21.

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Pov Sara

Suspirei assim que comecei a ouvir as vozes zangadas em redor da sala, já sabia que esta seria a reação. A minha mãe chorava desconsolada no ombro do meu pai e eu queria reconforta-la, mas nada me saia. Não sabia o que lhe dizer. Ou a ninguém.

Eu sempre disse que a ignorância é um benção.

"Como assim?" Jace perguntou-me logo.

"Explica lá isso, porque nem pensar!" Liam falou já estando à minha frente. Zayn e Cody também se levantavam dos lugares para virem na minha direção. Até Kate vinha com os olhos arregalados com a informação.

O meu grupo continuava nas minhas costas sem dar um comentário que fosse e era melhor assim. Saber disto muda tudo. Um de nós seria sacrificado. Se corresse bem.

"Sara." Liam chamou-me agarrando-me nos braços. Afastei-o na hora e acenei que não. Não queria que me tocassem, não queria que me abraçassem, não queria que me amassem. Queria apenas que isto acabasse.

"Depois do livro nos absorver, vai haver um que fica com os poderes de todos. Essa pessoa terá de vencer o feiticeiro para os outros viverem e o livro ser destruído. Se não correr bem morremos os quatro."

"Não podemos permitir isso. Têm de haver outra maneira." Zayn falou.

"Não sei se há." Falei encolhendo os ombros. Senti a minha voz ficar mais apática que alguma vez teve. Era mais real quando todos sabiam da informação.

"E que acontece depois?" Kate perguntou-me.

"Aqueles que tiveram sobre a sua influência são libertados. E os outros três portadores sobrevivem sem poderes presumo eu."

"Vamos ficar sem eles?" Rui perguntou, finalmente após um período de silêncio. Virei-me para trás e cruzei o olhar com ele.

"Presumo que sim. Uma vez destruído o livro não deve haver razão para eles continuarem."

"Um de nós.." Mariça falou olhando-me também. "Podemos escolher quem?"

"Mariça!" O tio Mark exaltou-se. "Não vão escolher ninguém porque não vai acontecer.

O olhar dela não desviou do meu ignorando o que o pai dela tinha dito, ela como eu já tinha percebido que não havia outra maneira ou jeito. E teria de ser assim, quer nos gostássemos, quer não.

"Não. Não há maneira de escolher." Disse. "Não sei se é por ordem, ou por escolha de poder."

"Então podemos presumir que vou ser eu." Mariça disse.

"Sim." Disse com o coração pesado. Por muito que quisesse tomar o lugar dela, se fosse por escolha de poderes fazia sentido ser o poder do escolhido o mesmo que o aprisionado.

"Muito bem." Ela disse simples.

"NEM PENSAR!" Jace falou zangado. "OUVIRAM NEM PENSAR!"

"ACHAS QUE HÁ ESCOLHA?" Angie berrou irritada com os berros de todos. "Já é difícil sozinho, por favor não ajudem."

"Não vamos deixar isto acontecer!" Cristina disse. "De maneira nenhuma."

"Não encontramos mais nada." O meu pai falou ainda com lágrimas nos olhos.

"Por favor calem-se!" Angie pediu baixinho.

Olhei-a preocupada, ela tinha as mãos na cabeça e abanava-a de olhos fechados. Rui também a olhava com tristeza. O barulho de discussão só aumentava o tom cada vez mais, e ninguém estava de acordo. Estavam todos apavorados com as notícias.

"Parem!" Angie pediu novamente.

Comecei a sentir e notei que o Rui também sentiu, a sensação das ondas mágicas a subirem, olhei na direção da Angie e vi o fluxo verde que a rodeava como se tivesse a latejar.

"Angie.." Disse com medo.

"EU DISSE PARA PARAREM!" Ela berrou e com isso libertou toda a energia em seu redor por toda a sala.

A onda de magia mandou a maioria ao chão menos o nosso grupo, eu protegi-me com um escudo de água que surgiu à minha frente no momento certo e Rui tinha protegido Mariça com o seu.

Todos na sala se calaram, chocados com a explosão, sem perceber o que se passava. Angie chorava compulsivamente e não estava a conseguir controlar-se.

"Angie." Rui chamou com cuidado.

"Não! Não quero que me toquem!" Rui recuou de imediato a sua mão. "Isto não pode ser assim!"

"Não devia." Concordei com lágrimas nos olhos.

"Mas poderá ter de ser." Mariça falou para a amiga que continuava a chorar.

Desfazendo o aperto do Rui, Mariça abraçou-se a Angie e apertou-a com força nos braços. Angie correspondeu e escondeu a cabeça no ombro da Mariça. A sala foi preenchida pelos seus soluços e choro. O Rui afagou-lhe as costas e acompanhou enquanto a Angie caia no chão de joelho ainda a chorar, Mariça desceu com ela abraçando-a sempre.

"Isto não é justo!" Jace rebentou em lágrimas juntando-se a uma enorme quantidade de pessoas no salão.

Olhei em volta sem reação possível, algumas pessoas ainda estavam no chão com o choque do poder da Angie, nunca vi a Angie perder o controlo assim, mas também nunca tivemos numa situação assim. Sentia a minha dor, o meu medo me corroer os pensamentos, nada era certo neste momento. Um de nós não ia sobreviver a esta aventura. Algo que sempre me meteu medo. Se tinha que ser alguém queria ser eu, pois não era capaz de maneira nenhuma de viver sem um deles. Um mundo sem um deles não é mundo.

Agarrei no peito com força, o peito prendia-me e impedia-me de respirar provavelmente derivado ao stress da situação toda. Sentia-me tão mal e precisava de estar em contato com o meu elemento agora. Sentia uma necessidade abismal e fora do normal de apenas estar a levar com ele.

Sai a correr do salão, ouvi ainda me chamarem mas ignorei. Continuei a correr pelos corredores do Instituto. O nosso Instituto. A nossa casa. Tudo o que passamos aqui, o que sofremos. Os momentos bons e maus, quando nos conhecemos.

Estendi a mão para a porta de entrada que estava à minha frente, a força da água no exterior empurrou a porta em conjunto com as minhas mãos assim que alcancei o ferro. Sai para o exterior onde chovia violentamente e fiquei parada no meio da estrada levando com a chuva em cima.

Fechei os olhos enquanto sentia a minha roupa ficar encharcada com o aumento da chuva, parecia que percebia o meu estado de espírito e o quão triste eu estava aumentando a intensidade da chuva. Não foi de admirar que no meu primeiro soluço ouvi um trovão a combinar e a intensidade aumentar enquanto caia de joelhos na lama da estrada de terra.

ParabataiOnde histórias criam vida. Descubra agora