Ainda que muito esteja perdido, muito nos resta; e ainda que perdida a força dos velhos dias que movia céus e terras; somos o que somos; uma coragem única nos corações heroicos, débeis pelo tempo e pelo destino, mas persistentes em lutar, achar, buscar e jamais render-se.
- Alfred Tennyson
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Lynn
Me encontrei com Tisan na ala norte do castelo, em uma das grandes sacadas que havia construído. O lugar era bem posicionado, com vista para todas as partes daquelas terras. Dava para ver a praia de onde eu estava, bem distante, mas a escuridão do mar era inconfundível.
Fazia poucas horas desde que havíamos enterrado Vizeu e marcamos de nos encontrar novamente ainda naquela noite, depois que tirássemos a sujeira da guerra de nossa pele.
Eu o vi chegar com passos leves e calmos, seus cabelos estavam emaranhados e molhados ainda, e mesmo com a pouca luz dava para ver que tinham um tom castanho claro. Vestia uma camisa azul escura que cobria toda a extensão de seu braço e uma calça comum e velha que provavelmente conseguiu emprestado de alguém.
Todas as vezes em que vi seu rosto ele estava de uniforme, inclusive na guerra quando ainda se vestia como alguém da Guarda Vermelha. Essa era a primeira vez que eu o associava com um garoto comum mas que poderia ter mais idade do que eu poderia contar. Ele era tão velho quanto Kian.
- Tem certeza que não prefere descansar? Podemos nos falar amanhã - perguntei, notando sua feição triste e exausta.
- Não vou conseguir dormir - sua voz ecoava branda enquanto ele encostava as costas no parapeito do balcão e cruzava os braços - A não ser que você queria, claro. Passou por tanta coisa hoje, usou muito de sua magia, deve estar querendo dormir.
Neguei com a cabeça, meu corpo poderia sim estar no limite, mas minha mente não desligava e eu sabia que não conseguiria pregar os olhos, então preferi escutar o que quer que ele tivesse para contar.
- Achei que conseguiria acabar com todo esse pesadelo hoje, mas acabou tudo piorando.
- Seria doloroso de qualquer forma, Lynn. Na guerra muitas vidas são perdidas. Um reino pode acabar saindo vencedor, mas famílias sempre sofrem a perda daqueles que caem. No fim, são sempre as lágrimas que ficam.
- Como foi resgatado? - questionei.
- Anir me libertou de uma cela bem no fundo do navio de Hazor, ele queria me ter como refém quando estivesse em frente a Misac, pois sabia que ele iria querer matá-lo.
- Anir? - perguntei, tendo um leve momento de esquecimento - Ah sim, Arthur.
- Sim, Arthur. Preciso me familiarizar com os novos nomes de meus companheiros. - ele riu, tirando os fios de cabelo que teimavam em ir pros seu olhos.
- No fim ele foi morto pela própria filha - finalizei - talvez seja uma maldição nessa família, sabe? Hazor matou o pai, agora Kira matou o dela. Que linhagem maluca.
- Sua linhagem maluca. - ele me lembrou - E Hazor não matou Darius, ele apenas o retardou.
Fiquei em silêncio por um tempo. Kian havia me contado que era possível trazer Darius de volta, nós tentamos e falhamos.
- Estamos com o livro Dourado, Tisan. Tomei ele de volta diretamente de Eidolom. Estava confiante em trazer Darius de volta para nos ajudar na guerra. Depois de uma reunião que tive com os outros sobre como faríamos para atacar Hazor, eu, Kian, Lou, Arth e alguns outros pegamos o livro e pensamos que conseguiriamos finalmente realizar isso. Eu já havia aprendido a ler, estava usando bem os elementos e meus outros poderes. Mas quando abri estava em uma língua antiga, uma língua que nunca havia visto na minha vida. Como ninguém além de mim consegue ver o livro por conta da magia, tive que detalhar a Kian os símbolos que via, mas nem ele soube interpretar. Achei que era impossível que Kian não soubesse de algo nesse mundo, quero dizer, ele está aqui há tanto tempo.
Tisan apoiou os cotovelos na perna e passou a mãos no rosto, extremamente exausto. Ele me fitou por um tempo e a luz refletiu o cinza sereno de seus olhos. Eu sabia que neles deveriam ter histórias horripilantes dos milhares de anos que ele viu seu corpo agir por Hazor.
- Essa língua se chama Keintgart. Ela é mais antiga do que Kian e do qualquer um de nós.
- Como sabe disso? - perguntei, um pouco esperançosa.
- Passei milhares de anos naquele castelo infeliz, apesar de estar controlado pela magia, Hazor me fazia ser o cérebro dele e me pedia para ler os livros que ele tinha em sua biblioteca. Mas ele só me pedia para contar as histórias do pai com a Deusa da Lua, ele acha que nada aconteceu antes disso. Hazor era tolo, só pensava em seus interesses. Mas graças a Deusa o controle da magia negra é literal, você só precisa falar o que a pessoa pergunta, fiquei consumindo conhecimento antigo desde então, absorvendo o que meu corpo lia. Hazor não conheceu a magia profunda.
- Magia profunda? - questionei, confusa.
- É complicado, tenho muita coisa para te contar. Tudo isso Lynn, tudo o que estamos envolvidos é muito mais do que você pensa. Essa guerra começou muito antes de nós, muito antes de Griffin. É uma guerra de Deuses.
Arqueei as sobrancelhas surpresa.
- Achei que Ayla era a única deusa desse mundo.
- Não, existem outros. Darius meio que era um deles, mas não totalmente - Tisan suspirou alto e me deu um sorriso singelo - tem certeza de que não quer descansar? Essa história é muito longa.
- Me conte tudo, Tisan.
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Aiii, não vejo a hora de contar para vocês finalmente toda a história desse mundo. Ainda temos muitas aventuras, romances e dores para ver. Espero que vocês gostem!!!
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Canção da Guerra
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Canção da Guerra - Livro 2
Fantasía*É necessário ler "Depois das Chamas" para entender esta história. Sangue e morte devastou as aguás de Além do Mar. Kira, filha de Hazor, tomou o poder da magia negra para si, e agora não quer apenas Ermont para governar, ela deseja toda a Keevard...