Capítulo 3 - Prometidos

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Ao sair pela porta da frente de fininho, deixo para trás Liz contando com entusiasmo – mais uma vez – que ela está pensando em virar uma atleta. Disse que está treinando para uma prova, mas com sua capacidade de correr fora do normal duvido que não vão contratá-la. Javier e Mike querem criar um fã-clube, mas a garota insiste que eles somente vão envergonha-la. Carina cochichou no meu ouvido nesse momento "imagine esses dois criando alguma coisa juntos" em um tom de descrença e não pude deixar de rir.

Apesar de desfrutar da companhia de todos os presentes, não consigo deixar de lado a falta de ar que sobe quando estou perto de muita gente. Preciso de um momento para respirar, ou vou enlouquecer lá dentro e não será nada agradável. Para ninguém.

Dirijo-me a um balanço de madeira, pendurado no teto, da varanda de Jane. Limpo um pouco da neve com as mãos e sento devagar, tomando cuidado para não molhar o vestido. O vento está mais gélido do que nunca, mas é reconfortante, de alguma forma. Ele traz para mim o cheiro de dama-da-noite que Jane tem plantada no jardim.

Corro a mão pela corrente e dou um impulso com o pé no chão, fazendo a cadeira balançar vagamente. Na rua posso ver as casas vizinhas com janelas acesas, e pessoas circulando lá dentro. Quase consigo ouvir as risadas e conversas, como escuto atrás de mim. Em uma, três crianças passam correndo para outro cômodo. Na outra um casal troca carinhos, sentados de frente um para o outro. Me pergunto por um instante o que eu estaria fazendo em casa agora, se minha mãe ainda estivesse viva.

Eu não consigo parar de pensar nela, ou em Lúcia, ou em Evan. Como Dylan, James e Jane conseguiram superar isso? Parece tão difícil que todos os meus esforços de seguir em frente se assemelham a uma corrida de tartarugas. E eu seria uma delas. Talvez seja esse o motivo de eu estar me sentindo meio avulsa a alegria espontânea de todos. O único que pareceu pensar sobre isso durante a noite foi Mike. Mas no momento seguinte ele já estava rindo.

O que Will disse fica, estranhamente, martelando na minha cabeça.

"Lembre-se de que devemos comemorar pelo tempo que vivemos com as pessoas que amamos e não nos lamentar porque elas se foram." – Será que é assim que deveria ser?

O rangido da porta se abrindo me faz sacudir a cabeça, voltando a realidade. James põe a cabeça para fora e assim que me vê ergue as sobrancelhas. Fecha a porta atrás de si e noto que está com um casaco na mão. Me olha como se eu fosse louca.

–Ei – diz com os pés hesitantes, sem saber se avança ou fica onde está – Congelando um pouco?

Ele franze o nariz em uma careta quando um vento bate nele.

–Aham! Me descongele quando podermos andar em carros voadores – brinco, tentando fazer parecer que estou descontraída. Funciona, porque ele abre um sorriso fraco e se aproxima. Me movo no banco, permitindo que sente do meu lado.

–Então eu preciso congelar também para te avisar quando isso acontecer. – James joga nos meus ombros seu casaco preto e não sei dizer se arrepio porque eu realmente estava com frio, pelo cheiro dele que exala do tecido ou por esse gesto mostrar que ele ainda se importa.

–E quem vai descongelar a nós dois? – insisto na história, sorrindo com o canto dos lábios.

–Alguém em um carro voador e com um bom coração – responde com convicção e nós dois rimos. –Achei que você ia me mandar embora, dizer que queria ficar sozinha.

Detecto logo de cara o sarcasmo em suas palavras. Encaro meus dedos, soltando um suspiro. James tem todo o direito de ficar com raiva de mim, mas se veio para ficar jogando isso na minha cara então acho melhor manda-lo embora mesmo.

O Quinto ElementoOnde histórias criam vida. Descubra agora