- Então vai ser assim? Passará os seus últimos minutos em silêncio? - A ruiva rodeava o mastro e batia seu chicote na palma de sua mão.
- Não dirá novamente que somos criaturas nojentas? Não implorará por perdão? - A morena continuava, enquanto perambulava pelo convés e mantia contato visual com ele.
Ele permanecia em silêncio, mas sua feição demonstrava o quanto ele estava amedrontado.
- Sabe, você pode ter a falsa sensação de que se não tiver uma reação nós teremos dó. - Lilith voltou a dizer.
- Pobre iludido, nós temos tudo, menos dó. - Zelda interrompeu. - Vai ser o seguinte, te desamarrarei e eu e você lutaremos. O diferencial dessa luta é que o perdedor já está definido e tenho certeza de que esse papel não me pertence. - A ruiva aproximou-se novamente do mastro e mandou as cordas caírem, consequentemente deixando Blackwood cair também.
- É uma bela vista por aqui, não acha Zelda? - Lilith apoiava-se nos limites do barco.
- Concordo, quem diria que o mar dos afogados poderia ser tão inspirador... - A ruiva respondeu sentindo a brisa balançar as mechas de seu cabelo.
Blackwood acabara de se levantar e tentava se acostumar com o balançar do barco. Suas pernas ainda estavam bambas, a cabeça girava um pouco e os pulsos ardiam.
- Terei uma espada? - Ele pronunciou as primeiras palavras desde que entrara sob custódia de Lilith.
Zelda e Lilith gargalharam.
- Achávamos que você era um feiticeiro, nos enganamos? - Elas responderam em uníssono e retornaram a rir.
Zelda retirou colocou o chicote no banco, Lilith sentou-se para apreciar o show e Blackwood armou os punhos.
- Teremos apenas uma regra, não podemos encostar um no outro, tirando isso qualquer feitiço é permitido. - A ruiva disse antes de andar até Lilith e dar-lhe um beijo na testa.
- Isso parece tão infantil. - Blackwood comentou.
- Pois então diga-me, qual criança bruxa é capaz de fazer isso? - A ruiva virou-se e fez o peito de Blackwood apertar-se.
- Entendi... - Ele respondeu curvando as costas e tentando inspirar o ar.
Faustos invocou as águas e tentou atingir Zelda, que com um impulso fez a onda se transformar em pequenas gotículas, que não foram capazes nem de molhar seus sapatos.
Zelda retribuiu, lançou sobre Faustos uma nuvem que a princípio parecia inofensiva, mas que com um pouco de imaginação rodeou a cabeça dele e tornou-se líquida. Fazendo movimentos bruscos Blackwood foi capaz de desfazer a nuvem antes que o confuso "aquário" o afogasse.
- Quer ajuda querido? - Lilith perguntou levando o copo de bebida, que ela havia arranjado, ao ar simulando um brinde.
Blackwood revirou os olhos e partiu para outro elemento da natureza, visto que a água não estava a seu favor.
Lançou terra, convocou os ares e até se arriscou com o fogo, mas nada foi o suficiente para parar Zelda, que parecia implacável.- Desiste? - A ruiva gritou de longe enquanto ele tentava se recuperar de seu último ataque mal sucedido. - Sabes que pela lógica meu próximo elemento é o fogo, não sabe?
Ele concordava com a cabeça e tentava aceitar que aquele era o seu fim.
- Vá em frente, eu mereço. - Respondeu por fim.
- As chamas do inferno nunca o perdoarão por todos aqueles que indignamente sofreram em suas podres mãos. - Lilith juntou-se à Zelda.
De mãos dadas as duas já sabiam o que estava por vir, trovões ecoaram no céu e no instante que o fogo foi lançado deu-se para ouvir a lamuria de um filho da igreja da noite retornando à pólvora.
- Satisfeita? - Lilith olhou fundo nos olhos de Zelda.
- Sim, suas palavras foram inspiradoras. - Zelda respondeu sentindo-se mais realizada do que nunca.
- Pois escute o que eu tenho a lhe dizer. - Lilith levou a ruiva até a ponta do grande barco e a fez sentar-se ao seu lado. - O que eu tenho a lhe propor não é apenas um pacto, muito menos um contrato, o que tenho a lhe propor jamais será desfeito. Assim que eu lhe entregar meu coração e dedicar-me a somente tocar a ti, quero que me dê em troca tudo aquilo que lhe darei, quero que passamos a sermos nós e nunca mais somente eu. Prometa-me também que se um dia resolver me deixar levará contigo minhas mãos, elas não me servem se não forem para te tocar, aproveite e carregue meu coração que além de estar em pedaços se tornará inútil, pois me recuso a amar alguém que não seja você. Quero ser seu porto seguro e também me refugiar em ti, quero sentir que finalmente estou pronta para fazer parte de algo além de uma criação falida. Quero que minha pergunta sempre tenha uma resposta, quero ouvir o seu sim.
Zelda ouvia aquelas palavras e mal acreditava nos sons que saíam da boca de Lilith, não cria que pela primeira vez era capaz de aceitar coisas como essas de bom grado, mas finalmente entendia o que era estar segura e apaixonada.
- Prometo me entregar a ti assim como tu se entregou a mim, prometo não lhe deixar só, confesso que não teria forças para carregar suas mãos ou seu coração, estaria muito fora de mim se um dia lhe abandonasse. Digo-lhe que minha resposta será sim, para o resto de nossa existência. - A ruiva respondeu sendo o mais sincera possível.
Beijaram-se sutilmente, prestando atenção em cada movimento que compartilhavam e então houve um momento em que parecia que o mundo já poderia acabar, mas ambas estavam cientes de que tudo acabara de começar.
Olá meus amaldiçoados, e então finalmente chegamos ao fim. O que acharam dessa história? Deixe seu feedback por favor, foi muito bom escrever e melhor ainda ler os seus brilhantes comentários. Obrigada por cada leitura, isso foi muito importante pra mim. Um beijo e esse foi o fim ♡
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Hideaway
RomanceFugindo em um casamento abusivo, Lilith busca novos ares e acaba encontrando em uma cidadezinha cheia de mistérios e pessoas muito interessantes, incluindo uma certa ruiva, em um casamento não monogâmico pouco convencional.