Capítulo 2- Sonhar

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Toni POV

Bom, primeiro dia de aula. Pra quem já repetiu e terá que refazer o segundo ano pela terceira vez, o primeiro dia de aula não é tão legal assim. Sim, tenho dezessete anos, estava preste a fazer meus dezoito. Por causa de faltas e essas coisas, repeti dois anos o segundo ano. Eu já poderia estar tentando bolsa para uma faculdade essas horas. Mas cá estou eu, refazendo meu segundo ano. E como de costume em uma escola nova. Mais dessa vez vou ficar lá permanentemente, não por apenas um ou dois bimestres. Isso até me assusta um pouco, talvez minha fama de "A garota motoqueira" se espalhe rápido. Mas nem vou de moto agora.

É, quem sabe esse não seja um recomeço tão ruim assim. Principalmente pelo fato de que poderei ver aquela belíssima ruiva diariamente. Mesmo que seja só vê-la, sem poder toca-lá.

Digamos que dormir com Verônica não é a melhor coisa do mundo. A mulher se meche tanto que ao acordar apenas uma de suas pernas estava em cima da cama, o resto de seu corpo jogado em cima do tapete de crochê que nossa avó fez antes de falecer. Como ela foi parar no chão? Dormimos na mesma cama, como conseguiu essa proeza? Mas o que realmente importa, como seu sutiã foi parar em cima dos meus cabelos?

Ok, isso não importa agora. O que importa é que eu preciso de um café bem amargo. E de meus fones, ela com certeza vai acordar falando que está com dor. Foi em direção ao banheiro, meu dia só começa com um bom banho quente, principalmente nesse frio de outono. Nossa casa aqui é maior do que o nosso antigo apartamento. Pelo menos alguma coisa boa tinha que vir dessa mudança. O quarto de Verônica está em reforma, já que tem traças até o teto. Até resolverem isso, tenho que dormir com essa desmiolada.

Depois do longo banho quente, fui até minha mala procurar algo para vestir. A preguiça nos pegou em cheio no dia de ontem. Nem mesmo retirei minhas roupas das malas e já te tenho que ir a escola. A brisa gélida iria permanecer o dia inteiro, nada melhor que um belo look de frio. Optei por um moletom marrom claro, quase beje, junto à uma jaqueta com estampa de exército bem quente. Uma calça jens de lavagem clara ragasgada junto à um sapato branco qualquer. Passei um creme para definir um pouco melhor meu cabelo, e fiz uma maquiagem do dia a dia.

Verônica ainda dormia feito uma pedra. Agora de cabeça para baixo, suas pernas e seu tronco sobre a cama e sua cabeça para fora, fazendo seus cabelos escuros tocarem o chão. Como ela parou nessa agora? Só sei que peguei meu chinelo e bati na coxa dela. E como esperava, a bonita acordou na hora gemendo de dor.

- Porra Toni.- Verônica falou passando a mão pelo local que bati na tentativa de amenizar a dor.

- Sem palavrões Vee, agora somos meninas de vila. Nascidas e criadas nos padrões.- Digo com certo deboche na fala.

- Se fosse tão padrão não estaria com essa roupa.

- O que tem minha roupa?

- Deveria estar com uma saia longa e meia calsa. Tipo aquelas velhas de oitenta anos que vão na igreja rezar todos os dias.- Ela disse se levantando.

- Eu que não vou deixar meu estilo para trás pra virar uma freira rebelde.

- Ok irmã rebelde, vou tomar banho. Que horas são afinal?

Procurei Meu celular pela cama. Ao encontrar quase tive um infarto. Iríamos perder o primeiro dia de aula.

- Cinco e meia. Anda logo Verônica. A menina lá disse que o ônibus não espera.- Digo procurando minha mochila em algum lugar correndo para preparar meu café.

Por sorte, mamãe já estava preparando nosso café da manhã. Não me surpreendi ao não ver papai conosco nesse café. Ele trabalha de uma forma desumana, mas tudo para nosso sustento e pela saúde de meu avô. Mesmo com um pé na cova o homem continua firme e forte. Ou quase.

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