A filha de meu marido

1K 120 40
                                    

Fora mais uma noite mal dormida, e mais uma manhã na mesma posição, sentada na cadeira de sua cozinha vazia, desfrutando de sua paz efêmera. 

- Belo dia tia Z! - Sabrina disse entrando no cômodo com um sorriso de orelha à orelha.

- Sabrina? Você? Pronta no horário certo? Satan puxou seu pé? - A ruiva respondeu surpresa pela pontualidade da sobrinha.

- Hoje o dia promete, tia. - A jovem constatou com brilho nos olhos. - Ambrose chega de viagem e eu tenho um novo professor para intimidar. 

- Pegue leve com a nova professora. - A ruiva orientou-a lembrando-se da simpática morena.

- Hum Zelda... Como sabe que é uma mulher? E por quê o repentino zelo por mortais? - A garota provocou a tia. 

- Eu mesma a indiquei para o cargo, é uma boa mulher Sabrina, não me desaponte. - A elegante mulher repreendeu a mais nova dando-lhe um olhar severo, o único que Sabrina respeitava. - E sobre seu primo, não teria expectativas, sua chegada foi precedida por chuva, não há de ter boas notícias. 

- Zelda Spellman sempre tão pessimista, olhe para o céu, o sol está radiante! - A bruxinha disse mexendo os dedos e olhando para a janela.

- Não se atreva! - Zelda levantou com rapidez agarrando a mão da menina. 

- Eu não ia fazer mesmo. - A garota debochou soltando-se da tia.

- Sei que não ia. - Zelda retrucou ironicamente. 

A garota sorriu novamente e andou até a porta para se retirar da cozinha.

- E da próxima vez que me chamar pelo nome teremos um problema. - A ruiva falou em um tom autoritário e alto. 

- Sim tia. - A menina respondeu temendo o tom utilizado e retirou-se de vez da cozinha. 

Zelda tentava ler seu jornal, mas seus pensamentos viajavam, Sabrina seria realmente capaz de alterar o clima? Aquela menina estava cada dia mais poderosa e inconsequente. 

Sem muito mais tempo para refletir a bela mulher apagou seu cigarro matinal e voltou para os afazeres do dia. 

Deixou Leticia no hotel e sentiu um certo desapontamento por não esbarrar com a morena alta de belos olhos aquela manhã. Se despediu da irmã e partiu para a academia. 

Sem vontade alguma de encontrar com Faustos, Zelda foi direto para a primeira sala em que daria aula no dia. Antes mesmo que abrisse a porta ouviu vozes vindas de dentro da sala. Aproximou-se e percebeu que se tratava de Faustos e uma mulher cuja voz ela não conseguia identificar. Abriu a porta sem medir esforços em não fazer barulho, uma boa entrada era mesmo necessária naquele momento.

- Zelda, chegou cedo, imaginei que passaria em minha sala antes de ir para cá. - O sumo sacerdote disse ao ver a esposa entrar. 

- Claro que imaginou. - Ela respondeu com ironia. - E esta quem seria? - Zelda questionou referindo-se à jovem mulher que acompanhava toda a conversa.

- Essa é Prudence, minha namorada tia. - Ambrose respondeu entrando na sala sem fazer barulho. 

- Meu sobrinho. - Zelda disse em um tom maternal quase nunca utilizado e foi abraçá-lo.

- Além de namorada de Ambrose, Prudence é minha filha... - Faustos anunciou passando os braços pelo ombro de Prudence. 

Um choque percorreu a coluna de Zelda, é claro que em um relacionamento como o dela e tendo o marido que tem, era de se esperar filhos de outras mulheres, mas ela não contava com tamanho desrespeito, apresentar-lhe uma filha? Daquela idade? Ela havia tentado convencê-lo de dar-lhe um filho por décadas e agora ele lhe apresentava uma filha mais nova que seu próprio casamento. 

- Prazer em conhecê-la Prudence. - A ruiva disse sem transparecer seus sentimentos e estendendo a mão para a menina.

- Estou muito contente em te conhecer, papai falou muito sobre você. - Prudence respondeu ignorando a mão de Zelda e partindo para um abraço. 

- É claro que ele falou. - Zelda comentou totalmente desconfortável nos braços da menina que não a soltava. 

- É melhor irmos Ambrose, Prudence e Zelda têm muito para conversar. - O sumo sacerdote disse, retirando-se da sala com Ambrose logo atrás. 

- Meu pai me prometeu um estágio e deixou claro que eu deveria aprender com a melhor professora dessa academia. - A menina relatou com toda alegria do mundo. 

- E eu suponho que essa sou eu. - A ruiva concluiu revirando os olhos. 

Foram cinco longas horas ao lado daquela jovem extremamente curiosa e exitada com o trabalho.  Zelda retornou para casa cansada e sem acreditar naquela menina, a existência dela agredia seu casamento e o futuro de Leticia, mas era realmente uma jovem dedicada, cheia de vida e muito respeitosa, qualidades que sua sobrinha não dava importância.  Entrou em casa e cogitou passar direto para o quarto, mas a família se reunia na sala e ela não poderia ficar de fora.  Entrou na sala e todos olharam para ela, confusa percorreu o cômodo com os olhos e logo entendeu, Prudence estava lá. 

- Esqueci minha bolsa na academia. - Foram as únicas palavras que saíram de sua boca.

Ela se virou e saiu de casa como um furacão. Ambrose fez menção de ir atrás da tia, mas Hilda o impediu dizendo que ela precisaria de um tempo e que tudo ficaria bem.

Lilith voltava de seu primeiro dia como professora e já procurava um lugar para afogar o estresse com uma boa bebida, algo que ela considerava impossível naquele fim de mundo que alguns corajosos ousavam chamar de cidade. Deu algumas voltas pelo centro até passar pela frente de um lugar com a fachada repleta de vidro, o que lhe possibilitava plena visão do interior. Já ia passar reto por conta da decadência do local, mas jurou ter visto uma ruiva desacompanhada sentada no bar, segurando um copo com uma bebida de caráter questionável, então resolveu entrar.

- Eu não beberia isso se fosse você. - Lilith provocou a ruiva assim que entrou no "bar".

- É a única bebida que presta nessa espelunca. - A ruiva respondeu virando-se e encarando a mulher nos olhos.

- Que tal arranjarmos algo que preste? - A morena retrucou aproximando-se, satisfeita por ter reconhecido aqueles cabelos cor de fogo. 

- É uma oferta atrativa. - Zelda disse levantando-se em direção à porta e passando muito perto de Lilith, perto o suficiente para que a morena ouvisse sua respiração. - Mas não posso aceitar.

- Qual seria o problema? Tenho certeza que sua irmã pode cuidar de sua filha por mais algumas horas. - Lilith tentou convencê-la.

Zelda surpreendeu-se e afastou-se um pouco mais, parecia que a mulher de belos olhos havia lido sua mente.

- Vamos Zelda, uma noite de loucuras não irá lhe fazer mal algum. - Lilith insistiu pegando no braço de Zelda.

- Estou sóbria demais para dizer que sim. - A ruiva concluiu, sendo puxada para mais perto por Lilith.

- Não seja por isso...






Olá meus amaldiçoados, estão ansiosos pela noite de loucuras que está por vir? Eu não vejo a hora de escrever o próximo cap. Espero que estejam gostando!! Um beijo e eu volto... 




Hideaway Onde histórias criam vida. Descubra agora