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A magia não é de todo ruim, não era pra ser. Luna nunca conseguiu compreender porque permitiam que maldições fossem criadas e passadas entre bruxos. Seus pais a ensinaram que era preciso ser gentil com todos, porque nunca se sabe pelo que a outra pessoa está passando. Nunca permitiram que a filha fosse injusta ou egocêntrica. E, mesmo com apenas cinco anos, era ensinada a sempre dividir o pouco lanche que levava para a escola no norte espanhol.

O pai, renomado auror, um bruxo com habilidades imbatíveis em duelo, com rápido raciocínio lógico e agilidade em seus movimentos, jamais imaginaria que seria covardemente atingido pelas costas em um duelo. A mãe, Angelita, uma escritora de romances trouxa, com mente fértil para romances e histórias trágicas, não escreveu, no entanto, história tão dramática quanto o de seu fim e de seu amado marido.

Guildo, seu jovem tio, com os mesmos olhos bondosos da irmã e um dom inigualável para a música, mesmo com seus treze anos, já se apresentava no pub noturno que seu pai, um trouxa rechonchudo que preparava as melhores tortillas de toda a Espanha, comandava. Não imaginava que suas noites seriam regidas por uma condição que lhe causaria dor suficiente para fazê-lo largar seu violão por noites a fio.

Era dia 29 de outubro de 1971. Luna estava ajoelhada no túmulo que dizia:

"Aqui jaz Eduardo Juan Santiago, morreu defendendo seus ideais e sua família, acima de tudo. 1937 ✝️ 1963
Angelita Diaz Santiago, que abrilhantou tantas mentes inquietas com histórias extraordinárias. ⭐ 1939 ✝️ 1963
Amados pelos pais, irmãos, amigos e familiares. "

Faziam hoje exatos sete anos que seu pai fora assassinado com uma maldição imperdoável. Sete anos que o corpo da mãe havia sido desconfigurado pelo lobisomem mais malvado que Luna ouvira falar. Sete anos que seu tio convivia com uma maldição de sangue e sete anos que ele a criava como sua filha, mesmo que com a pouca idade a mais que a sobrinha.

Ao lado do túmulo compartilhado pelos pais, estava o recém preenchido espaço para seu avô. O dono do pub mais antigo havia falecido de diabetes há poucos meses.

- Vamos Luna, a gente tem que chegar ao aeroporto antes de meio dia. - Guildo já havia se despedido do túmulo da irmã, do pai e do cunhado, agora estava relendo os avisos do passaporte. De San Sebastian até o aeroporto de Bilbau levava cerca de uma hora e meia de ônibus. Eram dez horas da manhã e o voo estava marcado para meio dia e meia.

Havia acordado mais cedo pra se despedir deles. Não gostava de deixar a sobrinha o ver chorando e agora que assumira definitivamente o papel de homem da pequena família composta por ele, Luna e a pequena Cocker Spaniel que estava com a família há três anos, sentia que precisava desabafar com seu pai e irmã falecidos.

Estava no inicio de seus vinte e quatro anos. Cultivava uma barba expeça porque pensava parecer mais maduro que a aparência jovem. Suas vestes não deixavam de tampar as inúmeras cicatrizes pelo corpo - resultado de noites preso em uma cela de prata nos porões de seu lar. A roupas não escondiam também os fortes braços do rapaz. Não estudou muito, parou antes mesmo de entrar no ensino médio para trabalhar e ajudar no sustento da casa, o pai já não aguentava cozinhar tanto em seu pequeno bar, que por ser tão antigo, já não atraia tantos clientes. Ajudou na construção de inúmeras casas do bairro vizinho ao seu e, apesar de ter mais calos que desejava, o trabalho garantia um bom salário e uma desculpa para os machucados.

Assistiu a pequena Luna esfregar o nariz vermelho e colocar os curtos cabelos lisos e tão negros quanto o do pai atrás da orelha.

- Você tá parecendo uma rena do papai noel, sabia? - o moreno riu enquanto entregava a coleira de Nala para a garota. Ela se limitou a suspirar e dar um soco no ombro forte do tio.

- Tem certeza que o nosso lar lá em Londres vai ser melhor? Eu duvido que vamos ter um pé de manga mais formoso que aqui.

- Sim! Vai ser pequeno, mas fica próximo daquele museu que você viu na tv! - Guildo encaixou uma mochila nas costas e segurou as duas malas entre as mãos. - Além do mais, fica bem mais próximo da estação que vai pra sua nova escola. Assim você pode voltar pra casa quando as coisas ficarem... você sabe... tristes.

- É! - a menção da nova escola fez os olhos da pequena Santiago brilharem, ela amava a ideia de que um dia poderia ser tão habilidosa quanto seu pai. - Qual casa você acha que eu vou, tio Gui? Você com certeza iria para a grifinória! É o homem mais valente que eu conheço.

- Você acha é? - ele ajeitou as malas debaixo dos braços, ainda restavam dez minutos de caminhada até a rodoviária. - Pelo que seu pai me dizia, eu iria para a lufa-lufa.

- Ah.. sim, você também seria um ótimo lufano! E a mamãe? Papai sempre disse que se ela fosse uma bruxa, iria para a corvinal, porque ele nunca conheceu ninguém tão inteligente e criativo como ela! Lembra do tio Calfin? Ele era da sonserina! Imagina que legal se eu fosse pra lá!

A menina tagarelava sem parar e ele se limitava a rir e fazer pequenos comentários.

- Eu acho que eu vou para a grifinória, como o papai! Eu sou corajosa, não sou?

- Bem, você saiu gritando como uma garotinha indefesa ontem a noite quando aquela baratinha de nada caiu na sua cama.

- EI! Era uma mega-barata! Tinha o tamanho da minha cabeça! E eu sou sim, corajosa! Durmo com um lobisomem todos os dias.

- Ah, é?! E esse lobisomem resolvesse TE COMEEEERRR! - Guildo largou as malas e pegou a menina no ar, fazendo cocegas e dando mordidas sem dentes no braço da mesma que já lacrimejava de tanto rir.

Pouco tempo depois eles estavam dentro do avião, com a cadelinha presa em uma caixa segura no bagageiro do avião, todos indo em direção ao novo lar da família.

Guildo observou a costa espanhola ficando para trás. Tantas memórias doloridas, tantas histórias pra contar. Observou a garotinha dormindo em seu colo. Seu bem mais precioso e única família. Guildo faria qualquer coisa para botar um sorriso no rosto corado da sobrinha. Respirou fundo e tentou relaxar os músculos. Lar. É onde estariam em poucos minutos.

Olá, bruxões! Tudo bem com vocês?
Essa é a primeira fic que me aventuro a postar aqui, com o incentivo da maravilhosa LetciaPereira338 ❤️ obrigadaaaa pelo apoio!
Espero que gostem!
A história original terá algumas alterações por conveniência desta.

Ran Before The Storm - Remus LupinOnde histórias criam vida. Descubra agora