O urso

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As pessoas costumam dizer que antes da morte vemos toda nossa vida passar em um instante. É irônico, mas durante toda minha vida fiquei me perguntando o que eu veria nesses instantes finais. Seria uma vida boa, com muitos amigos e uma família feliz? Ou seria uma vida com vários amores e festas? Tentei fazer com que cada momento valesse a pena reviver na morte, mas para ser sincera, muitas coisas saíram como nunca havia imaginado.
Uma vez eu ouvi que dias ruins também chegam ao fim. E por muito tempo acreditei nisso.

Achava que haveria dias que a tristeza seria invisível, e em outros seria um urso que te abraça e te consome, te deixando imóvel na cama. Meu urso era problemas ao passar o cartão de crédito, discussão com meu irmão mais velho, estresse sendo uma atleta.
Conforme o tempo ia passando, o urso começou a crescer, e de repente se tornou um enorme elefante africano caído sob mim me sufocando.

Então me vi presa na beirada desses dias ruins, como se fossem loopings infinitos impossível de escapar, sem saber se cair era prisão ou livramento. Percebi que esses dias eram eternos e iriam me assombrar para o resto da minha vida, até na hora da morte. E assim seria meus últimos suspiros, entre alegrias e desesperos.

Eu não passei por muitos momentos de epifania na minha jornada. Para quem não sabe, essa simples palavra significa o entendimento de todas as coisas, a fatídica hora em que olhamos ao redor e compreendemos os fatos, as essências, e nos sentimos realizados.  De fato, há coisas que até na minha morte eu não entendi, e o sentimento de realização jamais me alcançou. Apenas sei que tudo começou com um simples tabuleiro dentro do armário de um menino morto.

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