O começo de um sonho...

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O primeiro dia de estágio de Ana numa revista online foi peculiar.

Era um sonho para ela desde criança, trabalhar em uma revista, mas ela não sabia que em dez anos as coisas mudariam tanto a ponto de revistas de papel não serem mais tão atraentes, e olha que ela tinha verdadeira loucura por elas, principalmente pelas páginas sobre moda, ela recortava as modelos, inclusive suas cabeças, deixando apenas as vestimentas, se aquilo fosse como um boneco de vodu, aquelas mulheres estariam perdidas. Foi daí que todo mundo percebia que a paixão da menina iria ser moda, e assim foi.

Mas também fácil não era.

Ana não vinha de família rica, inclusive era a primeira a poder estudar numa faculdade por conta de um incentivo estudantil do governo, ela pensou bem antes de escolher Moda, será que não deveria escolher algo mais seguro? E o sonho ainda era trabalhar numa revista? Mas quando ela percebeu que nada seria seguro demais pra ela, fez a sua escolha.

E lá estava em seu terceiro ano de faculdade, ao contrário da maioria dos colegas não queria começar uma marca com criações próprias, usar roupas extravagantes e ser uma estilista excêntrica vagando por aí, ela queria saber mais da parte conceitual da coisa e ser uma espécie de Miranda Priestly d'O Diabo veste Prada na mais básica hipóteses de sua imaginação fértil e ambiciosa.

O estágio era obrigatório nessa altura do curso, o que deixou Ana preocupada, mas para seus amigos de classe não era problema, um conseguiu estágio com a tia, outro com a amiga, outra com a mãe e por aí foi.

Para Ana não sobrou nada a não ser bater de porta em porta. Tá, não porta em porta. Mas de email em email.

Já havia mandado milhares deles quando finalmente recebeu um e-mail que dizia para ela ir a sede da revista VIBEZ, hoje em dia online, na Vila Olímpia na segunda feira, às 11h.

Não havia mais detalhes, era isso.

Ana, no auge dos seus vinte e poucos de idade, se sentiu criança mais uma vez até que esse fatídico dia não chegasse. Que roupa deveria ir? Essa era uma questão primordial.

Chegado o dia. Segunda. Ana estava no trem, não conseguiu pegar um lugar pra sentar, mas também não estava desconfortável. Ouvia uma música no seu fone de ouvido, os olhos vidrados no nada, parecia até triste.

Escolheu um modelito seguro pra ela, calça jeans clara de cintura alta, sapatilha preta e branca inspirada em uma Chanel clássica já bem velhinha que ela usava mais nessas ocasiões de entrevistas de emprego e uma camisa branca de algodão. Amarrou o cabelo em rabo de cavalo e pronto.

Ao descer na estação, consultou seu celular com o endereço mais uma vez, rodou de um lado a outro na rua e não achava o bendito lugar, seus pés já estavam sendo castigados pela Chanel imitação, quando um enorme caminhão saiu da frente de uma fachada e era lá. Ainda bem que Ana estava adiantada no horário pois sabia que coisas como essas costumam acontecer (com ela).

Do lado de fora o endereço não parecia grandes coisas, mas ao entrar... o lugar não deixava a desejar nada ao que se imagina como uma sede do Google em qualquer lugar do mundo. Ana teve até dificuldade de saber se era mesmo a revista online ou um enorme bar hipster. Ao chegar na recepção e informar seu nome, pode constatar que era ali mesmo.

Ana sentou- se e esperou calmamente. Até que veio uma moça de cabelos curtinhos chamá-la, simpática ao extremo, beirando a falsidade.

" Sente-se, querida".

Ana sentou.

A mulher apresentou a vaga, tinha inúmeras atribuições que ela sempre intercalava com um benefício de trabalhar lá. Ás vezes terá páginas extras 2 horas antes do lançamento da revista mas tinha " café a vontade ", muitas vezes tudo o que for pauta terá que ser trocado de última hora mas tinha " mesa de bilhar" , " é estágio mas não significa que a pessoa não tenha que trabalhar exatamente apenas seis horas por dia até porque tem " sala de descanso ".

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