aqui, estamos os segurando até encontrar pessoas que vão ser melhores que eles. — Ela falou e apontou pra mim. — Você é a pessoa certa. No mundo da dança não se precisa de um diploma, Kiara. Matt Steffanina, coreografou Taylor Swift, você acha que ele tem um diploma? Kyle Hanagami, coreografou Black pink, Justin Bieber, filmes da Disney. Adivinha o que? Ele não tem um diploma. Basta você ser talentosa. E você tem talento.

Eu sinceramente não sabia o que falar, então deixei ela continuar.

— Você trabalhará cinco dias por semana, às vezes seis, em épocas de competições. Contemporâneo, hip-hop e latino. Latino é uma nova modalidade que, se você aceitar, será de comando seu. — Ela falou e eu arregalei os olhos.

— Você não acha que é muita responsabilidade que você está dando para alguém que acabou de conhecer? — Perguntei estranhando.

— Olha, se você não acha, eu não tenho que achar. Você está disposta a se mudar do Brasil para a França, quem é o louco que faz isso? — Ela falou com um ponto. — Olha, vocês podem sair para tomar um café, pensar, aqui está o contrato. Preciso da resposta hoje. Se você aceitar, vamos ter audições para Latino amanhã, se não, vou ter que achar outro professor.

Eu saí com um contrato na mão, meio confusa. Voltamos para o hotel em silêncio, Charles respeitou minha decisão de não falar nada. Chegamos no quarto e eu tirei meus casacos me sentando na cama.

— Eu não sei se devo aceitar. — Finalmente falei alguma coisa. Sabia que meu silêncio estava o matando.

— Porque? — Ele perguntou, sabia que ele iria me ajudar de alguma forma. Ele sabia mais sobre oportunidades do que eu.

— Eu acho que é muita responsabilidade, não sei se posso dar conta. — Eu falei sincera. — E se eu der? Vou jogar meu esforço fora? Eu me esforcei pra entrar na faculdade. — Eu falei com um leve pânico por dentro.

— Sabe, Ki, ás vezes não acontece isso. Você se esforçou, mas talvez para isso. — Ele falou sentando do meu lado. — Vou ser sincero agora. Você jogou uma baita oportunidade fora quando recusou ser a Ferrari girl. Você poderia ficar famosa, mostrar seu trabalho através disso, mas resolveu ignorar essa oportunidade. E você estaria jogando outra oportunidade fora se recusasse ser professora, mentora, de jovens que vão se espelhar em você porque acha que se esforçou exatamente para isso. — Ele falou e eu respirei.

— Eu sei, mas além disso tem meu país, eu amo lá. Eu não queria abandonar tudo o que tenho. — Eu falei arrumando desculpas.

— O Brasil não vai sumir do mapa do nada. — Ele falou segurando minha mão. — Seus pais e seus amigos sempre vão falar com você. Caso eles parem, eles são idiotas. Devem ficar felizes por você, sempre vão estar com você. — Ele falou e eu respirei fundo.

— Promete que vai me ajudar com tudo? — Perguntei e ele abriu um sorriso.

— Sempre. — Falou adorável.

— Me dá uma caneta. — Eu pedi e ele saiu correndo procurando uma.

— Não temos uma caneta. Podemos ir comer e depois assinar lá. — Ele falou e eu sorri. Ele estaria ao meu lado. 

Polaroid | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora