You can run, but never escape.

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Acendemos as lanternas. Não fazia uma luz extremamente potente, porém era o suficiente para iluminar os caminhos a frente e não deixar que pisássemos em qualquer buraco. A luz da lua também ajudou muito naquela noite, estava cheia e brilhava como eu nunca tinha visto antes. Após perambular com um pouco de medo e frio, vimos uma chama distante e fomos para lá. Havia uma fogueira acessa e várias coisas ao redor. Salgadinhos, balas, chocolates, e claro, bebidas alcóolicas em uma cor estranha.

-Parabéns, meus nobres guerreiros. Vocês cumpriram a primeira parte da missão. Derrotaram o dragão e entraram na floresta proibida. -Anunciou o mestre. Nós sorrimos vitoriosos. -Mas... agora, para vocês se deliciarem com suas recompensas, precisam achar objetos escondidos neste espaço, que ajudará cada um em sua missão final.

-E como saberemos o que é pra nós? -Perguntei.

-Simplesmente saberão.

Começamos nossas buscas individuais aos arredores. Estava ficando cada vez mais frio e com o ar denso, estava me sentindo um pouco sufocada. Num lugar cercado de árvores, é normal que tenha barulho, mas havia apenas um silencio ensurdecedor. Estávamos tão focados que acabamos deixando esses detalhes passarem, e hoje eu desejo que tivesse sido esperta e notado.

Dash achou primeiro, uma corda pendurada em uma árvore enorme. Emma achou uma estaca afiada de madeira jogada em um arbusto, e Lexie achou umas sementes redondas em um galho, sequer sabia se era venenoso ou não. E eu, por último, usei minhas mãos para desenterrar uma pequena caixa que acabei sentindo embaixo da terra com meus pés. Dentro, havia a coroa que perdi em uma das missões por ter falhado, estava no mesmo estado e talvez até mais brilhante. Nós levantamos nossos objetos para mostrar uns aos outros.

-Muito bem. Agora, vamos à comemoração! -Ordenou o mestre, e nos juntamos em volta da fogueira para comer e beber.

-Eu amo seus brownies, Lexie. -Confessou Emma, se deliciando com os pequenos bolinhos de chocolate. -A gente precisa fazer mais festas assim nas próximas missões.

-Essa é a penúltima, né... -Murmurei, mordendo um alcaçuz.

-É... -Os quatro suspiraram.

-Falando nisso, qual é a última missão? -Perguntou Dash, com a mesma curiosidade que o restante.

-Bom, no livro diz... -Ambrose puxou o manual. -Precisam enfrentar os vingadores.

-Tipo...os da Marvel? -Falou Lexie, mas claramente não era esse tipo de vingadores.

-Será que vai aparecer mais alguém? -Adivinhou Emma.

-E aqui também está escrito que precisamos tomar um gole do veneno antes da batalha. Aqueles que sobreviverem, triunfarão e ganharão conhecimento. Precisamos falar umas palavras... -Ambrose lia com expressão de mais confusão que nós. Era difícil entender o que o jogo pedia, porém daquela vez foi diferente... não fazíamos ideia do que significava, e era tarde demais para recuar.

-O veneno pode ser o álcool. -Sugeri, colocando o liquido nas taças, era vermelho como sangue. Cada um pegou uma taça e bebeu, o que foi o suficiente para me fazer ter tonturas. Desceu na garganta como fogo rasgando, em nenhuma festa jamais bebi algo com esse sabor. -Isso é tão horrível, quem comprou? -Ninguém respondeu. O silencio pairou enquanto fazíamos caretas feias e bebíamos.

-Não exagerem. -Advertiu Ambrose. -Não quero ser responsável por quatro bêbados depois.

-Cara, é mais fácil a Maeve cuidar de nós do que você...sem ofensas. -Declarou Dash, nós rimos, era uma meia verdade.

-Eu sou a primeira a cair, lamento. -Afirmou Emma, ela não é boa com bebidas. Nossas famílias costumavam passar o Dia de Ação de Graças juntas, e era o único dia liberado pra tomar champanhe sem ser no natal e ano novo. Após três taças, ela apagava totalmente e Ethan levava ela para a cama.

Em meio àquela mansidão de mato, ouvimos um barulho, como um galho sendo quebrado. Olhamos assustados em volta, e não mexemos um sequer músculo. Cheguei a pensar ser alucinação daquele '' veneno'' que tomamos, mas as vozes apareceram. Duas garotas, dois meninos, que a gente conhecia... Eram alunos da escola, aqueles que havíamos sacaneado na primeira missão. Não tínhamos ideia do que eles estavam fazendo ali, porém nosso primeiro instinto foi apagar a fogueira e se esconder nas árvores.

Fomos cada um para um canto. E os quatro chegaram onde estávamos. Viram as coisas jogadas no chão, e ficaram enfurecidos.

-Onde esses filhas da puta estão? -Gritou um deles, suponho que fosse do time de futebol. Rapidamente, algo tomou conta de mim. Uma vibração diferente. Era pura alegria, da cabeça aos pés, fazendo todos meus pelos ficarem arrepiados. Uma vontade enorme de gargalhar e rir surgiu nas minhas entranhas, e eu não pude segurar.

-Apareça!! -Mandou Claire, do time de atletismo. Aquela vadia que reclamou de mim para a treinadora... Emma rasgou todas as suas roupas, ela teve que usar uniforme de corrida da escola e isso a estressou muito.

Um deles avançou para as sombras onde me escondia, e eu corri. E todos começamos a correr em círculos, dançando... As palavras do livro saiam da nossa boca como uma linda melodia...Eu conseguia sentir meus pés na grama, sendo espetado por fiapos, mas não sentia dor nenhuma. Apenas um formigamento, me continuar... Os valentões no centro do círculo se incomodaram com nossa felicidade, e eles tentaram nos machucar...

Fiquei completamente chateada. Paramos na frente deles, e os encaramos enquanto eles gritavam. "Suas aberrações'', "vocês são doentes", "vamos quebrar a cara de vocês", eu me lembro dessas palavras. Acabei me dando conta que essa era nossa missão, derrotar os vingadores, que vieram se vingar pelas coisas que fizemos. Eu conseguia sentir as energias de cada um, o ódio que sentiam, mas a pior das energias não vinha deles. Era algo maior, com mais força, que estava se alimentando e crescendo, e ia explodir. Eram tantas energias pesadas que eu não conseguia ver nada direito, estava tudo muito borrado e girando.

Uma garota começou a correr. Eu não sabia quem era, ou para onde ia, e todo meu corpo me mandou ir atrás. Minhas pernas corriam mais rápido do que em qualquer treino, qualquer competição. Eu estava livre, correndo como um lobo, o frio sequer me incomodava. Me permiti sentir todas as sensações que podia provar, e meu peito se encheu de angústia e satisfação. Senti paixão pela lua, euforia pela correria, tristeza pela minha vida. Medo, alegria, desespero, gratidão, desespero, força. Como eu me senti grande...e infinita. Como se eu ouvisse minha música preferida pela primeira vez. Era como amar.

-Você pode correr, mas nunca escapar. -Lembro de gritar, mas não sei porque. Eu respirei, e não havia sinal de vida. Naquele momento eu perdi o controle, e senti como se já tivesse morrido. A garota não estava mais correndo, aquela sensação explodiu...E eu caí...

EpifaniaOnde histórias criam vida. Descubra agora