2.4 - Amelia

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Link sai do banheiro e se senta na cama ao meu lado. Estou tão tensa e nervosa e sei que estou deixando isso claro quando ele passa a me encarar, preocupado.

"Tudo bem, eu esperei a noite toda. O que está acontecendo?"

"Link..."

"Amy, por favor. Tem alguma coisa acontecendo e algo me diz que é bem sério. É por causa da entrevista?"

"O que? Link, meu deus, não! Você não fez nada, não é isso." Pego em sua mão e me sinto culpada por ter feito ele pensar que era o culpado a noite toda.

"O que foi então?"

"É que... São tantas coisas." Ele parece confuso. "Eu não sei por onde começar a falar."

"Tudo bem, temos a noite toda." Ele sorri.

"Nós dois trabalhamos amanhã, é seu primeiro dia. Eu não vou ser a culpada de você aparecer lá igual a um zumbi."

"Vai ser por um bom motivo." Ele diz, beijando as costas de minha mão.

Enquanto o olho, antes de começar a falar, sinto vontade de chorar, não pelo que estou prestes a contar, e sim pelos sentimentos que tenho por ele. Tentei mentir a mim mesma, mas depois da minha conversa com Alex, acho que finalmente comecei a aceitar o que sinto por Link, mas só de pensar que eu posso estragar tudo com essa conversa, meu coração se aperta. Respiro fundo e, então, começo a falar.

"A cinco anos atrás, eu me casei. A gente se conheceu em um bar, ambos bêbados. Nos dávamos super bem por que gostávamos das mesmas coisas, drogas e bebidas, então a gente se casou." Rio pensando na merda que fiz com minha vida tomando essa decisão. "Mas o que aconteceu é que a partir do momento que eu decidi que ia tentar ficar sóbria, ele surtou. Ele chegava bêbado em casa e quebrava as coisas, gritava comigo, me batia... Mas eu era tão idiota que achava que era a culpada por ele estar daquele jeito. Então eu aceitava, me desculpava, quebrei meu tratamento várias e várias vezes por causa dele. Owen chegava em casa, me oferecia drogas, eu aceitava. Meu irmão cansou de ir até lá me ajudar e me alertar sobre ele, mas a droga sempre falou por mim, eu achava que todos estavam contra nossa relação e quase acabei com todas as minhas amizades e minha família por causa daquele casamento, na verdade, eu nem sei como ainda tenho família depois de tudo isso." Link está totalmente concentrado em mim enquanto segura minha mão como se fosse um pequeno vidro frágil. "Depois que meu irmão morreu, eu fiquei sem chão. Maggie e Alex sempre me ajudaram, e eu serei eternamente grata a eles, mas eles não estavam aqui desde o começo. Derek foi quem sempre cuidou de mim, sempre, desde que eu nasci. Ele foi o único que esteve do meu lado nos meus piores momentos. Ele me tirou de cada problema, me fez encontrar o caminho certo diversas vezes e, mesmo que eu errasse mais uma vez, que eu me drogasse mais uma vez, lá estava ele, com a mesma paciência de sempre, me ajudando. Quando ele morreu, eu queria morrer." Paro de falar e Link aperta minha mão.

"Não precisa falar sobre isso. Eu sei o quão o difícil é pra você."

"Tudo bem. Depois da morte dele, Owen só ficou mais agressivo. Ele nem sequer olhava pra mim, mas eu tinha tanto medo dele, que não tinha coragem de pedir o divórcio. Eu quase perdi o emprego, sei lá, umas três vezes por ter aparecido no hospital bêbada ou drogada. Eu não fazia de propósito, eu juro. As drogas aliviavam a dor de conviver com ele, a dor de ter que transar com um cara que eu não conseguia nem olhar nos olhos. E quando eu engravidei, eu precisei me manter sóbria pelo bebê." Respiro fundo antes de continuar. "Eu pensei em abortar, pensei em me drogar, pensei em mil e uma formas de acabar com aquilo. Eu não queria trazer uma criança para aquele mundo, um mundo onde Owen estaria, mas ele era louco por um filho, e eu não ia conseguir esconder por muito tempo. Quando ele descobriu, pensei que fosse finalmente mudar. Owen começou a parar de beber, ele disse que ia se tornar um pai exemplar e eu realmente pensei que aquilo fosse verdade e quando fiz meu primeiro ultrassom, quando ouvi o coraçãozinho bater, eu agradeci por ter decidido continuar com a gravidez. Mas ele chegou em casa um dia, muito, muito bêbado. Owen tinha me traído, tinha todas as provas ao redor de seu corpo e, por mais que eu estivesse chateada, e daí? Preferia que ele fizesse isso com outra do que comigo, mas eu estava com o filho dele, sabe? Eu só tentei me defender..." Viro para o outro lado para Link não me ver chorando, mas ele me puxa para si de novo.

"Amy, se você não estiver bem..."

"Não, estou bem. Eu... Eu só preciso respirar."

"Tudo bem, eu estou aqui. Estou aqui com você."

"Ele me bateu tanto aquela noite, me xingou de tantas coisas, que eu só lembro de apagar no chão do quarto. Quando acordei, a primeira pessoa que vi foi Alex. Ele estava chorando, segurando minha mão em uma sala de hospital. Lembro de como ele estava aterrorizado, pois foi o mesmo olhar de Derek quando tive minha primeira overdose. Owen matou o meu bebê com sua agressividade, o meu Christopher... Enfim, o resto você sabe. Depois disso eu sumi da vida dele. Mandei os papéis do divórcio e achei que finalmente estava livre para seguir em frente. Mas ele voltou, e eu estou com medo do que é capaz. Ele sabe de nós dois e, Link, eu não posso deixar que ele te machuque por minha causa. Você não merece estar no meio disso e eu vou entender se..."

"Para." Ele me interrompe.

"Link, é sério!" Me levanto e começo a andar pelo quarto, tentando não surtar. "Eu não sou boa com sentimentos, muito menos com relacionamentos. Não sei como isso aqui aconteceu, como nós acontecemos. Você me conheceu na minha pior fase e mesmo assim, você está aqui agora. Eu acho você louco e não consigo entender por que você ainda não desistiu de mim, mas estou tão feliz com isso. Que droga, Link! Eu tentei tanto fugir de você, tentei me distanciar enquanto ainda podia, mas eu não consegui por que você simplesmente chegou e me consertou. Você juntou cada pedacinho quebrado meu e, droga! Eu não sou boa com isso. Eu destruo tudo, mas de algum jeito, ainda não destrui a gente. Você continua aqui e parecer gostar. Eu tinha fé, quem diria, eu ter fé?" Começo a rir e me paro na frente na cama. "Eu tinha fé que nós dois pudéssemos nos tornar algo sério, mas agora eu arruinei tudo pois te contei toda a parte ruim da minha vida e tem o Owen..."

"Amelia." Link se levanta.

"Não, Link."

"Amelia, me escuta!" Ele se altera e eu me calo. "Eu não dou a mínima para o seu passado, para as drogas ou para o Owen."

"Mas eu dou!"

"Me deixa terminar, por favor." Ele pede e eu obedeço. "Eu estou apaixonado por você, tudo bem? É, estou apaixonado por você. Eu sei que estamos indo rápido demais, mas nós sabemos que o que estamos sentindo é real, então por que continuar negando? Não tem um dia sequer que eu não queria estar com você, dormir com você ao meu lado, sentir seu cheirinho ao acordar..." Ele se aproxima de mim e só me dou conta de que estou chorando quando Link passa seu indicador em minha bochecha, limpando a lágrima. "Eu não vou deixar nada acabar com isso, nem mesmo seu ex marido, te prometo. Você pode não acreditar, mas você também me consertou. Eu tinha muitas peças quebradas por conta do que aconteceu no meu antigo emprego e você colocou tudo no lugar. Olha ai, amanhã eu serei um cirurgião de novo e se existe alguém responsável por isso, esse alguém é você." Ele me segura pela cintura, sabendo que é meu ponto fraco e deixa nossos rostos quase colados. "Eu não vou a lugar nenhum sem você, e se ele aparecer, vai ter que lidar comigo."
Assim que Link termina de falar, o beijo desesperadamente.

Nothin' like youOnde histórias criam vida. Descubra agora