Ana passou o domingo todo em seu quarto, sua mãe estava de folga, mas ela não estava no humor pra confraternizar. Assistiu algumas séries deitada na cama, seus olhos estavam inchados e ela nem tinha chorado.
Se preocupava com a volta ao trabalho na manhã seguinte, se envergonhava de seu comportamento esquisito e imaturo do outro dia e principalmente porque agora as cartas estavam dadas. João Pedro teria que ser muito burro para não entender que Ana nutria sentimentos por ele. Temeu até ser demitida. Usariam qualquer desculpa e ela seria carta fora do baralho.
Ela tinha mesmo era vergonha. Por que não soube segurar mais a onda? Ela já sabia que ele tinha namorada, negava o fato? Negava. Em algum lugar, fantasiava que era uma relação de fachada? Sim. Mas não era nada confirmado.
O fato é que ela não teve tempo de racionalizar que ele não tinha ido ao encontro pelo clube que inventaram e sim porque realmente já passaria por lá, não escolheu os discos porque queria agradá-la e sim porque era a escolha mais fácil, não quis entrar no hotel para investir fisicamente nela e sim porque ela disse que queria.
Estava tudo exposto.
João Pedro não estava a fim dela e nunca esteve. Obviamente. Senão, não traria a história da namorada.
Ou o que pensava? Que Ana o consolaria?
Em algum canto da inconformidade de Ana, ela ainda pensou que talvez ele estivesse provocando-a, pensando que ela poderia "solucionar" sua solidão.
Mas ela se lembra de como os olhos dele estavam ao falar da namorada, não parecia isso e seria o cara mais idiota se tentasse coisa parecida.
Ainda tinha Karyne, porque ele parecia tão à vontade com ela? Neste momento não pensava em Isabella?
Eram mágoas, perguntas e medos que Ana lidava naquele domingo.
A segunda chegou e ela tinha que ir de encontro a seus problemas.
Dessa vez foi direto a copa e tomou café junto com as funcionárias de lá, tentava mascarar sua dor, mas não foi tão feliz nessa questão. Se preocupava, pois, o dia inteiro teria que estar no mesmo espaço que JP, além de estar envergonhada ainda tinha que sentir ciúme dele e de Karyne.
Subiu para sua sala em cima da hora.
Quando avistou um movimento estranho no andar.
Os funcionários dos departamentos de Gastronomia e Música carregavam caixas pra lá e pra cá.
Teriam sido demitidos?
Pelas conversas que Ana pescou: Não. Apenas haveria uma mudança de salas, esses dois departamentos iriam para outro endereço, pois essas salas seriam destinadas ao departamento de Automóveis.
Era doloroso pra Ana tudo que ela tinha vivido nos últimos dias, mas também não queria ser separada de JP para sempre. Mas seria, pelo menos geograficamente.
Ele saiu da sala segurando duas caixas enormes, enquanto Karyne dizia
"tem certeza? Eu posso levar também!" Mas ele negava e levava sozinho, por este motivo não viu que Ana observava o movimento. Passou direto.
Ana ficou semi desesperada, teve vontade de se jogar na frente e gritar
"NÃOOOOOO"
Era o caso de ruim com ele, pior sem ele. As colegas do seu departamento eram péssimas, chatas, futéis, insuportáveis! Como ela iria sustentar uma conversa sem ter vontade de revirar os olhos?
Ana entrou enfim em sua sala, meio atordoada pensando nisso, ligou seu computador sem o menor ânimo.
Maria Fernanda puxou assunto "Você vem de carro pra cá, Ana?"
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Hotel dos Corações Partidos
Roman d'amourAna, estagiária de moda se apaixona pelo chefe do departamento de música da revista onde trabalham. Saudosistas como são, resolvem criar um clube do analógico no centro de São Paulo, onde apreciariam entre outras coisas fotografia analógica e disco...