• O Alarme •

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Era sexta, um pouco antes do relógio apontar seis horas da noite, e mesmo assim eu insistia em ficar vidrado naquela televisão, da mesma forma que Taehyung chupava algo pelo canudo, onde o barulho irritante me obrigava a tirar meu foco. Porém era como se eu precisasse assistir, reviver aqueles momentos, eu tinha que entender os motivos, eu tinha que chegar a uma conclusão.

Hoje fazia três anos que Kai, o filho da senhora Wang havia sido morto em frente a população de Down City, e os noticiários insistiam em comentar as mesmas histórias farsantes de sempre. Colocando Yoongi D como o herói de Neon, que para mim aquele título não passava de uma mentira — Heróis salvam, não matam um amigo de infância.

_ Está vendo o noticiário de novo Jungkook? Não cansa de ver sobre isso? — apenas o olhei seriamente, mas aquele sorriso quadrado parecia que implorava por atenção.

_ O que foi Taehyung? Para de ser chato, sei que adora assistir isso também. — Respondi tomando o último gole de suco, antes que Hoseok começasse a chamada.

_ Não que eu adore assistir Jungkook, mas fico pensando na garota, o que aconteceu com ela? — ele se debruçou com os olhos vidrados, esperando que eu respondesse o que ele queria escutar — Você a conhecia, não é?

_ Nunca! — pisquei, enquanto ele revirava os olhos.

Lógico que a conhecia, a questão não era dizer que eu e Kiva era próximos, o problema maior era que se eu começasse a falar da garota, minhas opiniões divergentes com a maioria iriam surgir, e eu não tinha paciência para me explicar.

Ao contrário de Yoongi, Kiva se saiu como a ajudante do crime, e simplesmente foi mandada para Privil, a única coisa que sabia sobre a família Wang, é que no dia que Kai havia sido morto, alguns soldados foram a sua casa e atearam fogo, diziam que sua mãe tinha morrido queimada lá dentro.

E o sobrenome Wang foi proibido de existir, e se alguém fosse relacionado a eles, eram mortos, além das lendas urbanas que criavam sobre isso, era ridículo ver as pessoas falando mal de uma família que não conheciam.

Eu os conhecia, e eles não eram assim.

_ Vamos falar de outra coisa Tae. Ganhou muita gorjeta na quinta feira?

_ Claro que não. Quem é que vem a procura dos meus serviços na quinta feira? Você sabe que as pessoas só vêm para o bar quando você canta e isso acontece aos sábados. — O máximo que podia fazer era dar risada de sua justificativa, o que não deixava de ser verdade.

Quando eu me apresentava a casa lotava Mas do que adiantava estar em um lugar com várias pessoas me agradando, sendo que por dentro me sentia apenas um garoto isolado, receoso pelo que Neon havia me forçado a se tornar, era um caminho sem voltas.

_ Sim eu sei, sou a atração principal!

_ Não seja convencido. — respondeu ele voltando a sugar sua bebida vermelha.

Eu e Taehyung tínhamos a mesma idade, ele era dançarino e acompanhante de luxo no Burlesque. Era um dos mais concorridos das senhoras ricas de Neon, todas faziam lances milionários para passar uma noite com ele, lhe davam presentes caros e o agradavam como podiam, mas no final de algum atendimento, todo mundo sabia que algo estava errado: quando pegávamos distribuindo seu dinheiro para algumas famílias pobres, além de encontrar seus presentes no lixo. O fato era que Taehyung vivia triste, insatisfeito e todos nós sabíamos bem como era este sentimento.

Quando vim com 15 anos para Neon, acreditei que eu pudesse ter uma carreira promissora, de advogado, médico, alguma profissão grande, mas ao chegar no internato Lúmutos, demorei para entender que as pessoas não estavam interessadas nos conhecimentos que eu tinha para oferecer a sociedade, e sim na minha aparência.

Welcome to Neon - Além dos Muros V.01Onde histórias criam vida. Descubra agora