1.9 - Amelia

368 23 3
                                    


Assim que chego a sala dos médicos, após sair de uma cirurgia de três horas, vejo que Maggie, Jo, April e Tom estão ocupando a sala. Maggie está sentada na mesa com April, enquanto comentam sobre algum paciente. Tom está no telefone próximo a cafeteira e acena com a mão assim que me vê entrando na sala. Jo está sentada no largo sofá e aproveito para me deitar ao seu lado.

"Estou morta." Me jogo no sofá, cobrindo meus olhos com o braço. Eu e Link ficamos acordados até tarde e a cirurgia não foi nada fácil. Eu só queria algumas horas de sono.

"Estava de plantão?" Maggie questiona, confusa por me ver ali.

"Não, mas precisei vir mais cedo por conta de uma complicação com minha paciente de ontem."

"Então o dia mal começou." April diz com êxtase. "Vamos lá, se anima!"

"Não tive uma boa noite de sono, preciso de, no mínimo, um enorme copo de café." Me levanto com dificuldade e vejo Tom logo a minha frente com um copo de café. Como ele ainda está ao telefone, apenas sorrio e ele pisca a mim.

"Ei." Jo sussurra assim que April e Maggie se concentram novamente em sua conversa. Ela se aproxima e então, continua. "Você está com uma leve marquinha no pescoço."

"O que? Onde?"

"Bem aqui." Ela aponta e coloco a mão de imediato. "Relaxa, acho que dá pra disfarçar que é só um hematoma bobo."

Jo ri, por já imaginar o por que de eu estar daquele jeito e quem provocou aquilo. Não quero que ninguém descubra sobre Link então tento esconder a marca com meu cabelo. Jo ri mais ainda da situação e a acompanho.

"Calada, Karev." Brinco e ela levanta as mãos em defesa.

"Ei, Jo." April se levanta. "Precisamos encontrar com a decoradora daqui 10 minutos, você está livre né? Se não estiver, dê um jeito."

April se retira da sala e Jo vai logo atrás, animada. Maggie se senta ao meu lado e sorri.

"Você está bem?"

"Sim, essa semana está sendo mais fácil." Olho para ela, que coloca uma de suas mãos em meu ombro. "Eu vou conseguir de novo, estou me esforçando."

"Claro que vai! Você é forte e nem mesmo ele vai tirar isso de você." Sorrio para ela e a abraço. "Você está com um cheiro péssimo, como deixaram que entrasse em cirurgia assim?"

"Vai se ferrar." A empurro pra longe e rimos. Aproveito que tenho algumas horas livres para tomar um banho e tentar descansar um pouco.


...


"Boa noite, Dra. Shepherd." Link está encostado em seu carro assim que chego ao estacionamento.

"Espero que você saiba que só aceitei sua carona por que não estou com meu carro hoje." Ele se aproxima de mim, ignorando o que acabei de falar, e me puxa para um beijo.

"Ei." Digo, me afastando. "Ninguém sabe que estamos saindo."

"Mas ninguém aqui me conhece, que diferença faz?"

"Só não quero que ninguém saiba que estou saindo com alguém." Ele da de ombros e abre a porta do carro para mim. "Que cavalheiro." Brinco.

Durante o percurso até seu apartamento, Link cantou as músicas velhas que tocaram no rádio no último volume, o que me fez rir na maior parte do tempo, mas também fiquei admirada com sua voz. Momentos assim, por mais simples que sejam, me fazem esquecer que a vida real, cheia de traumas e medos, existe. Estou começando a gostar desses momentos, como se estivéssemos numa bolha, onde só há nós dois e nenhum tipo de problema.  

"O que você quer comer?" Link pergunta assim que entramos em seu apartamento.

"Estou tão cansada que qualquer coisa seria ótimo agora."

"'Qualquer coisa' não existe para um chef de cozinha." Ele se gaba.

"Ah, me perdoe, chef de cozinha." Ele ri do meu deboche. "Me surpreenda, então."

"Ótima escolha, senhorita." Ele sorri e se vira para pegar os alimentos. "Você sabe onde encontrar minhas camisas, caso queira tomar um banho e se trocar." Sorrio involuntariamente assim que ele termina de falar e sigo para seu quarto, seguindo o conselho.

Volto para a sala após tomar um relaxante banho que estava desejando o dia todo. Link está sentado no sofá escrevendo em alguns papéis, enquanto espera o jantar ficar pronto. Me aproximo dele e vejo que tem um violão no canto do espaço.

"Então você compõe?" Ele se assusta com minha voz e me sento no chão a sua frente.

"Só nas horas vagas." Ele brinca.

"Me mostra."

"Não, você não vai querer ouvir isso."

"Vou, sim."

"Não é nada demais."

"Por favor."

"Amelia..."

"Estou implorando." Faço biquinho. "Estou usando sua camisa e estou implorando, eu sei que isso é seu ponto fraco."

"Não se acostume com isso." Ele pega no violão e começa a tocar.

Link está totalmente concentrado em seu violão, enquanto toca de olhos fechados. Sua voz, suave e calma, toma conta de todo o apartamento. Me apoio na mesa de centro que nos separa, apenas o admirando, sorrindo a cada palavra que sai de sua boca em forma de canção. Ele toca tão bem, e com a junção de sua voz, é o som perfeito. Ele abre os olhos assim que termina o pequeno trecho e lança um sorriso tímido a mim, algo que achei que nunca veria vindo dele.

"Você escreveu essa música pra ela?" Me arrependo depois de ter feito a pergunta, mas ele parece estar confortável.

"Não, não foi." Ele sorri.

"Você é ótimo nisso, Link. Não é uma indireta, mas eu passaria a noite inteira te ouvindo cantar."

"Posso pensar no seu caso." Me levanto, me aproximando dele e nossas bocas se tocam. 

Nothin' like youOnde histórias criam vida. Descubra agora