13 - De Volta à Fenda

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A chama murmura, a chama geme

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A chama murmura, a chama geme. A chama é um ser que sofre. Sombrios murmúrios saem desse inferno. Toda pequena dor é a representação da dor do mundo.

- Gaston Bachelard

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Lynn

A velocidade de Louíse era surreal comparada a de todos os outros. Ela abriu um caminho enorme entre nós, e quando finalmente chegamos no subsolo do castelo, direto para os corredores que ligavam várias partes de nosso mundo, ela atravessou o portal e sumiu entre as pedras.

Segundos depois atravessei com Arth em minha cola. A mudança de paisagem foi brutal. Da luz enfraquecida das tochas antigas para o início da manhã que despontava em Ermont. Estávamos na Fenda, de volta ao antro rebelde protegido pela magia.

Lou ainda corria, direto para a cabana onde antes eu morei por meses, ninguém havia dito para ela que Callum estava lá, mas é como se ela sentisse e ninguém contestou, apenas continuamos seguindo-a.

Ao entrarmos na cabana, alguns dos rebeldes já estavam nos esperando. Lou disparou para o quarto e congelou quando viu o corpo de Callum paralisado na cama e iniciou uma série de perguntas para os dois rebeldes curandeiros que estavam no quarto cuidando dele.

Entrei ofegante com Arth, enquanto Lou se ajoelhava ao lado da cama tocando o rosto de Callum com delicadeza enquanto escutava com atenção como os rebeldes haviam achado o garoto jogado no chão da floresta. Tisan e Carl ficaram na porta, um pouco mais afastados de nós ouvindo o que tinha acontecido também.

Os cobertores estavam na altura do peito dele, e uma bandagem úmida foi posta em sua cabeça enquanto suor escorria pela têmpora. Seu rosto sempre pálido estava mais avermelhado devido a febre aparente, mas seu corpo e seu rosto estavam estáticos, como se realmente estivesse morto.

Lou abriu levemente seu olho direito e olhou para mim, tensa. Da onde eu estava consegui ver a cor azul, como o céu da manhã brilhando nas íris sem estímulos dele.

- Não estão mais escuros - disse Lou.

Arth se ajoelhou ao lado dela e a abraçou, vendo que Lou começava a ter medo de perdê-lo novamente. Meu coração se apertou ao ver aquilo e senti um arrepio estranho enquanto encarava Callum. Ele havia mudado, dava para sentir.

Senti um pequeno toque em minha mão, que serviu para me tirar daquele transe, Tisan agora estava ao meu lado, fazendo um leve movimento com a cabeça para que eu o acompanhasse até a parte de fora da cabana.

Sai com ele sem que ninguém percebesse, já que as atenções estavam em Callum e Louíse, voltamos para a parte externa andando tranquilamente até que Tisan parou embaixo de uma árvore incrivelmente grande, boa o bastante para nos proteger do sol que já dava as caras.

- Não queria falar isso lá dentro, principalmente na frente da Lou, apesar de achar que ela deve ter percebido o que aconteceu. Mas acho que Callum foi assassinado.

Suspirei alto, cansada demais para ficar pensando nas tragédias que continuavam a se desenrolar, sem nenhuma pausa. Estava acordada não sei há quantas horas e meu corpo dava sinais de que iria desabar a qualquer momento. Ótimo, eu queria mesmo que isso acontecesse.

- Você falou que ele tinha uma marca de Eidolom? - perguntei

- Acredito que sim. Lou me contou que ele tinha um símbolo na costela, um que nem ela reconhecia e que Callum estava caçando o que significava. Quando eu estava tomado pela magia das trevas eu o via na biblioteca também, lendo os mesmos livros que eu lia. Ele também conhece a magia profunda. E de alguma forma, se Kira o matou tendo Eidolom dentro dela, então o Callum que está naquela cabana vai acordar diferente daquele que vocês conhecem.

- Eu sinto uma energia diferente, tenho quase certeza que vem dele. E o que farei se ele acordar e decidir que nós somos os inimigos? Eu terei de matá-lo? - Não queria imaginar uma coisas dessas, mas nas atuais circunstâncias.

- Não, Lynn. Acredito que seja páreo para o que ele é agora. - olhei-o frustrada com aquelas palavras.

- Consegui desafiar Eidolom no Mundo Sombrio e tive ele em minhas mãos, acho que posso dar conta, Tisan.

- Não, Lynn. Você desafiou Eidolom em sua menor forma. Agora ele tem um corpo físico e ainda está se recuperando. Se ele conseguir de volta suas forças, que Ayla nos ajude, mas estaríamos perdidos.

Ele devia estar certo. Tisan conhecia mais da magia negra do que eu e tinha muitos anos de poder e informações. Discordar dele seria tolice demais.

- O que vamos fazer agora, minha rainha? - perguntou ele, me olhando diretamente. Era a primeira vez que ele me chamava assim desde que me conheceu, e o peso daquilo desceu como um martelo em meu coração.

- Vou fazer Arth e Lou vigiarem Callum enquanto ele não desperta, você volta comigo para Ghalan, Tisan. Eu não posso me ausentar de lá agora nem se eu quisesse.

- O que descobriu? - perguntou ele, olhando agora para as minhas vestes manchadas ainda por aquela gosma verde e seca.

Então contei para ele o que aconteceu na floresta, sobre as lembranças da criatura que enfrentei e também da ameaça que Eidolom fez a Kian.

Quando terminei o maxilar dele estava trincado e de sua postura tensa demais. Ele havia entendido que Eidolom estava mantendo um exército pronto para atacar bem abaixo dos meus pés.

- Me pergunto o motivo dele não as ter soltado enquanto estávamos no mar. Por que ele não tomou Ghalan para si quando estava desprotegida? - falei, ainda tentando juntar as peças do plano demoníaco daquela besta ancestral.

- Por causa dos portais, acredito. - disse Lou, aparecendo bem atrás de nós e com os olhos vermelhos - Você tem acesso a Ermont e provavelmente também a Thangnall e Derorn. Se ele enfraquecer a magia, os portais não vão responder direito a luz e vão ficar abertos tempo suficiente para ele atravessar as criaturas para todas as terras de uma única vez. Ganhando Keevard novamente para si e tendo a oportunidade de reacender o Caos.

Lou estava destruída, dava para ver. Física e mentalmente, mas isso não impedia com que a melhor estrategista de batalhas que existia parasse de pensar por um segundo.

- Pensamos no que fazer mais tarde, está bem? - falei, enquanto colocava minhas mãos em seus ombros - fique com Callum, tente dormir da forma que puder, eu vou fazer o mesmo. E depois decidimos o que fazer, juntos.

- Você está certa, não pode ficar aqui - continuou Lou - Tem que voltar para Ghalan e vigiar essas criaturas. Leve Tisan consigo e estarei com você assim que Callum despertar.

Assenti e dei um abraço em minha amiga, apertado o bastante para ela se sentir confortável. Ela era tão forte e corajosa, às vezes desejava ser mais como Lou, como a guerreira lendária que sempre ouvia nas histórias sussurradas nas fogueiras. A destemida Neale.

- Antes de ir... - começou Lou e apontou para outra direção da floresta.

Ela estava direcionando meu olhar diretamente para quem exatamente eu precisava. Meu pai estava em frente a uma pequena barraca com os olhos marejados, olhando para mim e esperando que eu fosse até ele.

E foi o que eu fiz.

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Canção da Guerra

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