Como tudo funciona.

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Capítulo Nove.

Como tudo funciona,
Como tudo tem que ser.

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A vida tem as melhores ironias guardadas para serem jogadas na existência de cada pessoa, e Gael parecia ser agraciado por estas a cada segundo desde muito novo. Irônico ou não, os acontecimentos da sua vida pareciam girar em torno de suas paranoias e receios, medos e inseguranças, desejos e esperanças.

Primeiro quando mais novo, o pequeno Gael William supria essa paixão pela piscina de sua casa, era como seu escape dos dias tempestuosos, uma das únicas partes que preservavam a infância do pequeno, de modo que o tornava a criança mais feliz quando mergulhava na mesma. Caso Dada, sua cuidadora e governanta, procurasse pelo pequeno e não o encontrasse, era o primeiro lugar o qual a mulher o buscaria. E é desse ponto que partimos a primeira ironia surgida na vida do pequeno: o medo d'água.

Como algo que o fazia tão feliz, de repente o deixava tão apavorado.

Como poderia um de seus poucos escapes daquela imensa casa, tornar-se parte do vazio que a mesma era.

Bem, o fruto disso tinha nome, sobrenome e compartilhava de sua casa vazia e pais ausentes. Alexandra Duah Caprestco, ou melhor, Alexis. Ela era uma garota marrenta que andava batendo os pés por toda a casa quando queria algo ou simplesmente por querer fazer sua presença ecoar nos pisos de todo cômodo. Era três anos mais velha que Gael e parecia ter três anos a menos quando deixava que suas birras ecoassem pelos cômodos e paredes.

Alexis era sua prima mais velha e que, segundo seus pais, deveria ser seu espelho. A pior parte era como era comum que entre jantares onde senhor e senhor Duah, seus pais, estavam em casa ao mesmo tempo e entre uma garfada e outra ouvir:"William, você deveria ser mais como Alexis.", eles diziam isso mais vezes do que poderia ser esperado. E de fato, o pequeno Will até mesmo chegou a tentar se convencer sobre isso, sobre ser como a garota mais velha.

Sua aparência já era similar, os cabelos ondulados e claros, as peles amendoadas e sorrisos infantis e olhos comumente desfocando-se para pontos que ninguém compreenderia. A diferença era o comportamento. O jeito que a garota lidava com as coisas e tratava as pessoas o acoava. Gael nunca seria como Alexandra, e aquilo irritava aos seus pais, principalmente quando o pequeno entendera que jamais se tornaria a prima.

A garota passou a ser reflexo de seus medos, o que tornava-se pior quando o pai da mesma, depois de outra longa viagem, voltava para casa. Os dias de Gael tornavam-se um pesadelo. Não apenas pela comum a devoção pela garota Alexandra, mas pelo conjunto que o assustava. No entanto, essas lembranças eram escovadas para longe, afugentadas para o mais distante que pudesse colocar.

Os olhos acinzentados do jornalista voavam para fora da janela, para imensa piscina que antes não havia visto que existia. Aquele colégio circense era maior e mais surpreendente do que imaginava. Os circenses que performavam e saltavam, mergulhando e submergindo com a graça que poucos teriam ao fazer as peripécias que faziam.

"Se quiser, podemos descer e eu te apresento alguns dos nossos artistas e nadadores." A voz de Heitor soara perto.

Eles estavam no segundo andar do primeiro prédio, onde ficavam as salas de treinamento e fisioterapia. O andar era dividido em três, sendo a maior para academia e saltos, treinamento de solo, a segunda maior para treinamento aéreo, e o terceiro para fisioterapia, massagem e banheiro. Antes que o filho de Rose lhe mostrasse como funcionavam, o mesmo insistiu para pararem nos bancos que ali tinham e Gael terminasse seu lanche.

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