Ana já estava no trem como agora o caminho era de volta, conseguia lugar pra sentar.
Parece que tinha enfrentado um leão. Cansada mais pelas interações sociais do que pelo trabalho. Ela já havia decidido que não iria mais pra faculdade naquele dia.
Chegou em sua casa, e abriu seu quarto que funciona como um templo pra ela. Se jogou na cama. Olhando pra cima.
Inúmeros recortes de modelos sem cabeça na parede, alguns desenhos colados com fita isolante, fotos polaroids, o quarto tinha iluminação rosa avermelhada por conta de um cordão de pequenas luzes, uma arara de roupa sobrecarregada e mais um closet aberto.
Ana se senta e atira longe as sapatilhas da vergonha.
Respira fundo. Pega seu celular na fatídica tela com o contato de JP.
Porque ele fez aquilo? Com que direito? O que aquilo significava? Porque ele não esperou um momento mais protocolar pra trocarem números de telefone? O que não iria demorar num local de trabalho! Porque ele foi tão gentil naquele deserto de pessoas interessadas nela? E o mais importante:
Porque ele tinha que ter namorada?
Com isso, temos que aqui fazer uma leve recapitulada na vida amorosa de Ana, ou seria a vida não-amorosa de Ana?
Ela sempre foi uma menina focada no que queria profissionalmente, então nunca deu muito espaço a isso, muito influenciada por sua mãe que a criou sozinha. Ana também demorou muito pra começar a se achar bonita além do que, gostava mais de viver relações na sua cabeça do que na vida de fato.
Na primeira série teve uma paixonite aguda num coleguinha de classe, pra surpresa dela ele a pediu em namoro. Aquele namorico infantil de no máximo mãos dadas e o título "namorada ou namorado". Fato é que esse primeiro namoradinho terminou com ela no mesmo lugar que a pediu em namoro no dia SEGUINTE.
Aquilo confundiu muito Ana.
Ela queria saber o que deu errado em tão pouco tempo? Seria o cabelo dela? A roupa? Por muito tempo evitou de usar a mesma roupa que usou naquele dia e a mãe nunca entendeu o porquê.
Seria outra pessoa?
Sim, era outra pessoa. O coleguinha já andava de mãos dadas com outra no mesmo dia.
Sempre era outra pessoa. Qualquer pessoa era mais interessante que Ana, ela pensava. Fisicamente ou Intelectualmente...
E ela se voltou tanto para si que nem percebeu que ficou muito diferente de outras pessoas e inconscientemente desistiu de 'encontrar alguém'.
Portanto nunca teve um relacionamento mesmo. Apenas relações rápidas, beijos, amassos e mais recentemente para ela, encontros casuais para sexo.
O que depois de acontecer, Ana sempre se sentia mal, porém iria recorrer a isso quando sentisse que necessitasse muito, como algo apenas fisiológico. Para ela não havia amor. Não existia tal coisa e ela já estava convencida.
O que João Pedro queria que ela fizesse?
O que ela deveria fazer?
Ele era praticamente seu chefe, deveria ignorar a investida? E se lhe demitisse? Poderia ser enquadrado em assédio o que ele fez?
Ana acalmou-se.
Se lembrou de como foi a cena. Ele colocou seu contato, mas não chegou a salvar, provavelmente porque foi interrompido pela chefe direta de Ana.
Diria algo depois?
Ou fez aquilo pra Ana decidir por ela mesma, se iria salvar ou não?
Perguntas sem respostas. E Ana com a imensa sensação de estar num lugar onde nunca se sentiria bem e que a única pessoa com que ela se identificou e fez uma certa amizade tinha uma conduta duvidosa.
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Hotel dos Corações Partidos
RomansaAna, estagiária de moda se apaixona pelo chefe do departamento de música da revista onde trabalham. Saudosistas como são, resolvem criar um clube do analógico no centro de São Paulo, onde apreciariam entre outras coisas fotografia analógica e disco...