capítulo 6

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                       YongSun P.O.V.s

   -não parece um bom lugar.-comentei para MoonByul assim que paramos em frente a uma construção caindo aos pedaços ao lado de um posto de gasolina aparentemente abandonado.-eu já vi filmes assim,ok? Parece apenas um lugar barato para passar a noite más no final,o dono desse hotel é um louco psicopata que trafica órgãos de garotas indefesas como nós duas!

   -Yong,relaxa ok? Vai ficar tudo bem.-a loira ao meu lado disse após rir baixo em seu habitual humor limitado. Como ela podia rir de tudo que eu acabei de falar?-e outra,não somos indefesas,sabe bem disso.-a mais alta revirou os olhos e pegou minha mão indo em passos firmes até o tal hotel.-fique atrás de mim,se vir algo estranho me avise imediatamente,porém seja discreta,não faça nenhum escândalo.

Mentalmente eu a imitei da forma mais irritante possível,mas não chegava aos pés de como ela falou originalmente. MoonByul sempre teve essa mania de proteção,me tratava como se eu fosse de vidro,era tão cuidadosa que chegava a me irritar. Lembro bem da vez que ela tentou me impedir de patinar pois não tinha as cotoveleitas,mesmo já estando com o capacete e as joelheiras. Acabamos por discutir e no final ela me pediu desculpas prometendo não fazer de novo,obviamente uma promessa sem fundamento.

Chegamos na "recepção" do hotel vendo que aquele lugar era ainda mais feio por dentro do que por fora. Uma mulher de medidas largas folheava uma revista enquanto comia um pacote de doritos,acho que ela comia muito daquilo pois sua pele tinha um tom alaranjado,como um salgadinho gigante.

   -com licença senhora?-MoonByul chamou sua atenção,a mulher apenas levantou os olhos da revista olhando com tédio para a loira ao meu lado,quis rir com sua cara.-será que...tem dois quartos livres? Precisamos de um lugar para passar a noite.-que pergunta idiota! Não tinha ninguém naquele fim de mundo,óbvio que tinham quartos livres!

   -não me chame de senhora,provavelmente sou mais nova que você! Me chame de Sung.-a mulher,aparentemente recepcionista,deixou a revista sobre sua bancada e jogou o pacote vazio do salgadinho no lixo.-temos apenas um quarto livre,os outros estão interditados. Vocês sabem...chuva,infiltração,ratos,batatas,cobras.

   -cobras?!-Meu tom surpreso e assustado chamou a atenção da recepcionista para mim,ela pareceu perceber minha presença apenas naquele momento.-desculpe? Está falando sério?

   -pareço estar brincando?-seu tom rude me fez calar a boca na mesma hora.-podem passar a noite no quarto vago por 22689.84 wons as duas. Terão direito ao jantar e dez minutos de água quente no chuveiro,a TV não funciona e o telefone fica sem linha quando chove. Bom,é isso ou ir para o outro hotel a quinze quilômetros daqui.-aquela mulher estava longe de ser receptiva.

MoonByul pagou a hospedagem em meio a reclamações baixas minhas em seu ouvido sobre a tal Sung estar nos extorquindo,um hotel daquele não valia nem 11,345 wons,quem dirá o dobro.
Fomos levadas aos nossos aposentos luxuosos e a cena com qual nos deparamos era...indescritível. o quarto não tinha nada mais do que uma cama de casal antiga,uma cômoda caindo aos pedaços,uma TV de tubo sobre uma pequena mesa de madeira e uma portinha que provavelmente dava acesso ao banheiro,só isso e nada mais.

   -uau,o que é um hotel cinco estrelas em Paris perto disso aqui,não é mesmo?-ironizei deixando minha pequena mala vermelha de mão sobre a cama que estava forrada com um fino lençol quase se rasgando.-que sorte nós tivemos! Eba!-joguei os braços para cima em irritação,já previa minha dor de cabeça.

   -para de reclamar. Pelo menos temos onde dormir,tomar banho e comer.-MoonByul fez o mesmo que eu colocando a pequena mala na cama abrindo o compartimento para tirar um pijama azul de seda dali juntamente com meias da mesma cor e um par de roupas íntimas brancas.-ou você preferia dormir no carro desconfortável e ficar com fome até Deus sabe lá quando.-ela não parecia tão irritada com a situação,santa paciência de Moon Byul-Yi.

   -que seja!-resolvi encerrar o assunto,não queria prolongar aquilo ou acabariamos discutindo novamente e eu com certeza tentaria bota-la para dormir na chuva. Falando nisso,a tempestade só parecia aumentar,pobre Jeep.

Byul me deixou tomar banho primeiro,algo que eu faria mesmo sem sua permissão,afinal,eu não podia ficar doente,tinha um desfile para depois de amanhã.
Foram cinco minutos de tortura naquele banheiro minúsculo,por sorte tinha meus próprios produtos de higiene e não precisei usar aquele sabonete cheio de cabelos que estava sobre o vaso sanitário. Tudo ali parecia nojento e propenso a causar doenças graves,tentei não encostar em nada além da água precária que caia do chuveiro.
Voltei para o quarto de toalha e me surpreendi ao ver que MoonByul estava olhando minhas coisas.

   -o que está fazendo?!-gralhei chamando sua atenção,mas ao contrário do que pensei,ela não se assustou,apenas virou o olhar para mim se mostrando confusa enquanto tinha algo em suas mãos.

   -ainda tem esse colar?-seu tom saiu baixo,quase camuflado pela chuva forte que atingia a região.-Yong,te dei isso quando fizemos um ano de namoro...-e aquelas palavras foram o suficiente para fazer meu coração começar a palpitar tão rapidamente que podia quase ouvi-lo.

A peça se tratava de uma bijouteria simples que fazia par com um outro colar,esse que costumava ser de MoonByul. Quando juntas,as peças formavam duas mãos com os mindinhos entrelaçados.

"É uma promessa de mindinho,iremos ficar para sempre juntas!"

Foi o que ela disse naquela tarde em frente ao lago perto da sua casa. Lembro muito bem de como sorrimos envergonhadas antes de nos abraçar e trocar selinhos carinhosos como as crianças inocentes que éramos.
Não consegui me desfazer do colar,além de uma foto e da tatuagem,aquilo era minha única lembrança dela,do que vivemos.

   -eu...-pensei numa resposta em que eu não parecesse patética más minha única saída foi ser babaca.-é para me lembrar de que até as promessas mais bonitas são quebradas facilmente.-boa YongSun! Parece uma frase de auto ajuda do Facebook,seu destino é ser patética!

Passei por MoonByul tão rápido quanto tomei o colar de suas mãos o guardando de volta na caixinha em que costumava o deixar. Sempre o carregava comigo,onde quer que eu fosse tinha que ter aquilo,de certa forma servia como amuleto.
Vesti as roupas íntimas e a camisola verde fora do olhar da mulher,ela ainda parecia perdida em seus pensamentos,pelo menos não insistiu no assunto,seria pior para nós duas.

Ela não demorou no banho,porém estava mais quieta,suas expressões não mudavam muito,ficavam apenas variando entre estar confusa ou pensativa.
Dormir na mesma cama que ela não parecia algo tão horrível,levando em conta que não tínhamos outra opção,mas no momento em que percebi que depois de oito anos estávamos dividindo o mesmo colchão,um pequeno desespero me atingiu.

   -não precisa ficar nervosa,não vou encostar em você.-ela finalmente se pronunciou enquanto ajeitava os cobertores em seu corpo. Diante ao meu olhar de confusão ela apenas soltou uma risada baixo,quase inaudível.-você ainda leva os dedos até os lábios quando fica tensa,e enrola os fios da sua nunca com o indicador.

Ela reparou menos naquilo? Ou pior...se lembrava? Aquela não parecia a antiga MoonByul,mas com certeza era uma cópia muito bem feita. É estranho pensar assim mas nada naquela mulher era normal.

Wonder | MoonSunOnde histórias criam vida. Descubra agora