E nasce o clube do analógico

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No trem, sentada, agora a caminho da faculdade. Pensou melhor sobre o que acontecera, aquelas mulheres queriam envergonhá-la? Desmascará-la? Algo assim? E a sororidade? Apoio entre mulheres? Não era grande coisa que houvesse um cheiro de café e grande coisa que Ana tivesse de esconder que derramou café em sua própria blusa, mas por que ela se sentia tão mal e semi humilhada? Ainda bem que foi salva indiretamente por... João Pedro.

Estava difícil não nutrir sentimentos por alguém tão gentil e que parecia se importar com ela de verdade, em outros níveis.

Ana não tinha esquecido que JP tinha namorada, só que ainda aquilo não tinha a incomodado tanto quanto...agora?

Como um desespero, fechou a tela de música do seu celular e entrou nas redes sociais, por todas elas procurou o nome dele, nome inteiro: nada. Apenas o primeiro e sobrenome: nada. Apenas o nome composto, menos ainda.

Era invisível digitalmente?

Como ela ia julgar sua vida baseada em imagens recortadas agora? Como ela ia comprovar suas suposições que o tipo de namorada dele era como as suas colegas de trabalho: esnobes, frescas, mal caráter e alienadas?

A hora ideal pra Ana simplesmente deixar pra lá e não se envolver mais, sentiu até calor, tirou o blazer. O cheiro da camiseta lhe chamou atenção, não, não era de café, era o cheiro dele, não parecia ser de nenhum perfume comprado, já era aquele cheiro que todo mundo passa a ter o seu, conforme os anos passam.

O pior agente da saudade de casais apaixonados. Caramba, ela tava com uma peça de roupa dele, já era a segunda vergonha que passava em frente ao moço e ela não se sentia mal por isso, ele sempre sabia "arrumar".

E como seria pra devolver? Que estranho seria. Ela tinha dois dias de estágio e já estava assim?

Na aula Ana, que só agora tinha sentido o baque de trabalhar e estudar ao mesmo tempo, não conseguia prestar atenção em nada.

No intervalo, sua única amiga, Rafaela, de outro curso aparecia.

"Oi Ana! Não te vi ontem!"

"Eu faltei, comecei num estágio e não pude vir."

"Aí sim! Onde é?"

"Na revista Vibez."

"Legal lá?"

"eh..." fez Ana um 'mais ou menos' sonoro.

"Nenhum gatinho lá? Só assim pra eu me animar em qualquer coisa..."

Disse Rafa.

Ao dizer isso, parece que se abriu um portal pra Ana, ela não tinha percebido até então que precisava desabafar sobre tudo, não só sobre JP, mas sobre tudo. Ela e Rafa nunca foram confidentes, mas aquele momento parece ter mudado as coisas.

Ana contou tudo, amenizando uma ou outra coisa. Mas contou e finalizou dizendo que o tal rapaz tinha namorada.

Rafaela a olhou seriamente enquanto sugava seu refrigerante pelo canudinho.

Disse "Pelo que você disse ele quer dar a entender que não é chefe de nada é só um funcionário como qualquer outro, quer ser amigão de todo mundo! E todo mundo sabe que a melhor coisa pro proletariado é falar mal da chefia, mas aí ele como filho do dono não deixa ninguém a vontade pra isso"

Ana ri e diz "Pois é..."

"Então, eu acho que ele pode estar a fim de algo mais com você ou só tá fazendo a parte recursos humanos da empresa, no fim ele deve se sentir excluído também, ninguém deve confiar nele e ele viu em você, que é nova lá, a chance de mudar isso."

Hotel dos Corações PartidosOnde histórias criam vida. Descubra agora