Tic Toc

43 9 8
                                    

Enquanto andava pelos corredores, algo me chamou a atenção na sala de música. Me aproximei da porta, e espiei pelo vidro, um menino alto, com os cabelos preto, liso, passando do ombro. Estava com o moletom cinza escuro da escola, sentado na frente do piano tocando uma linda melodia, uma música que eu não conhecia. Suas mãos eram grandes e pálidas, tinha uma borrachinha em seu pulso direito, nunca o tinha visto antes. Mais tarde, ouvi o nome dele na chamada da aula de química, em que ele sentou ao meu lado...Dexter. Esse nome não passava muita segurança, se pensarmos no serial killer ou no final trágico do filme One Day, meu preferido. Porém, ele era diferente.

-Como vocês aguentam esse cara falando assim? –Sussurrou, chegando próximo a mim. Seu caderno estava com várias anotações bagunçadas e desenhos pela folha, e seu cabelo estava amarrado. De fato, o nosso professor tinha uma maneira peculiar de pronunciar as palavras. Um pouco cuspindo, um pouco fanho, misturando química com divórcio e seus filhos. Apesar disso, ele era um ótimo professor.

-Só tenta não sentar na frente... –Dei um longo suspiro. –Você não sofre bullying com esse seu cabelo?

-Eu deixei crescer depois que me seguraram no vestiário e cortaram a força. –Riu, olhando para mim. –E você?

-Prazer, fósforo. –Confirmei, dando um sorriso sarcástico e anotando as coisas que estavam no quadro.

-Bem-vinda ao clube, então. –Murmurou. Parei de copiar e o olhei por um instante.

-Eu te conheço? –Cerrei os olhos, confusa. Sentia que já ouvira aquela voz calma outra vez.

–Não teve um déjà-vu agora, Maeve?

-E como o Sr. Creepy sabe meu nome?

-Tenho meus contatos. –Sugeriu, e me olhou com aquele olhar misterioso clichê dos filmes, e o sinal ecoou na sala inteira. Peguei minhas coisas e sai, dando um sorriso cínico ao Dexter. Na porta, encontrei com Ambrose e fomos comer nosso lanche na grama do campus.

-Você viu aquele aluno novo? Eu vi ele tocando na sala de música... depois a gente sentou juntos... ele me perguntou sobre meu cabelo e algo sobre déjá-vu e sabe meu nome... –Estava discutindo e gesticulando com as mãos sem parar sobre aluno novo, até perceber que eu era a única dizendo alguma coisa naquela conversa e respirei um pouco.

-Tá falando do Dexter? –Após dizer isso, o dito cujo apareceu na nossa frente, igual um espírito mal invocado.

-Ambrose! –Exclamou Dexter, e os dois se cumprimentaram na maior intimidade. Então, imediatamente entendi o que estava havendo.

-Você conhece ele? Eu já disse mil vezes pra não ficar falando de mim pra qualquer estranho que você conversa. –Me indignei, ambos riram de mim.

-Maeve, nós já conhecemos ele há muito tempo atrás. Não sabia que tua memória estava tão ruim assim. E ele é meu novo colega de quarto. –Zombou Ambrose, me deixando confusa. –Eu já tinha te falado que Dexter estava vindo pra nossa escola, ele era de outra cidade e nossos times de futebol já se enfrentaram tipo umas mil vezes, e ele sempre está nas festas.

E subitamente acabei lembrando. Isso torna as coisas mais constrangedoras, já que poucas pessoas que me conhecem nas festas gostam de mim, confesso que fico levemente alterada. Eu já tinha visto esse menino no final de todas as partidas de futebol que eu ia, mas minha mente apagou totalmente a existência disso depois que parei de ir nos jogos.

-Ah, certo...Sabia que te conhecia de algum lugar. –Claramente era mentira, não fazia ideia.

-Tudo bem, não levo as coisas para o coração. –Afirmou Dexter, sorrindo e me olhando nos olhos. É, aqueles olhos... Naquele momento, percebi que ele tinha o poder de ver o nosso interior apenas com um olhar, e isso me assustou. –Podem me ajudar a achar a sala do treinador? Acho que me perdi...

EpifaniaOnde histórias criam vida. Descubra agora