Crazy Dreams

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De repente, acordei desse sonho louco com o despertador gritando. Pulei da cama eufórica, pensando ainda estar caindo naquela floresta. Parecia tão real.... Mas não poderia ser. Provavelmente eu acabei vindo para o dormitório e desmaiando de sono depois da aula, como já aconteceu anteriormente, e por isso não lembro de quase nada que se passou no dia anterior. É impressionante como nossa mente consegue nos enganar e alterar acontecimentos sem que a gente perceba, como uma defesa, um remédio. Existem coisas que esquecemos para sempre, e outra que nunca conseguimos parar de lembrar.

Sentada na cama, senti algumas tonturas estranhas e dores nos pés. Porém, a aula já ia começar, então me vesti rapidamente e corri para chegar a tempo. Era como se eu já tivesse passado a noite inteira correndo, o que me assustou um pouco.

-Ei... –Chamou Ambrose vindo atrás de mim. –Acabei me atrasando hoje, foi mal.

-Você se atrasando? Que estranho. –Ri. –Tomou os remédios na hora certa?

-Uhum. –Respondeu meio vagamente, o que me deixou preocupada. Se ele não tomar todos na hora certa, sabe se lá o que acontece. –Você, por acaso, ah... teve uma noite estranha hoje?

-Sim, eu... –Estava falando e andando até a sala, quando apareceu Dexter ao nosso lado.

-Eai. –Falou ele, com um sorriso no rosto. –Suas caras estão péssimas. Deram uma festa e não me convidaram?

-Não seja ofensivo, a cara do Ambrose é sempre péssima. –Brinquei, e entramos na sala até nossos lugares.

-Dormiu com um palhaço hoje, Maeve? –Perguntou Ambrose, sendo debochado como sempre.

-É apenas a bruxa má do oeste sendo ela mesma. –Debochou Lexie, sentando atrás de mim.

-Tão adoráveis. –Riu Dexter, ao meu lado.

-Também amo vocês, meus grandes amigos. –Murmurei, abrindo o caderno quando o professor entrou na sala.

Um pouco depois, a chamada foi feita. Ivy, a garota do mesmo time que eu, não respondeu. Olhei para a cadeira dela, e estava vazia. Me subiu um repentino frio na espinha, senti meu coração pulsar além do normal, minhas mãos suando, a perna balançando. Eu pensei em chamar Ambrose e conversar sobre o que sonhei, ou qualquer outra pessoa que estava lá, mas... Às vezes é melhor não falar absolutamente, nada para ninguém.

-Você tá bem? –Sussurrou Dexter, se aproximando de mim. Meu estômago resolveu brigar comigo e expulsar tudo que comi nos últimos dias, sai correndo da sala em direção ao banheiro o mais rápido possível. Talvez todos tenham ficado me olhando e se perguntando o que houve e o professor pode ter ficado um pouco bravo, porém foi difícil de controlar tanta ansiedade e pânico como costumava fazer.

Parecia que minhas tripas iriam sair pela boca, junto com meu coração e todos os outros órgãos. Nunca havia passado mal daquele jeito, o que me fez questionar o que diabos tinha comido. O vômito só tinha uma cor avermelhada, meio rosado, e totalmente líquido. Dei descarga após uns cinco minutos vomitando, e me sentei no chão. Minhas mãos pararam de suar, e eu estava ficando mais calma gradativamente, embora com uma sensação extremamente péssima. Eu só queria deitar e ficar em silêncio organizando meus pensamentos que apareciam como flashes, ficava tudo preto e de repente era o banheiro novamente. Uma voz ecoando me chamava, e eu não sabia de onde vinha, eram vozes diferentes...

-Maeve?? –Dexter apareceu na frente da porta da cabine que eu estava, parecendo preocupado. –Eu posso pegar água, se você quiser, quer que eu te leve na enfermaria?

-Eu... Tá tudo bem. –Respirei fundo, sequer me importando no chão sujo em que eu estava jogada. Minha voz estava fraca, e meu corpo mais ainda. –Eu não quero ir pra enfermaria.

-Tem cert... –O encarei com uma cara feia. –Eu vou ficar aqui, então. –Ele se sentou no chão ao meu lado.

-Pode voltar pra aula, foi só algo que eu comi.

-E te fez vomitar desse jeito? Estava estragado há meses. –Rimos sutilmente. –Eu posso te ensinar a ser vegetariana, se quiser.

-Nós somos atletas, obrigados a comer carne.

-Bom, não eu. Já faz um ano que não como nenhuma carne sequer.

-E seu treinador fica feliz com isso?

-Eu já sou meio grandinho, sabe... Faço as coisas que derem na telha.

-Nah, não faz não.

-É?

-Você não quer ser....um jogador. –Acabei encostando minha cabeça no ombro dele, sem perceber.

-E o que eu quero, Maeve? –Dexter virou seu rosto para mim, e nos encaramos. Meus olhos foram lentamente se fechando, eu não conseguia responder sua pergunta. Desde que conheci ele, ou que eu lembro de ter conhecido, vejo em seus olhos uma ambição diferente do que vi em todos os meus colegas de esportes. Demorei para decifrar o que era... –Preciso te levar para seu quarto. -O mesmo me levantou e me apoiou em seu corpo.

Os corredores estavam vazios, apenas nós dois juntos caminhando em direção aos dormitórios, meio sorrateiros. Confesso que o motivo de eu não querer ir para a enfermaria, é que havia criado um trauma de tantas vezes que acabei indo parar lá no ano anterior. Foram tantas vezes, que um médico especial veio apenas para me examinar, e concluir que era tudo psicológico meu para ir para casa. Não queria ir e fazer todos pensarem que era apenas frescura minha, passei a guardar tudo que sinto para mim mesma e tentar absorver e deixar ir.

Em um canto, atrás de uma coluna, enxergamos Ellie sentada encarando o nada. Era uma amiga que eu cultivei por anos, porém o destino acabou por nos separar. Depois que começou a namorar, se tornou uma garota introvertida, mesmo simpática, e incrivelmente linda com os cabelos ondulados e loiros. Conversamos um dia ou outro, nada tão profundo. Entretanto, nunca havia a visto daquele jeito. Logo, notou nossa presença se aproximando.

-Ela tá bem? –Perguntou ela, espantada, com o rosto vermelho. Porquê todos estavam fazendo essa pergunta nesse dia?

-Não, ela vomitou horrores agora pouco, tipo muito, botou tudo pra fora, foi nojen...

-Dex! –Repreendi e o calei, antes que falasse demais. –Eu só preciso deitar, relaxa.

-É, tô levando ela pro dormitório... mas não tenho certeza do caminho... –Confessou ele, meio envergonhado.

-O quarto dela está super longe ainda, não é melhor levar na enfermaria? –Sugeriu Ellie, inocentemente. Ficava várias vezes puxando a manga da sua camiseta, que cobria até o pescoço.

-Não! –Respondemos Dexter e eu, juntos.

-Credo... –Murmurou ela, desviando o olhar para baixo. Notei que usava calças de moletom largas, algo que raramente fazia.

-Quer saber? Vamos deitar na grama. –Falei, não me aguentando mais de pé. A vontade de vomitar estava voltando, e a única coisa que sempre me acalmou foi deitar em silêncio. Os dois me colocaram na grama, de baixo de uma árvore, e eu olhei as nuvens. 

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